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terça-feira, 31 de agosto de 2010

10 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 02 DE DEZEMBRO DE 2001

10 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 02 DE DEZEMBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


Meus Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil!, este início do Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam! Anno de 2001!), por diversas razões, merece ser exaltado. Estamos terminando, não sei se gloriosamente, o nosso Primeiro Anno do Século XXI e Primeiro Anno do Terceiro Milênio. Não obstante as Inúúúúúúmeras Guerras que, neste momento, assolam o Nosso Planeta Terra, apesar dos Desajustes Sociais nos Quatro Cantos do Mundo, sinto-me um ser privilegiado. Quomodo boa sagitariana, costumo oferecer crédito às sugestões dos Oragos Astrológicos e, por tal razão, penso que tive muita Sorte Benfazeja nesta minha existência terrena.

Pelo fato de ter nascido em meados do Século XX (graças a esta Apreciada Sorte!), pude viver uma parte de minha vida em um momento que sinalizou o Final de um Século Automatizado (também o Final de um Segundo Milênio praláde problemático!), no qual (apesar de todos os Problemas por enquanto Insolúveis) ocorreram inúmeras descobertas tecnológicas. Assim, pude assistir, quomodo privilegiadíssima espectadora, na expectativa fundada em supostos direitos femininos, probabilidades ou promessas, ao Início de um Novíssimo Milênio (o Terceiro) que marcará o Calendário da Terra. Agora, nesta segunda parte de minha vida (espero que seja loooooonga!), ainda presa a esses hipotéticos direitos, adquiridos por meios supostamente sobrenaturais, ainda terei tempo para apreciar as Inúmeras Maravilhas do Orbe e as Inúmeras Maravilhas Prometidas Para o Meu Brasil Varonil (prometidas desde o Século XVI), Maravilhas estas que estão e estarão ainda em processo de configuração em meu Futuro próximo (talvez, a partir de 1o de Janeiro de 2003, se Deus Nosso Senhor quiser!). Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês!, espero esse dia 1o de Janeiro de 2003 com muita ansiedade, pois desejo, sinceramente, que essas Maravilhas Anunciadas ocorram em um Tempo Recorde, para que possam beneficiar, principalmente, o Momento Histórico do Amanhã de Vocês.

De qualquer maneira este Mês de dezembro de 2001 merece ser exaltado, porque resistiu bravamente aos Conflitos Mundiais (guerrilhas em cada Cantinho do Mundo Rotundo) e aos Conflitos Políticos de Minha Nação Brasilesa (o Mês de Dezembro de 2001, aqui no Brasil Varonil, está passando as responsabilidades diárias para o Anno que vem) e permitiu-nos ― Homens e Mulheres e Crianças de Nossa Ágora sempre repleta de Esperanças em um Futuro Glorioso e Sem-Muro ― mais um Período Existencial: o estar vivendo
quomodo rezam os Preceitos do Único Deus dos Hebreus e Cristãos.

O Mês de Dezembro de 2001 merece ser exaltado, principalmente, porque, ainda, não aconteceu o terrivelmente esperado Fim do Mundo. Os Homens de meu Passado Histórico (o Passado Histórico desta minha época pertencerá também aos Habitantes do Futuro Sem-Muro) previram o Grande Momento da Exterminação Total da Humanidade para antes do Anno 2000 e, graças a essa Previsão, a Crédula Humanidade viu-se presa de Angustiante Expectativa. Mas, por enquanto, os Oragos Aziagos erraram, felizmente!

Outros motivos para que o Mês de Dezembro de 2001 seja exaltado: o Papa Karol, chamado também de João Paulo II, o Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana, continua vivíssimo e abençoará, não tenho a menor dúvida!, o Segundo Anno do Terceiro Milênio. O Papa Karol, se Deus for com ele!, ainda viajará muito pelo Mundo Rotundo, levando a Palavra de Cristo. Lembrem-se dele, aí no Futuro Sem-Muro, Meus Amigos e Amigas! O Papa Karol, depois de São Pedro (o Primeiro) e São João XXIII (deste Século XX), poderá ser considerado o Maior da Igreja Romana. Ele superou as pressões bélicas da Segunda Metade do Século XX, sobreviveu a um atentado terrorista e ainda perdoou o agressor. O Papa Karol (em nossa real memória, em nossa sobrenatural imaginação, em nossa lírica recordação, nos imaginários-em-aberto de nossos textos ficcionais) viverá eternamente.

Quero que saibam, também, que (neste Mês de Dezembro de 2001) a minha Cidade Maravilhosa, Megalópole do Mundo Rotundo, continua bella como sempre. É bem verdade que, aqui neste meu Brasil Varonil, neste Final de Anno de 2001, existem muitos e muuuitos e muuuuuuitos mendigos (incontáveis!) nas ruas e debaixo das pontes, nas Grandes Cidades, mas, neste Mês de Dezembro de 2001, já finalizando o Governo do FHC, algumas poucas Entidades Filantrópicas olharão por eles. Neste Mês de Dezembro de 2001, pelo menos!, os Deserdados da Sorte (milhões!) não passarão fome. Saibam que, apesar da exigência de economia de luz (uma terrível exigência neste Governo do Fernando), nossas Festas de Fim de Ano ― Natal e Ano Novo ― serão iluminadas e, pelo menos por duas noites, os Pobres Sem Tecto e Sem Pão estarão felizes.

Aqui, no Brasil Varonil, neste Dezembro de 2001, há muita movimentação para as Festanças de Fim de Anno. Todos já estão enfeitando suas casas e comprando os alimentos necessários para a celebração. Acenderemos nossas churrasqueiras ― os muito pobres e os pouco ricos irmanados ― e assaremos porcos, perus e galinhas em homenagem a mais um Anno de Vida na Terra. O Natal, também, será dignamente celebrado. No Dia 25 de Dezembro será comemorado o Nascimento de Jesus e, para que a comemoração se apresente completa, uns poucos muuuuuuito ricos já estão providenciando alimentos, roupas e calçados para os muuuuuuitos muuuuuuito pobres. Com toda certeza, uma quilométrica mesa de Natal será construída em uma rua tradicional da Cidade do Rio de Janeiro (pesquisem na Internet, por favor!, Meus Brasileses Amigos do Futuro Brasilês Iluminado!). Sobre a quilométrica mesa estarão dispostos deliciosos alimentos que serão oferecidos aos nossos Deserdados da Sorte Benfazeja. Os poucos Cidadãos mais afortunados (riquíssimos!), aqueles que contribuíram para a Grande Ceia de Natal dos Muuuuuuitos Muuuuuuito Pobres Carentes do Rio de Janeiro (os Pobres Sobviventes! Ou Subviventes! Escolham a palavra certa aí no Futuro!), nesse Próximo Dia de Natal de 2001, dormirão o sono dos justos. Esta cena, Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro!, se repetirá em todas as Regiões do Brasil Varonil e nos Países Pobres do Orbe Rotundo também. Ligando nossas televisões (Nós, os Sortudos da Sobrevivência!) ou, então, acessando a Máquina Internet, aquela que nos mostra todos os Acontecimentos do Mundo e da Galáxia Infinita no perpassar (escoar-se o tempo) de um segundo, assistiremos às Demonstrações de Bondade dos Poucos Privilegiados da Sorte (os muuuuuuito ricos!). A emoção nos dominará (dominará as Três Classes!) e estaremos Todos Felizes.

Mais para o Final de Dezembro do Anno de 2001, em homenagem às tradições religiosas que fazem parte de Nossas Vidas, com certeza!, a Bandeira da Paz Será Hasteada, temporariamente (imagino!). Até lá, terei tempo de relatar-lhes as Ocorrências. Aguardem!

Repleta de Esperança em Dias Melhores para o Futuro do Brasil Varonil, prometo-lhes um novo missivo para o dia 09/12/2001. Por ora, recebam o cordialíssimo abraço da esperançosa


ODISSÉIA MARIA, Filha de Antônio Aquileu Pelides e Jane (Joana) de Brises Martins D’Amorim.

domingo, 29 de agosto de 2010

9 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 18 DE NOVEMBRO DE 2001

9 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 18 DE NOVEMBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para que o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o Final do Século XX)


Inesquecíveis Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro! Hoje, 18 de Novembro de 2001, quase finalizando o Primeiro Anno do Terceiro Milênio, lembrei-me de informar-lhes algo muito importante. Eu e meus Contemporâneos vivemos ainda sob as Ordens do Patriarcalismo Imemorial. O
Mátrio Poder
, por enquanto, ainda não conseguiu o almejado e total sucesso em sua luta pela igualdade entre Homens e Mulheres. Conto-lhes isso, porque, até o momento, sempre direcionei minhas Cartinhas aos Homens do Futuro, aparentemente, excluindo as Mulheres. Quero que saibam o motivo: quando me refiro aos Homens do Futuro, estou, também, incluindo as Valerosas Mulheres do Tempo Vindouro. Ocorre que, neste meu tempo, neste 18 de Novembro de 2001, ao nos referirmos aos seres humanos ― Homens e Mulheres ―, de qualquer Era, enlaçamo-os em uma só Categoria Genética. Por exemplo: os Homens do Passado eram fortes e corajosos (em outras palavras: os Homens e as Mulheres do passado eram fortes e corajosos).

Neste dia 18 de Novembro de 2001 procurarei explicar-lhes, da melhor forma possível, o motivo de minhas elucubrações sobre o Assunto em questão. Dei-me conta, de repente, da possibilidade das Mulheres do Futuro se rebelarem contra mim, tachando-me de adepta inconteste do Poder Patriarcal. Desde o início da Semana venho cogitando o assunto desta minha cartinha. E se as mulheres forem as Supremas e Poderosas mandatárias em seu tempo futuro, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil? Quem lerá o meu missivo semanal, se elas se acharem desprestigiadas aqui nesta humilde Epístola semanal?

