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sábado, 26 de fevereiro de 2011

NOVAS AVENTURAS DE DIANNA VALENTE - 3


NOVAS AVENTURAS DE DIANNA VALENTE - 3

NEUZA MACHADO

Se Você Não EsTá Lembrado,
Vou ReTomar o Já Dicto
Um Pouco Mais Bem Contado,
N’Um RePensar Infinito,
Para Ser Avaliado
Por Pensador Irrestricto:

A Dianna do Cercado
Do Meu Brasil, Prometeu,
Depois de Receber o Recado
Do Fantasma do Amadeus,
Ao Seu TetraVô Muito Amado,
Há Muito Vivendo no Céu,
Que Iria ao Monti’Alado
Coberto Por Raro Véu