Por esta razão, depois das explicações necessárias, quero que as minhas Amigas do Amanhã saibam que, daqui para frente, todas as notícias de meu Agorá (esta Praça da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro) serão endereçadas aos Homens e Mulheres do Futuro. Infelizmente, não sou pitonisa, não adivinho nada!, e quero agradar aos Gregos e às Troianas que se encontram no Porvir (mesmo que esse Porvir
se localize no meu próprio Amanhã). Agora, depois de minhas sinceras desculpas às minhas Amigas do Futuro Brasileiro Sem-Muro, passarei a narrar-lhes as principais ocorrências da Semana que passou.

Meus Amigos do Futuro Brasilês (Homens e Mulheres), em uma outra Cartinha, falei-lhes que o meu Brasil Varonil é considerado o País do Futebol. Neste Anno de 2001, gostar de futebol faz parte de nossa realidade. Endeusar nossos jogadores, também. Com isto, esquecemos nossos hodiernos problemas sociais, nossas angústias existenciais, as Inúmeras Guerras que nos cercam.

Imaginem Vocês! Homens e Mulheres do Futuro!, neste meu Momento Histórico, neste Anno de 2001, (Nós, os Brasileses) fingimos que não há Guerra no Brasil Varonil. Aqui, neste Mês de Novembro de 2001, para a Maior Parte do Povo Brasilês existe uma Dolorosa Guerra: há a batalha diária pela sobvivência (ou subvivência, se Vocês preferirem!). Há um percentual pequeno que vive dignamente (são os muuuuuuito ricos); há um outro percentual, também pequeno, que sobrevive (são os oriundos da Antiga Classe Média); e há, em graaaaaande quantidade, os sobviventes
(são os que sobvivem ou subvivem em meio a mais Horrenda Miséria).

Não saberei narrar-lhes como sobvivem esses Meus Irmãos Brasileses porque (graças a Deus! Que é Brasilês e está sempre olhando pelos Pobres do Brasil!) pertenço à Classe Número Dois: luto quomodo uma condenada, toooooodos os dias!, para sobreviver neste Anno de 2001, neste Meu Mundo de Incertezas Constantes. Mas, graças a Deus!, ainda posso escrever Cartinhas para os Meus Brasileses Amigos e Amigas do Futuro. A Minha Mente (graças a Deus!) continua sã. Ainda posso comprar alimentos, algumas roupas, calçados e, melhor ainda, não tenho dívidas (faço uma economia incrível para não ter dívidas!). Quando não puder mais trabalhar (para sobreviver
depois que a Extrema Velhice chegar), irei para o Maravilhoso Asilo de Velhos. Quando esse dia sem-guia chegar, conhecerei (oh! Deus! espero que não!) a Atual Classe Número Três deste 2001.

Meus Amigos e Amigas, neste Anno Aziago de 2001, rogo a Deus, sempre, que não me deixe conhecer a Classe Existencial Número Três. Vou batalhar muuuuuuito, acreditem em mim!, para terminar os meus dias aqui na Terra Rotunda com um certo conforto.

Entretanto, Amigos e Amigas do Futuro!, aqui no Brasil Varonil e, principalmente, neste Anno de 2001, gostamos de Futebol (um jogo incrível!). Só para Vocês terem uma idéia, estamos eufóricos porque o Brasil Varonil se classificou para a Copa do Mundo de 2002. Vai começar tudo de novo. Vamos esquecer nossos atuais insolúveis problemas. Vamos torcer pela vitória de nossa Seleção.

Agora, para Vocês não se esquecerem deste Passado Anno de 2001, envio-lhes notícias do Planeta Terra (repetindo sempre, neste Anno da Graça de 2001-11-18): as Guerras, Meus Amigos e Amigas, infelizmente, continuam. Existe prostituição infantil em cada cantinho do Mundo Global. Há inúmeras pobres crianças abandonadas, em muitos Países do Terceiro Mundo (principalmente aqui no meu Brasil Varonil, por enquanto, ainda, neste 2001 um País de Terceiro Mundo), revirando lixeiras, buscando alimento, roupas velhas, calçados velhos, no meio do lixo. Os Restaurantes do Mundo jogam as sobras de comida no lixo (e não oferecem as sobras aos pobres). Os infectos ratos ― propagadores de doenças ― proliferam nos esgotos mal cuidados de minha Cidade Maravilhosa neste Anno de 2001. As infectas baratas também. Os caríssimos cachorros das elegantes Madames (neste 2001) fazem cocô nas calçadas do Rio de Janeiro, Megalópole do Brasil Varonil. Os rios do Mundo estão poluídos. O ar ― purificador ― está poluído. As florestas nativas estão desaparecendo. Neste 2001 a corrupção política continua. Uma doença mortal ― chamada Aids ― também. Os impostos sociais estão cada vez mais altos. O dólar ― o dinheiro do mundo americano do norte ― está altíssimo. A passagem do ônibus ― transporte de pobre ― aumentou no Rio de Janeiro neste Mês de Novembro do Anno de 2001. Os subnutridos da sobvivência irão morrer de fome (todos eles): o salário mensal não dará para comprar alimentos nos Hiper Mercados. Et cœtera. Et cœtera. Etc. Etc.
Então, meus Amigos do Futuro Brasilês!, acreditem!, neste Anno de 2001, só porque somos Brasileiros, continuamos vivendo quomodo Deus quer!

Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro, estou aqui, neste incomum dia 18 de Novembro de 2001, a escrever-lhes esta Cartinha, esperando que Vocês a recebam aí no Futuro (só para que possam avaliar o Histórico Passado de 2001 do Brasil Varonil) e que recebam também o meu Fervoroso Carinho Transtemporal!


ODISSÉIA MARIA, conhecida também por Circe Irinéia, filha de Antônio Aquileu Pelides e Jane Briseides, neta de José Peléias per lado paterno, e de Emiliano de Brises per lado materno, todos descendentes de Imbatíveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma Região Insólita Paradisíaca Sensacional localizada na parte Leste do Brasil Varonil.

sábado, 28 de agosto de 2010

8 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 11 DE NOVEMBRO DE 2001

8 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 11 DE NOVEMBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o Final do Século XX)


Ao iniciar esta minha cartinha, com as notícias de hoje, Dia 11 de Novembro de 2001, desejo que esta os encontre repletos de saúde e riquezas fabulosas. Que o Futuro-Sem-Muro aí de Vocês seja um lugar de paz, tranquilidade e harmonia, incluindo a permanente abundância de alegrias espontâneas e felicidades autênticas.

As notícias de meu tempo não são boas. A semana transcorreu quomodo o já esperado. Nós Brasileses, neste Mês de Novembro do Anno Inicial do Terceiro Milênio (2001), não estamos guerreando, mas as Guerras Insolúveis de Outros Povos do Mundo nos envolvem inexoravelmente. A Incrível Máquina Internet nos mostra todos os Acontecimentos do Globo Terrestre ― todas as guerrilhas que acontecem nas diversas regiões de nosso Planeta ― no mesmíssimo instante do ocorrido. Ontem mesmo (10 de Novembro de 2001) caiu um helicóptero na África (pesquisem!), em uma localidade da África, e a Humanidade toda recebeu a notícia uns segundinhos depois, inclusive [Nós] os Brasileses, habitantes de uma Região Paradisíaca, Bela e Agradável, Incrustada no Espaço de Fogo do Orbe Guerreiro.

É bem verdade que o Nosso Paraíso não se parece nem um pouco com o Paraíso Celestial das Profecias Religiosas, aquelas inúmeras profecias que acompanharam a humanidade, desde o Princípio do Mundo até este meu Insólito Momento. Muitas Manchas Negras e Nuvens Escuras poluem a Nossa Atmosfera, que deveria ser, sem nenhuma dúvida, de uma Pureza Celestial, já que nos consideramos os Privilegiados de Deus. Saibam Vocês, Meus Amigos do Futuro do Brasil Varonil, que a frase mais propalada aqui no Meu País, neste Meu Tempo de Incertezas, é esta: Deus é brasilês! Realmente, somos um Povo Feliz. Não há inflação declarada (assim afirmam os economistas do Governo Brasilês de 2001); a economia se mantém estabilizada (assim afirmam nossas autoridades competentes do Governo Brasilês de 2001); uma Parte do Povo se alimenta bem (Uma Pequena Parte, bem entendido!) e se veste dignamente (Uma Mínima Parte, bem entendido!); os Homens Brasileses são vigorosos e as Mulheres Belas saem nas Capas das Revistas Culturalmente Conceituadas.

É bem verdade que, Neste Final de 2001, muuuuuuitos (milhõõõõõões!) Passam Fome nas Regiões Atrasadas de Nosso Vastíssimo Território Brasilês (pesquisem! A Internet está aí para Vocês pesquisarem!), nas regiões de seca inclemente, mas, um dia, os Beneficiados da Sorte olharão por eles. De qualquer maneira, que seja feita a vontade de Deus! Infelizmente, neste Agorá, nesta nossa Praça do Rio de Janeiro, onde, segundo o deífico Poeta Chico Buarque, desde eras imemoriais passaram, passam e, por certo!, ainda passarão festivas bandas, cantando coisas de amor, neste minuto-mito de nossa realidade, não há quomodo pretender perfeição celestial em nosso Paraíso.

Neste Novembro do Anno de 2001, no Brasil Varonil, há muitos desempregados (pesquisem! por favor!), Heróicos Brasileses que vivem em condições de Extrema Miséria (Pesquisem, por favor! Olhar o Passado no Retrovisor não é pecado!).

Mas, Deus é brasilês e, de vez em quando, acontece o inesperado: alguns, entre muitos, enviam cartinhas dolorosas aos animadores de programas de televisão, revelando seus infortúnios, e são sorteados, e depois vão aos programas e ganham cestas de alimentação por um anno, casa mobiliada, automóvel, plano de saúde por um anno, assistência odontológica por um anno, vestuário completo (comprado nas mais famosas lojas dos grandes Shoppings de nossas mais importantes urbes). Acreditem! Por aqui, há umas poucas pessoas riquíssimas e, às vezes, seus corações se enchem de compaixão por uns poucos mais pobres! São milhares e milhares de Pobres Brasileses, no entanto, somente uns poucos são agraciados pela Sorte Benfazeja. Os que foram sorteados na Roleta da Sorte! No esperado dia de glória, para os incríveis assinalados da Boa Sorte, a comoção é geral. A Grande Sorte sempre comparece nas Tevês aos domingos, buscando a aceitação dos telespectadores. Hoje, por exemplo, à tarde, com os olhos marejados, estarei assistindo, pela televisão, confortavelmente instalada em minha macia poltrona de cor dourada (apesar do minguado salário de sofressora), os programas que se esmeram em proporcionar a estes desvalidos um pouco de conforto vital, mesmo que seja instantâneo. Quero deixar claro, aos meus Amigos do Futuro, que não me coloco contra os programas televisivos que assim agem. Ao lado da disputa pela atenção do telespectador, existe uma grave revelação (uma importante denúncia), em outras palavras, esses programas conseguem mostrar nitidamente (para aqueles espectadores-eleitos, aqueles que sabem avaliar criticamente as mensagens subentendidas) o ponto ― que não seja irreversível ― de miséria e abandono que atinge a maior parte da população brasilesa neste final do Anno de 2001. Mas, não se impressionem, meus Amigos do Futuro Sem-Muro!, olhando para os lados, observando a realidade circundante, repensando o Mundo já Globalizado, aqui ainda é um Lugar Maravilhoso. Existe, por acá, o chamado jeitinho brasilês, e, assim, graças a esse jeitinho, vamos vivendo quomodo Deus quer.

Por ora, neste dia 11 de Novembro de 2001, sem mais notícias, despeço-me com um carinhoso e caloroso aperto de mão transtemporal.


ODISSÉIA MARIA, filha genuína de Antônio Aquileu e Jane Briseis, neta per lado paterno dos mitológicos José de Sousa Peleu e Antoniña de Tetis, e per lado materno dos inigualáveis Emiliano de Brises e Justiniana de Ogíges, descendentes — os meus dois troncos ancestrais — de imemoriais caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região mitológica localizada na parte Leste do Brasil Varonil.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

7 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 04 DE NOVEMBRO DE 2001

7 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 04 DE NOVEMBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

Meus Amigos do Futuro do Brasil Varonil, conforme o prometido eis-me aqui novamente. No momento exato em que começo esta minha cartinha, neste exatíssimo 04 de Novembro de 2001, na Cidade Cariocjônia do Rio de Janeiro, o minúsculo relógio digital de meu telefone celular marca vinte e uma hora e trinta minutos. Relógios digitais, telefones celulares, microondas [um forno (incrível invenção!) que cozinha os alimentos em questão de segundos], computador, et cœtera, etc, serão, no Futuro Sem-Muro aí de Vocês, aparelhos fora de moda, porque, certamente, Vocês, Brasileses estudados e inteligentes, já terão inventado objetos similares mais sofisticados, e, alguns de Vocês (os realmente interessados em conhecer o Passado do Brasil Varonil), buscando informações desta minha realidade temporal, deste 04 de Novembro de 2001, acharão muita graça de nossas invenções ultrapassadas.

Entretanto, neste exato momento (04 de Novembro de 2001), são vinte e duas horas e cinco minutos ― horário de Verão no Brasil Varonil ― e eu estou, aqui, a cogitar, selecionando os Acontecimentos do Dia, ansiosa por enviar-lhes notícias interessantes.

Diferente dos outros Domingos, hoje (04 de Novembro de 2001), o Sol hipercariocjônio não iluminou a Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro. Choveu o dia todo. É noite e ainda chove na minha Terra, ainda!, abençoada por Deus. Espero que chova bastante perto das grandes Usinas Hidroelétricas para que a luz volte a reinar em nosso cotidiano, o qual, no momento, infelizmente!, se encontra sem muitas perspectivas iluminadas.

Meus Amigos, como já lhes disse, em uma outra Cartinha, estamos vivendo uma situação de Economia de Luz. Desde o Mês de Junho de 2001, economizamos Luz Elétrica (para o benefício dos poucos muuuuuuito ricos), para que não ocorra o apagão, ou melhor, a falta de luz nos lares, a escuridão total. É bem verdade que a Megalópole Cariocjônia continua iluminada: os Prédios Públicos, os Letreiros Luminosos, as Ricas Mansões dos Bilhardários, os Belos Cumes de minha Polis Maravilhosa (repletos de Luzinhas Elétricas), e Muitos Outros Locais permanecem, continuamente, Iluminados.

Na verdade, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil!, neste Anno de 2001, apenas a classe pobre ― a antiga classe média ― foi obrigada a fazer economia (estamos esperando o dia em que aqui a Luz seja para todos!). Existe uma quota prevista para os inglórios assinalados do Destino (e eu, Sofressora Mulher do Brasil Varonil!, me encontro entre esses assinalados). A base da tal quota foi elaborada a partir do gasto de eletricidade ― de cada residência ― ocorrido no Mês de Junho de 2000 (atenção: eu informei-lhes corretamente a data: Mês de Junho de 2000). Por exemplo, se a quota foi pequena no tal mês, os ingloriosos assinalados do Destino só poderão gastar aquele percentual ― todos os meses ― até que o governo do FHC determine o fim da economia (para a solução dos problemas monetários dos poucos muito ricos do Brasil Varonil). Ocorre que os Privilegiados da Sorte deste Anno de 2001 ― haja Sorte! ― gastaram bastante eletricidade no tal mês de junho de 2000 e, já que Gastaram Muuuuuuita Luz, os Tais poderão usufruir a luz elétrica racionada sem grandes perdas; bastarão desligar alguns condicionadores de ar e tudo estará resolvido. Os inglórios pobres coitados do Brasil Varonil que se arranjem neste Anno de 2001 e façam economia!

Mas, Graças a Deus!, o tempo interstício está ameno e o calor abrasador ainda não fez a sua entrada triunfal no Rio de Janeiro. Só não sei o que faremos quando o Caloroso Sol Flamejante vier nos visitar. Como agraciá-lo com a nossa amável acolhida, se não recebermos, daqui a um mês (Mês de Dezembro de 2001), autorização para ligar nossos humildes ventiladores?

Oh! Meus Amados Brasileses do Futuro Sem-Muro! Estou aqui a me preocupar com a possibilidade de um apagão, enquanto milhares e milhares de Seres Humanos, inclusive e principalmente aqui no Brasil, neste Anno 2001 (pesquisem, por favor!), não têm o que comer. A Guerra continua no mundo. As doenças incuráveis continuam. Os deserdados da sorte estão morrendo à míngua. As infelizes crianças de algumas regiões do Oriente Médio vão sendo treinadas para a Guerra e já manejam armas mortíferas (pesquisem, por favor!). As crianças da região de conflito do Oriente Médio não receberam permissão para sonhar com o Futuro Sem-Muro Radioso. Não saberão como escrever suas Cartinhas para os Homens do Longínquo Futuro Sem-Muro. Não conseguirão (as Crianças do Oriente Médio deste 2001), jamais!, imaginar a possibilidade de conforto para as Crianças do Futuro. O Futuro não existe para esses infelizes pequeninos do Oriente Médio. Existe a Guerra. São crianças e não brincam como crianças!; passam fome e sede (a água é escassa), não têm nenhuma esperança e não sonham com dias felizes. E eu, neste 04 de Novembro de 2001, uma insignificante sofressora desta Era de Calamidades Sem Conta, estou aqui preocupada com pequenos probleminhas cotidianos, com a possibilidade de falta de luz intersticial.

Mas, um Herói irá se sobressair no meio de todo esse alvoroço e gritará a sua sentença de paz. Quando esse dia chegar, estarei a postos para relatar-lhes o Acontecimento.

Aguardem novas notícias no Domingo que vem. Espero que vocês recebam aí no Futuro Sem-Muro Glorioso do Brasil o meu Profundo Amor transecular!


ODISSÉIA MARIA, conforme a Lei, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseides, ambos descendentes de Indomáveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaquatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região paradisíaca, ímpar, maravilhosa, sem-igual, situada na parte Leste do Brasil Varonil.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

6 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 28 DE OUTUBRO DE 2001

6 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 28 DE OUTUBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o Final do Século XX)


Meus amigos do Futuro, em Meu Tempo Histórico, neste Último Domingo de Outubro do Anno de 2001 ― principalmente em meu Agorá: a Maravilhosa Cidade do Rio de Janeiro ―, cultuamos a chamada
Língua Padrão. A Língua Padrão de minha realidade brasilesa segundo os especialistas deverá estar acima dos regionalismos e condizente com os mestres do idioma brasilês. Deveremos, neste Final de Outubro de 2001, estar atentos à correção da linguagem e observar com acuidade os cânones gramaticais prescritos pela tradição clássica, se quisermos o aval de nossos censores. Nossas leis gramaticais impõem severos castigos aos infratores. Os textos técnicos – excetuando os textos artísticos – só serão avaliados como corretos, se não apresentarem solecismos, cacografias, cruzamentos léxicos, expressões viciosas, barbarismos, impropriedades, vícios de tratamento, deformações (alterações na forma das palavras), et cœtera, etc. Assim como os portugueses, os brasileses
cultos são muito cuidadosos com o idioma pátrio. Até o momento (até este Mês de Outubro de 2001), acreditem!, só permitimos (incorretamente) a incursão de línguas estrangeiras. Até este momento, sempre adoraaaaaamos outras línguas! Até este Mês Outubro de 2001, abrasilesaaaaaamos diversas palavras oriundas de outros países. Até agora (2001, não s’esqueça!), estivemos a bater palmas entusiásticas para o idioma alheio, mesmo que o falante fosse analfabeto em sua língua de origem, e, pior ainda!, ousamos perseguir (A Minoria Brasilesa Que Se Diz Culta, evidentemente!), com furor!, os falantes brasileses das camadas dialetais não conceituadas. (Os que batem palmas são, principalmente, os muuuuuuto ricos da chamada Minoria Culta; os inumerááááááveis famélicos que necessitam muuuuuuuuuuuuito mais de alimento saudável, até agora, Outubro de 2001, não tiveram a glória de aprender Língua Estrangeira no Brasil Varonil).

Por esta razão, Vocês estão apreendendo aqui, nesta minha cartinha do Último Domingo do Mês de Outubro de 2001, um leve tom solene e o banimento de palavras chulas e expressões impolidas. Emprego termos adequados porque, quomodo autêntica defensora de uma forma de falar correta, vou sempre consultar a Gramática da Língua Portuguesa Européia, uma vez que não desejo ser admoestada por meus conterrâneos. Às vezes, consulto o dicionário de minha Brasilesa Língua Pátria e descubro que a maior parte das palavras de meu idioma provém do Latim Vulgar. Para vocês entenderem aí no Futuro Sem-Muro, o Latim Vulgar era a forma de falar das camadas incultas de Roma.

Os soldados romanos ― aqueles que alargaram as fronteiras de Roma e impuseram o idioma latino aos perdedores ― eram oriundos da plebe iletrada, e foram eles, acreditem!, os iletrados soldados romanos, que conquistaram uma boa parte do Mundo daquela época. Meus Amigos do Futuro Brasilês Sem-Muro!, herdamos nosso idioma tão amado desses valerosos soldados romanos, os quais souberam dignificar sua Pátria de origem. Vejam Vocês!, os Povos Autóctones eram obrigados violentamente a ceder seus espaços territoriais aos invasores romanos, perdiam o direito de administrar seus domínios e, ainda, eram obrigados a aceitar o vulgar idioma do vencedor (ora, ora!, como vamos entender tanta vassalagem?). Entendam, meus Amigos do Futuro!, a nossa atual brasilesa decepção, neste Final de Segundo Milênio e Início de Terceiro Milênio, Anno de 2001: não pudemos (nós Brasileses) herdar o Latim Culto porque os intelectuais romanos, autênticos Dictadores das Normas Gramaticais do Latim Clássico, preferiram o conforto da Urbe. Enquanto os soldados lutavam e instituíam o tal idioma deturpado, o poderio de Roma se alargava cada vez mais. Mas, mesmo assim, Graças a Deus!, quomodo Herdeiros Legítimos da Língua do Lácio, inculta e bela, procuramos sempre Hierarquizar o Idioma Pátrio, talvez, numa tentativa de esquecer o Início de Nossa Trajetória Linguística de Base Vulgar.

Por estas inúmeras razões, cultuamos a severidade linguística e não respeitamos de jeito nenhum! as camadas dialetais que não se enquadram nos pré-requisitos normativos do Bem-Falar.

Mas, nós Brasileses deste Anno de 2001 (apenas os ricos e cultos!) adoramos os Idiomas Alheios!, mesmo que os falantes sejam
praláde analfabetos em suas línguas de origem. Se Vocês, Amigos do Futuro Sem-Muro!, vierem, um dia, nos visitar, de volta para o passado, constatarão o que acabo de lhes dizer: não há um canto sequer do Brasil Varonil, Neste Final de Outubro de 2001, sem a contribuição de idiomas estrangeiros. E acreditem em mim!: para os brasileses ricos e cultos (ou os pobres que se acreditam cultos) é uma vergonha sem limites não saber pronunciar corretamente o idioma alheio... E, no entanto, Meus Amigos Brasileses do Futuro!, batemos palmas calorosas para o estrangeiro que sabe estropiar com ou sem elegância nossa língua brasilesa inculta e bela.

Meus Caríssimos Amigos Brasileses do Futuro!, venham nos visitar! Entrem no Túnel do Tempo e retomem o Passado (principalmente venham visitar este Anno de 2001). Este meu Presente Histórico será o Passado Histórico de Vocês. Venham informar-me o que tanto desejo saber: Vocês continuam falando o Brasilês?

Meus Amigos, de verdade, com Muito Amor no Coração!, espero que o Brasil do Futuro aceite suas diversas características dialetais, superando a terrível e comandada insegurança linguística que o faz prestigiar outras línguas que não a própria. Só assim irá amadurecer como Nação Soberana. Os diversos estratos linguísticos deveriam ser respeitados e não ridicularizados, o que, normalmente, ocorre por aqui (até esta data do Último Dia do Mês de Outubro do Anno de 2001).

No próximo Domingo enviar-lhes-ei outras notícias. Aguardem-me! E recebam o Meu Grande Amor por Vocês e o Meu Ampliadíssimo Abraço Transecular!


ODISSÉIA MARIA, filha legítima de Antônio Aquileu e Jane Briseides, descendentes de Gloriosos Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região misteriosa e mágica situada na parte Leste do Brasil Varonil.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

5 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 21 DE OUTUBRO DE 2001


5 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 21 DE OUTUBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


Meus Caros Amigos do Futuro Brasileiro Sem-Muro, neste Anno de 2001, mais precisamente neste 21 do Mês de Outubro de 2001, a coisa aqui tá preta, ou melhor, está branca. Surgiu no Mundo Global, junto com esta Guerra Inglória que nos perturba, a chamada Guerra Bacteriológica. Apareceu por aqui um pó branco assustador repleto de bactérias mortais. Esse pó provoca uma doença chamada Antraz. A Humanidade Sem-Rumo, atualmente (espero que acreditem em mim!), está apavorada! Esta praga não se compara com as outras pragas registradas na História do Mundo Rotundo. É algo terrível e inexplicável! A Poeirinha da Morte chega ao destinatário pelo Correio (neste Outubro de 2001), dentro de Carta Lacrada, contaminando quem a manusear. Justo agora, no momento da Guerra Ingloriosa, aparece a tal doença. Não sei explicar-lhes o nosso Pavor! Falando por mim, só posso dizer-lhes que a minha angústia é imensa. Espero a proteção de um Herói, um Cavaleiro Audaz surgindo do Nada e trazendo nas mãos o Antídoto Salvador. Entretanto, Amigos do Futuro Brasileiro Sem-Muro!, penso que atualmente (2001, não s'esqueçam!) não há Herói que dê jeito em toda esta confusão! E por falar em Herói, já não há mais Heróis neste meu Mundo Globalizado. Os Heróis ficaram lá no Passado Endeusado! Os de Hoje morreram ou estão morrendo ingloriamente.

De qualquer maneira, eu sei que ― todos nós sabemos ― um Herói chegará, muito em breve!, para nos salvar. Será um Herói do Futuro Sem-Muro! Ao contrário dos Homens Antigos, que cultuavam os Heróis do passado, nós, do Século XX e Início do Século XXI (2001, não s’esqueçam!), vivenciamos uma situação singular: os Heróis que cultuamos estão no Porvir (aí no Presente de Vocês!). Nós, Brasileses Descontrolados do Passado Século XX, sabemos direitinho como são Vocês, os Brasileses do Futuro Sonhado; imaginamos as vestimentas que usam, os veículos futuristas que transitam por suas ruas douradas, visualizamos suas cidades bem planejadas, admiramos a forma como vocês se livram das doenças indesejáveis, et cœtera, etc. O Futuro Sem-Muro, de acordo com a nossa percepção sonhadora, se movimenta na mais perfeita Ordem. Eu, por exemplo, tenho certeza de que, neste exato momento!, já está nascendo o Herói da Humanidade. Uma Super-Criança está nascendo em alguma Maternidade do Mundo Rotundo (quiçá do Brasil Varonil), e com certeza estará destinada a realizar a maior façanha de todos os tempos: transformar o Planeta Terra em um lugar onde se possa viver em paz. Pesquisem aí no Futuro Sem Muro e descobrirão. A criança, do sexo masculino naturalmente ― ainda cultuamos o patriarcalismo ―, está nascendo, agora, neste instante. Gostaria, imensamente, que ela fosse brasilesa. Neste exato momento, o Herói está nascendo. Confiram aí no Futuro Sem-Muro: são uma hora, trinta e três minutos e zero segundo, o Horário de Verão no Brasil Varonil.

Se vocês quiserem compreender o que quer dizer Horário de Verão, saibam que, de vez em quando, até este mês de Outubro de 2001, o governo brasilês atual ― o FHC ― manda o povo adiantar os relógios em uma hora. Assim, se os cálculos do horário acusarem zero hora (meia-noite), trinta e três minutos e zero segundo, saibam que ambos ― os dois horários ― significarão a mesma coisa. É um pouco complicado, mas, com boa vontade, Vocês do Futuro compreenderão. Só para melhorar um pouco mais a minha explicação, informo-lhes que há uma razão para esta atitude do atual Governo, o Fernando Henrique: o Horário de Verão Econômico ajuda-nos a economizar luz elétrica e, assim, os recursos financeiros, dos quais o País carece, aumentam. Fazemos economia, porque queremos saldar nossa dívida com o FMI. Infelizmente, a tal dívida parece não ter fim (será que esta tal dívida já estará definitivamente quitada aí no Futuro?).

Desculpem-me, mas em uma outra carta explicarei o significado desta sigla FMI. Hoje não. Estou um pouco cansada do trabalho semanal estafante. Na próxima semana, espero enviar-lhes uma carta mais esclarecedora. Esta de hoje está meio embaralhada. As notícias da Ágora Global, neste 21 de Outubro de 2001, não são muitas boas, por causa das duas Guerras que apavoram o Mundo Rotundo. Duas Guerras ao mesmo tempo. Vocês dirão, quando lerem esta minha cartinha: Pobres Mortais Globais do Anno 2001! Mas, o Herói está nascendo, neste exato momento (21 de Outubro de 2001), em uma grande Maternidade do Mundo (quiçá do Brasil Varonil!). Seu nome se perpetuará como símbolo de uma Nova Era de paz. Meus Amigos do Brasilês Futuro Sem-Muro, que a Paz e o Amor reinem em seus lares!

Por ora, terminando o meu missivo (não confundam com míssil, por favor), quero dizer-lhes que o Rio de Janeiro continua bello como sempre. O Sol Hipercariocjônio ilumina a Cidade Maravilhosa dos Cariocas Intrépidos (aqueles que não trepidam nunca, já que são corajosos e não vacilam ante os obstáculos de um Destino adverso!). Por esta razão, peço-lhes licença para plagiar Horácio (Carmen Saeculare ― Roma Antiga, época de Augusto): O’ Sol capaz de produzir a abundância, que faz existir o dia com (seu) carro hiper-iluminado e o oculta, e nasce sempre diferente e sempre igual, tomara nada possa contemplar (nos séculos vindouros) maior que a Cidade do Rio de Janeiro.

No próximo Domingo enviar-lhes-ei outras notícias. Aguardem-me!

Recebam o meu Grande Amor Transtemporal.


ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseides, descendentes de notáveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma Incrível Região localizada na Parte Leste do Brasil Varonil.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

4 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 14 DE OUTUBRO DE 2001


4 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 14 DE OUTUBRO DE 2001

NEUZA MACHADO


(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


Caros Amigos do Brasil do Futuro, sexta-feira passada ― 12 de Outubro de 2001 ― foi feriado no Brasil Varonil. Comemoramos o dia dedicado à protetora dos brasileses,
Nossa Senhora Aparecida, e também o Dia das Crianças. Amanhã será um feriado para os professores (15 de Outubro de 2001), também será feriado para a maior parte da população. Os Comerciários Batalhadores e os Professores Sofressores irão descansar, afastando-se de suas labutas diárias. Como o feriado em honra da padroeira, neste ano de 2001, caiu em uma sexta-feira, e o outro será comemorado amanhã, uma segunda-feira, todos esses “privilegiados” estão, hoje, em casa, de papoproar, felizes, contentes, ouvindo música, ou assistindo televisão, ou conversando abobrinhas na sala de bater-papo da Máquina Internet. Outros foram viajar, passear com a família, enfrentando o terrível engarrafamento do trânsito, desejosos do ar puro do campo ou do ar puro das regiões banhadas pelo mar. Só voltarão para seus lares e o trabalho duro diário amanhã, já no final do dia, enfrentando, novamente, o engarrafamento do trânsito, um problemão sem solução de nossa realidade caótica. Outros foram assistir aos filmes estrangeiros (de outros países) nos cinemas de suas Cidades. Hoje, domingo, 14 de Outubro de 2001, com certeza, muitos estarão enfrentando filas imensas, pagando caro pelas entradas, só para se entreterem com as tragédias e as comédias dos povos do mundo. Os brasileses, todos oriundos do Final do Segundo Milênio, adoram os filmes americanos, principalmente os mais jovens, os filmes norte-americanos, repletos de ação e emoção.

Ainda, em relação ao longo feriado, de 12 de Outubro a 15 de Outubro de 2001 ― quatro dias de folga para a maior parte dos trabalhadores batalhadores ―, quero que saibam o motivo de tal privilégio. O Brasil está enfrentando a pior seca de sua história e, submetidos a uma exigência governamental (governo do FHC, Oito Annos governando o Brasil), os brasileses estão economizando, deeeeeesde o mês de junho!, energia elétrica (não se esqueçam disso aí no Futuro Brasileiro de Vocês!). Neste momento de 2001, há uma quota de energia disponível para cada residência e os consumidores não poderão, em hipótese alguma, extrapolá-la.

Os muuuuuuitos brasileses, muuuuuuito pobres!, estão rezando, e eu também estou rezando muuuuuuito, a Deus Nosso Senhor, todos os dias, pedindo-Lhe que nos envie muuuuuuita chuva. Precisamos de chuva benfazeja para lavar nossas mágoas e nossas almas. As águas dos rios, represadas, sustentam as Grandes Usinas Elétricas do Brasil Varonil. Assim, o longo feriadão deste anno de 2001 proporcionará uma grande economia de luz elétrica (para os muuuuuuito ricos; pois o pobre já vive no escuro!), segundo fontes governamentais.

Ainda em relação ao feriadão deste mês de Outubro de 2001, na verdade, o dia dedicado aos Comerciários e Balconistas é o dia 30 de outubro. A data foi antecipada por motivo de economia (os pobres economizam para os ricos). Quanto aos professores, se bem me lembro, sempre trabalharam no dia 15 de Outubro. Amanhã, ficarão em casa... trabalhando... quero dizer, corrigindo provas, preparando aulas, aproveitando o tempo disponível para escreverem suas memórias, ou arrumando a casa, ou jogando a metade da papelada ― acumulada em vários anos de trabalho mal remunerado ― no lixo, et cetera.

Por falar em professores, estes são os mais desprestigiados neste meu tempo. Espero que, aí no Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil, os pobres sofressores sejam mais prestigiados. Não vou comentar os graus do desprestígio. Se Vocês quiserem conhecer as desventuras dos professores, do Final do Século Vinte e Início do Século Vinte e Um, Anno 2001, façam pesquisas (por favor!), busquem na História (que esta seja idônea!), leiam as narrativas ficcionais dos grandes escritores (estes falam verdades que a Imprensa não ousa publicar), enfim, vasculhem o Passado do Brasil Varonil, e, com toda certeza!, Vocês aí do Futuro Sem-Muro encontrarão os vestígios de tal decadência. Só posso adiantar-lhes que, atualmente, os Bobos da Corte são os Professores. Aí, no Futuro do Brasil, Vocês poderão repensar a existência dos Bobos da Corte desde o aparecimento de tal classe. Pesquisem, meus Amigos, os primórdios da civilização ocidental e os primórdios do Brasil e, só assim, compreenderão o descrédito que atingiu esta classe de sofressores, uma categoria marginalizada que sempre se preocupou em transmitir preciosos conhecimentos adquiridos em longos anos de muita reflexão e leituras diárias.

Enfim, são estas as notícias de meu tempo vital, neste 14 de Outubro de 2001. Espero que aí, no Futuro-Sem-Muro do Brasil Varonil, a vida de Vocês seja mais tranquila (que a dívida ao FMI já esteja liquidada! Louvado seja Deus!), com mais dinheiro e fartura de alimentos, sem guerras, sem doenças, et cœtera. Que Deus Nosso Senhor os proteja e os faça felizes. Espero que não existam mísseis mortíferos arrasando o Mundo e, de jeito nenhum, bombas atômicas. Espero que as hecatombes desapareçam da face da Terra.

Recebam o meu abraço afetuoso, Meus Queridos Homens e Mulheres do Futuro!, e também o meu profundo Amor. O meu Amor chegará até vocês (ultrapassando as barreiras do tempo!).


ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseides, descendentes de imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

3 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 07 DE OUTUBRO DE 2001


3 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 07 DE OUTUBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


Meus Amigos do Futuro Brasileiro!, cordiais saudações transtemporais!

Hoje, Domingo, um 07 de outubro de 2001 no Mundo Global, o dia não está muito luminoso. É bem verdade que o Sol Hipercariocjônio brilha no céu de minha Polis Maravilhosa. Entretanto, o receio de um Conflito Bélico Mundial não nos permite apreciar o lado atrativo da vida. Os Soldados Invisíveis ergueram seus tacapes de guerra e saíram, por aí, espalhando o terror e a morte. Na semana passada, por exemplo, eu vi, acreditem!, ― pela Grande Tela da Máquina Internet (uma grandiosa invenção de meu tempo vital) ― desnutridas crianças do Médio Oriente implorando apenas por alimento e paz. Asseguro-lhes que a cena foi de cortar o coração de qualquer ser humano sentimental.

Mas, não rasguem esta cartinha antes de lê-la até o final. Há outras notícias interessantes. Por exemplo: Apesar dos contratempos diários, o Povo do meu Brasil Varonil continua sorrindo neste dia 07 do mês de outubro de 2001, repleto de fé e esperança em Deus Nosso Senhor, ansiando por dias melhores, lutando bravamente para ganhar o pão nosso de cada dia. Não é muito fácil sobreviver nos dias atuais com um salário insignificante. Vocês, os que estão aí no Futuro Brasileiro, com suas mesas fartas, com seus armários abarrotados de roupas bem feitas, maravilhosas, com seus filhos em bons Colégios, et cœtera, jamais conseguirão imaginar como é triste para um Chefe de Família sustentar seus filhos com um ordenado mensal vergonhoso. Hoje mesmo (torno a repetir a data), um dia 07 de Outubro de 2001 do Passado de Vocês, no ponto de ônibus, um senhor maltrapilho com uma garotinha de dois anos nos braços abordou-me, pedindo-me, pelo amor de Deus!, um dinheirinho, uma moedinha insignificante para comprar um pão para sua filhinha. Foi uma cena triste! Ver aquele homem se humilhando, pedindo dinheiro, sofrendo por estar desempregado em pleno início de Terceiro Milênio, e no Brasil!

No entanto, meus Amigos, não fiquem alarmados!, ainda há muita diversão por aqui. O meu Brasil Varonil é considerado o país do Futebol. Os brasileses adoram futebol. Jovens e velhos espantam as preocupações constantes torcendo fanaticamente nos campos de futebol. Hoje, por exemplo, o Brasil venceu o Chile (um outro país da América Latina) por 2 X 0. Os dois países estão lutando por uma vaga no Campeonato Mundial de 2001. Se Vocês, aí no rico Futuro Brasileiro, não sabem o que quer dizer 2 X 0, eu explicarei. Os jogadores brasileses souberam como chutar a bola diretamente para o gol; arremessaram a bola para a rede e fizeram dois gols. Mas que bobagem estou aqui a dizer!, Vocês, os habitantes do Futuro, também são brasileses. A diferença é o tempo que nos separa. Apenas isso! Entretanto, tudo continua por aqui como dantes, nada mudou no Quartel de Abrantes!

Agora, que já lhes narrei alguns fatos de minha caótica realidade, neste 07 de Outubro de 2001, quero que repensem as minhas mais íntimas indagações. Por exemplo: O Mundo de hoje alcançou uma alta tecnologia. Os grandes cientistas, os grandes inventores, apresentam à humanidade ― no perpassar de um minuto-mito ― suas grandes descobertas. Desde a Antigüidade, as invenções foram surgindo e engrandecendo o Homem. Atualmente, existe o computador ― invenção maravilhosa ― e a Máquina Internet, um poderoso invento que nos apresenta notícias dos cantinhos mais escondidos da Terra no mesmíssimo instante do acontecimento. Por tudo isto, pergunto-lhes: As invenções de seu Tempo Futuro serão/são maiores do que as nossas? As invenções de nossos cientistas se converterão/converteram em joguinhos ultrapassados em seu tempo vindouro? Que pena, meus Amigos Brasileses do Futuro! Eu não sei se a minha alma estará por aí apreciando o poder de seus Cientistas Afamados!

Meus Amigos do Futuro! Sem outras notícias para enviar-lhes, despeço-me, neste 07 de Outubro de 2001, desejando-lhes muita paz e felicidade. Estarei sempre rezando por Vocês ao Único Deus dos Cristãos até o final de meus dias aqui nesta Terra Maravilhosa.


ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseida, descendentes de imortais caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.


P. S.: A minha ODISSÉIA MARIA
ainda será publicada em brasilês vulgar. Aguardem!

domingo, 22 de agosto de 2010

2 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 30 DE SETEMBRO DE 2001

2 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 30 DE SETEMBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


Hoje, Domingo, 30 de Setembro de 2001, Primeiro Anno do Século XXI e Primeiro Anno do Terceiro Milênio, conforme o prometido, eis-me aqui novamente.

Meus Amigos! Espero que, aí no Futuro, o mundo continue existindo. Desejo que Vocês Brasileiros estejam gozando boa saúde, paz e felicidade. Ab imo pectore (espero ter escrito corretamente a expressão latina atualmente em desuso), do fundo do peito, do mais íntimo recanto de minha alma, anseio que o mundo aí de Vocês continue belo e grandioso. Todos os dias, desta minha existência terrena, rogo pelo Futuro da maior parte dos Brasileiros (aqueles que estão atualmente sem sequer um centavo furado no fundo do casaco surrado) ao Deus de Bondade da Fé Cristã. Continuarei rogando ad infinitum. Espero também que a Floresta Amazônica, o pulmão do mundo, continue existindo. Sem ar puro e clima favorável, Vocês Brasileiros do Futuro não existirão. Neste meu tempo de calamidades sem-fim (final do Segundo Milênio e Primeiro Anno do Terceiro Milênio), as centenárias árvores do Brasil Varonil são derrubadas, diariamente, em grandes quantidades (pesquisem aí no Futuro e constatarão!). E os peixes? E os animais selvagens? Estão quase desaparecendo da face da Terra, graças às ações insensatas dos Homens. A água potável está por um fio aqui no Brasil Varonil deste 2001. Os grandes rios brasileses estão secando. Os rios da Floresta Amazônica (o Pulmão do Mundo), neste Início de Terceiro Milênio ainda são grandiosos, volumosos, mas, não sei não!, se continuar assim, com os Homens a derrubar as árvores da Grande Floresta, eles (os rios, as árvores e os homens) perecerão, com certeza.

Mas, neste meu 2001, a vida continua aqui como dantes, nada mudou no Quartel do Abrantes. O Sol Hipercariocjônio brilhou nos céus do Rio de Janeiro. Muitas famílias foram passar o dia na praia; levaram suas crianças, cachorros, barracas de sol, água, cervejas, refrigerantes, e muita disposição para enfrentar os loooooongos engarrafamentos de carros, na ida e na volta, nas largas ruas de minha Cidade Maravilhosa. Os cachorros também vão à praia com seus donos. Que problemão! As areias repletas de lixo e cocô de cachorro! Os cachorros de estimação, de alguns ilustres senhores e de algumas impecáveis damas, são um problema à parte. Pela manhã, ou então à noite, na calada da noite, seus donos saem com eles pelas ruas de seus Bairros tradicionais. Não se assustem, Amigos do Futuro! Neste Anno de 2001, eles estão apenas passeando com seus bichinhos, os quais ficam confinados durante o dia nos micro-apartamentos. Entendam, são os muitos e muitos e muitos cachorros que defecam nas ruas e, cá entre nós, abaixar (os muitos donos de cachorro) para limpar a sujeira, é muuuuuuito humilhante! Não é mesmo?!!! Que se dane a limpeza da Cidade Maravilhosa neste Anno de 2001! Que se danem os pedestres distraídos, aqueles nobres pedestres que pisam nos cocôs de cachorro, os cocôs espalhados pelas calçadas dos bairros residenciais do Rio de Janeiro, a megalópole do Mundo! Não é mesmo?!

Mas, continuando com as minhas notícias, outras famílias foram aos Templos de suas religiões, cumprindo assim suas obrigações religiosas; outros foram às suas Igrejas porque estão, realmente, iluminados pela chama da Fé. E haja fé nos dias de hoje! É preciso ter muita fé em Deus para aguentar as pressões do cotidiano. A ameaça de Guerra continua a nos assustar. No Oriente Médio, no Nordeste do Brasil Varonil, em outras partes do Mundo, há crianças e adultos passando fome e sede, morrendo desamparados. Não sei quomodo relatar-lhes a permanente miséria que invade algumas partes do Planeta. A pobreza extrema é uma realidade até mesmo em alguns países do Primeiro Mundo. Mas, no Brasil Varonil, meu País abençoado por Deus, ser pobre é uma coisa normal (assim pensam hoje, neste Anno de 2001, os poucos muito ricos!). Entretanto, todos os muuuuuuito pobres lutam para ganhar o pão de cada dia. O salário do pobre não é suficiente para pagar as despesas com roupas, calçados, alimentação; uniformes escolares para as crianças, cadernos, lápis, impostos altíssimos, et cœtera.

Entretanto, somos um Povo Feliz! O Sol hipercariocjônio não deixa de iluminar a Cidade do Rio de Janeiro, a mais bella Megalópole do Mundo.

Enfim, são estas as notícias de hoje, neste 30 de setembro de 2001. Domingo que vem, enviar-lhes-ei outra Carta. Aguardem-me!

Por ora, sem mais o que relatar, envio-lhes meu abraço carinhoso.


ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseida, descendentes de Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.


P. S.: Minha narrativa ODISSÉIA MARIA um dia será publicada em Brasilês Vulgar. Aguardem!

sábado, 21 de agosto de 2010

1 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 23 DE SETEMBRO DE 2001

1 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 23 DE SETEMBRO DE 2001

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


São 18 horas e trinta minutos de um Domingo Iluminado pelo Sol Hipercariocjônio no Brasil Varonil, em um 23 de setembro de 2001, apesar da ameaça de Guerra Mundial que paira no ar. Não sei se haverá a Terceira Guerra Mundial, só vocês saberão, quando esta cartinha aí chegar, no Futuro. Não obstante o Grande Sol que nos ilumina todos os dias, estamos com os nossos corações repletos de nuvens sombrias. O Mundo sofreu o seu pior abalo desde a Guerra do Peloponeso (431 a.C.). Os americanos foram agredidos pelos terroristas invisíveis no último dia 11 de setembro, e prometem agora uma revanche sem igual. As guerras da Antiguidade ― cantadas em famosos versos épicos ― passarão a ser insignificantes diante da hecatombe que se avizinha. Hecatombe, na Antiguidade, era uma palavra que significava “matança de cem bois”. Ainda não conheço uma palavra melhor para significar as carnificinas diárias que ocorrem no Planeta. Já não são cem bois sacrificados em louvor de um determinado deus dos antigos pagãos. Agora, são milhares e milhares de vidas humanas, um sem número de inocentes que pagam pelas brigas, políticas ou religiosas, dos dirigentes do mundo. Mas, a despeito das ameaçadoras nuvens escuras, hoje o Carro de Apolo brilhou na Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro.

O Domingo iluminou-se, porque tive o privilégio de apreciar uma das mais belas Exposições da Arte do Século XX. Neste mês de Setembro, o Rio de Janeiro encarregou-se de hospedar uma boa parte das obras de grandes pintores e escultores do Surrealismo.

Retorno da visita com a inquebrantável certeza de que os ideais dos surrealistas de 1924 deveriam ser reativados. Abalados pela Primeira Guerra Mundial, pregavam a explosão do Continente interior, rejeitando os valores de uma civilização progressista e industrial. A Arte como instrumento de conhecimento de planos não-substanciais da realidade. A apreensão do insólito que se entremeia entre as camadas conceituais do pensamento formal. A invenção de uma escrita novajuízos novos, como diria Gaston Bachelard ― com o objetivo de rejeitar a grande prostituta, a razão. Os surrealistas, desconcertados, buscavam no interior das imagens desencontradas, díspares, o fio condutor que proporcionaria ao mundo uma nova ordem. Infelizmente, a desordem, provocada por ideologias desencontradas, continuou imperando no Planeta ao longo do século XX, e, neste início do Terceiro Milênio, ameaça continuar com seus desmandos. As imagens insólitas
, que deveriam ficar apenas no plano da arte, tornaram-se reais. Não há mais como separar realidade e imaginação.

Nesta constante necessidade – dos Intelectuais – de nomear novas estéticas, pergunto-lhes, Homens do Futuro: qual será o nome que vocês darão à sensibilidade artística de sua época vindoura? Nesta fase desconcertada de minha tumultuada realidade, os diversos segmentos da Arte, do meu Brasil Varonil e do Mundo Global, se rotulam PÓS-MODERNISTAS
.

Enfim, são estas as notícias de hoje. Domingo que vem, enviar-lhes-ei outra Carta. Aguardem-me! Enquanto isto, o Mundo continua a girar em torno do Sol Apolíneo.

Por ora, sem mais o que relatar, envio-lhes o meu cordial abraço.


ODISSÉIA MARIA
, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseida, descendentes de Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.


P. S.: Meus Caros Amigos, espero que, no Futuro, estejam lendo e apreciando a minha narrativa ODISSÉIA MARIA
. Infelizmente, neste ano de 2001, ainda, não consegui publicá-la. Saibam que, neste meu momento histórico, não é nada fácil publicar livros!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

02 DE OUTUBRO DE 2009: UMA BRASILEIRA REPLETA DE SONHOS DE GRANDEZA PATRIÓTICA

02 DE OUTUBRO DE 2009: UMA BRASILEIRA REPLETA DE SONHOS DE GRANDEZA PATRIÓTICA

NEUZA MACHADO

Em 2001, depois daquele fatídico 11 de Setembro nos Estados Unidos, um fato que abalou os alicerces do Mundo da Pós-Modernidade, eu me percebia uma pessoa socialmente angustiada. Envolta por vários desconfortos político-sociais, visualizava para nós brasileiros, em relação ao futuro imediato, um Brasil sem perspectivas de crescimento sócio-financeiro (para a maior parte dos brasileiros, aqueles jamais agraciados com uma condição econômica razoável).

Naquele momento (em 2001), uma angústia absoluta se alojou em meu coração, uma pré-ocupação com o Porvir, uma sensação de derrota irreversível (pois o governo do momento já estava quase finalizando o seu mandato e ainda não apareciam as melhoras sociais prometidas). O meu salário como professora horista, por mais que eu trabalhasse em Instituições diferentes ― na época, duas matrículas em Instituições Privadas ―, não me creditava uma razoável tranquilidade para que eu pudesse saldar os diversos compromissos financeiros/familiares.

A fome de milhões de brasileiros da chamada Classe dos Excluídos (naquele ano de 2001, computando a maior parte) era o tema preferido nos noticiários dos jornais (quem estiver interessado em entender o assunto, é só pesquisar nos jornais e Internet daquela época), os quais instalavam o pânico e a impressão de que poucos brasileiros se salvariam da iminente hecatombe, e poucos teriam a chance de sair do Brasil levando suas fortunas para qualquer outro país mais desenvolvido (até mesmo a mídia, aliada ao governo da época, viu-se obrigada a noticiar a terrível praga que estava atingindo a maioria da população brasileira).

Foi então que, submetida às pressões vitais daquele início de Terceiro Milênio, iniciei as minhas Epístolas aos Homens do Futuro, utilizando-me de palavras provocativamente modificadas (pois os jargões estrangeiros imperavam no Brasil, sendo exaltados nas propagandas de cursos de idiomas, principalmente nos cursos de inglês). Em contrapartida, nas entrelinhas das Cartas, eu demonstrava uma confiança inabalável em uma reviravolta político-social que propiciasse aos brasileiros de baixa renda, e aos sem nenhuma renda, melhores dias de vida.

Naquele ano de 2001 (em que eu me via submetida a um altíssimo grau de desilusão patriótica), inseri nas ditas Cartas minhas íntimas premonições. Entretanto, as tais Cartas relacionavam-se a um Porvir melhor, anunciando aos Brasileiros do Futuro uma Nova Pátria que, segundo os meus supostos vaticínios, se mostraria grandiosa, afortunada.

Mas, observava a provável evolução daquela realidade brasileira (muuuito almejada!) por uma ótica temporalmente distante.

Em meus sonhos de grandeza patriótica, vendo o Brasil devendo ao FMI (os Impostos impostos não eram suficientes para saldar a dívida), pensava que não iria presenciar, com meus olhos, de corpo presente, um momento tão importante para a minha Nação. Não percebia, para o meu gáudio instântaneo, em termos vitais, a possibilidade de uma evolução tão impetuosa dos acontecimentos. Mesmo com pouca esperança em uma rápida e benéfica transformação social para o Brasil, nas eleições presidenciais (que vieram a seguir), apostei todas as minhas fichas político-partidárias na vitória do petista metalúrgico Luís Inácio da Silva (aliás, apostas estas reincidentes, teimosas, conscientes, que já haviam sido praticadas em três eleições anteriores em favor de Luís Inácio).

Assim, quando, em plena Era Lula (um grande e iluminado Presidente, ainda hoje menosprezado preconceituosamente pela mídia opositora e pela pequena elite burguesa do Brasil), para a minha indisfarçável alegria, leio a matéria jornalística especializada em Economia, “Crise Fortaleceu o Papel do Brasil No Mundo, Dizem Analistas”, no Site BBC do Brasil (07 de Setembro de 2009), a minha emoção se torna algo inenarrável. A minha confiança por saber que os meus futuros bisnetos nascerão em um País respeitado no mundo inteiro é algo que (segundo meus pensamentos deste momento) merece registro. Mesmo que o meu País não se torne (no Futuro) o Maioral entre os países maiorais do Planeta, o fato da terríííííível fome no Brasil (principalmente no Nordeste), neste momento já se encontrar sob um razoável controle (apesar de bolsões de pobreza extrema ainda existirem), o meu coração já se sente aliviado.

Não obstante os problemas dos brasileiros ainda não terem sido devidamente solucionados, neste penúltimo ano do segundo mandato do Presidente Lula, neste mês de setembro de 2009, percebi que foi conscientemente válido ter apostado em sua segura Gerência Presidencial (apesar da mídia opositora).

E hoje, 02 de Outubro de 2009, consolidou-se a minha certeza. E sei também que no final do ano de 2010 estarei com o meu coração em paz!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

10 - NO MUNDO DOS SONHOS DIMENSIONADOS: O ELEVADOR PANORÂMICO E A CIDADE NO TOPO DA MONTANHA

10 - NO MUNDO DOS SONHOS DIMENSIONADOS: O ELEVADOR PANORÂMICO E A CIDADE NO TOPO DA MONTANHA

NEUZA MACHADO

No auge de minha Segunda Idade (dos meus trinta anos em diante), eu costumava sonhar com estradas de montanhas (sempre subindo-as), escadas problemáticas (sempre para o alto) e, por diversas vezes, com elevadores panorâmicos (sempre em ascensão). Nesses sonhos (todos com trajetórias difíceis), não me lembro das descidas. Acordava antes dos fatais desenlaces.

Como já foi dito, em um capítulo anterior, minha filha costumava a admoestar-me, dizendo-me que, durante os tais sonhos, inconscientemente, eu os manipulava para não me ver caindo ou descendo (o que seria uma espécie de perda em relação ao desejo de vencer os obstáculos vivenciais). Ainda penso que minha filha tinha razão. No entanto, hoje, sei que os sonhos de quedas e descidas não são sinônimos de danos existenciais, ao contrário, poderão revelar mudanças saudáveis na vida do sonhador. Algumas descidas em sonhos, apresentando-se tranquilas, poderão revelar o bem-estar existencial daquele que sonha.

E, por estas e outras, buscarei lembrar-me de um interessante sonho, em que um insólito enredo foi sonambulado por mim lá por volta dos meus trinta e poucos anos.

Nesse sonho, como sempre constatei em relação aos anteriores, não me recordo dos movimentos iniciais. Assim, começarei explicando que estava a andar pelas calçadas de uma grande cidade (uma Metrópole, talvez a cidade do Rio de Janeiro), quando me percebi a entrar na portaria de um alto edifício (coloque aí em sua mente, meu Leitor!, uns dez andares!). Aproximei-me do porteiro a pedir-lhe uma informação. Acredito que eu estava a procurar o apartamento de alguma pessoa conhecida, ou estava ali por um outro motivo qualquer. O saguão de entrada do edifício, onde se localizavam os elevadores (muitas portas), era amplo, revestido por um enorme tapete negro-brilhante onde se viam fantásticos arabescos de ramificações de flores douradas. As altas paredes eram lisas e claras de uma certa parte para cima, pois a parte de baixo das mesmas (um metro e meio mais ou menos) apresentava-se com uma barra chapiscada, cuja cor se ia em gradações de baixo para cima, do amarelo para a cor de ouro velho, até atingir a cor vermelho-grená (este foi um trecho muito nítido do sonho, visto que me lembro bem desta parte). O porteiro (de aparência européia), atencioso, posicionado do lado de fora de sua cabine de atendimento, de pé, uniformizado (uniforme e quepe de cor caqui, contrastando com a cor negra do tapete), deu-me a informação solicitada, apontando-me a porta de um dos elevadores.

Apesar do direcionamento dado pelo porteiro, houve uma quebra no ritmo do sonho. Lembro-me que caminhei por aquele amplo recinto, sentindo-me perdida diante de tantas portas que estavam à minha frente. Andava à direita e à esquerda do amplo corredor, circulando-o quase em desatino, olhando as ditas portas das cabinas móveis sem me atrever a entrar em uma delas. Não vi mais o porteiro, mas muitas pessoas entravam e saíam daqueles apertados e sobrecarregados quartinhos moventes.

Em um certo momento, pedi uma nova orientação a um determinado transeunte entre os muitos (homens e mulheres em movimentos de ida e vinda) que saíam daquelas altíssimas e fantásticas portas (as paredes do saguão eram altas e as portas dos elevadores também, proporcionais à aparência interna do saguão). Um homem (com uma vestimenta própria de funcionário público) mostrou-me uma porta diferente das outras, mais simples, sem nenhuma ostentação, e esta ficava próxima à entrada do saguão (ainda do lado de dentro), do lado esquerdo de quem entra. Olhei aquela porta de elevador, tão diferente das demais, tão sem glamour!, com pouco ânimo, com uma espécie de receio (o saguão era tão pomposo que, mesmo no sonho, eu não podia acreditar em minha visão: a aparência da dita porta, apresentada pelo passageiro, o segundo informante, contrastava com a opulência do hall do edifício). Calcei-me de coragem e entrei no dito elevador.

Passarei a relatar-lhe o interior do elevador. Quando entrei, deparei-me com um recinto sem paredes (uma espécie de estrado quadrado, largo, apresentando em cada canto uma baixa pilastra, onde se viam algumas camadas de grossas cordas de fios de metal retorcidos a unir as quatro pequenas pilastras). Vale lembrar que o tablado-cabina ainda estava dentro das paredes por onde passam os comuns cabos de elevadores. Ainda bastante desconfiada, percebi um rústico banco de madeira na parte frontal à entrada e sentei-me nele, esperando o iniciar da subida. Um homem entrou e ficou ali, de pé, de lado, sem sentar-se no dito único banco, olhando-me fixamente. Para desanuviar o ambiente, perguntei-lhe algo, talvez, qualquer informação sobre o que eu estava a procurar naquele edifício. Respondeu-me gentilmente, dizendo-me também que o elevador iria demorar um pouco a subir, pois ainda não se encontrava devidamente lotado. Agradeci-lhe a informação e esperei pacientemente acuada dentro daquele recinto fechado (lembre-se que o tablado-elevador se encontrava estacionado dentro da guarita). Não sei como, o homem desapareceu de meu ângulo de visão, pois não o vi mais. Um certo tempo do sonho passou e as pessoas esperadas não entraram.

De repente, um movimento brusco! A parede da porta de entrada do elevador desapareceu e o tablado-elevador saiu velozmente, de lado, ascendendo, contornando o edifício, pela parte esquerda do ponto de vista do eu sonhador. O tablado-elevador se transformou em uma espécie de trem-elevador (desses de parques de diversão, mas ainda um tablado com as mesmas formas iniciais). Fiquei abismada em meu próprio sonho! No decorrer daquela impetuosa subida, percebi que a construção do grandioso edifício citadino estava ligada a uma alta montanha. A nova paisagem só foi-me apresentada no sonho no suceder dos acontecimentos da elevação da cabina panorâmica. E em velocidade anormal, o tablado-elevador subia em ziguezague percorrendo a montanha em que o edifício estava incrustado, contornando-o. Por meio de minha renovada perspectiva, apreciei o espetáculo a mim oferecido nesse estranhíssimo sonho. O passeio de elevador panorâmico, morro acima, mesmo em movimento rápido, permitiu-me apreciar uma larga extensão de terra, onde matinhos rasteiros e florezinhas coloridas enfeitavam o ambiente.

Tenho plena consciência de haver regalado-me durante o sonho com aquela extraordinária paisagem. Entretanto, movimentos de olhos depois, o elevador parou alguns andares acima, e eu saí por uma porta que dava para um largo corredor. Nas laterais desse largo corredor viam-se outras portas, enfileiradas, denunciando as entradas de inúmeros apartamentos residenciais, além de entradas para diversas lojas comerciais com suas vitrines iluminadas. Procurando explicar-lhe o sonho, o corredor, situado nos andares superiores do edifício, mais parecia um Shopping americano misturado a comuns apartamentos de moradia. Enquanto procurava o tal endereço do início do sonho, eu via algumas pessoas andando no largo recinto iluminado, outras a conversar, sentadas em bancos estrategicamente dispostos no ambiente, crianças brincando sob os olhares vigilantes das mães, etc. Continuei a regalar-me com o aspecto interno do edifício e a procurar o tal endereço. Como não encontrei o que procurava, busquei a porta de um outro elevador.

De repente, uma nova surpresa. Entrei no mesmíssimo tablado-elevador (exatamente o mesmo) e continuei nele, a subir em ziguezague, contornando o edifício ainda pelo lado esquerdo, subindo em elevador panorâmico a encosta da montanha, apreciando a anterior paisagem (terra, vegetação rasteira e flores coloridas revestindo o lado visível da montanha). Ainda tinha plena consciência (mesmo sonhando) do edifício ligado à montanha pela parte dos fundos (não logrei apreciar a paisagem do lado direito do sonho, pelo meu ponto de vista, pois o arcabouço do alto edifício não permitia o estender de minha visão).

Quase finalizando o sonho, saí do elevador em ascensão (já transformado em um elevador normal) dentro de uma simples portaria de uma edificação térrea (pelo lado do topo da montanha), em um local menos ostentoso. A entrada-saída da despretensiosa arquitetura localizava-se no topo do luxuoso edifício-montanha, entretanto o porteiro que me saudou já não se assemelhava ao mesmo de antes (usava um vestuário comum).

Saí do recinto (ao nível da rua de cima) e deparei-me com a movimentação de uma cidadezinha (ou um bairro, não posso precisar) e esta se localizava no alto da dita montanha. Era um lugar simples e acolhedor. Carros circulavam pela rua e tranquilas pessoas andavam nas calçadas laterais (totalmente diferentes daquelas pessoas apressadas do início do sonho). Lembro-me de ter visto trilhos de bonde na rua (mas não vi nenhum bonde trafegando),

Já postada do lado de fora do alto edifício-montanha, avistei do outro lado da rua, bem em frente ao meu ponto de visão, uma padaria-confeitaria com suas amplas portas escancaradas. Mesmo do outro lado da rua, eu via as vitrines iluminadas (as montras) exibindo uma variedade incrível de pães e doces e bombons, todos estimulando o meu paladar. Atravessei a rua, entrei na padaria-confeitaria e comprei alguma iguaria deliciosa. Lembro-me perfeitamente da compra e do pagamento. O vendeiro envolveu os pães e os doces em um papel cinza e os entregou-me acomodados em um embrulho amarrado com barbante. Coloquei o embrulho daquelas finas iguarias em uma espaçosa bolsa (que já estava comigo desde o início do sonho) e saí da Confeitaria, repleta de contentamento e dinamismo, já esquecida de ter iniciado o sonho a procurar um determinado endereço, ou alguém, ou alguma coisa inexplicável.

Ao final do sonho, eu me vi caminhando na calçada da Padaria-Confeitaria (ainda no topo do edifício-montanha) a procurar um táxi (automóvel de aluguel), esforçando-me por retornar ao caminho de minha casa.

Não desci a rua (visualizada a partir da parte elevada). Acordei antes de achar o táxi, antes de realizar a possibilidade de nele viajar ricamente e confortavelmente ladeira abaixo. Os muitos sonhos de elevação, no decorrer de minha vida, não me ofereceram riquezas monetárias. Continuo subindo arduamente as montanhas cotidianas, carregando pesadas pedras, enfrentando forças contrárias, recebendo salários ínfimos, equilibrando-me, para recompor-me dos violentos puxões em meu tapete voador. Entretanto, posso afirmar-lhe que esses elaborados sonhos, quase todos recorrentes, ofereceram-me um outro tipo de recompensa, que, infelizmente!, neste mundo globalizado, poucos privilegiados alcançam. Mesmo com o bolso do jaleco de trabalho diário vazio, continuo uma pessoa de muita sorte benfazeja (desde aquele primeiro sonho dos sete anos de idade, da ponte de tronco de braúna sobre o largo rio a ligar a minha casinha do interior de Minas Gerais à grande Cidade). Também, continuo a apreciar meus noturnos sonhos de grandeza (só sei sonhar em amplitude!, sim senhor!), sem medo de ser feliz, sem receio de críticas muito ou pouco fundamentadas!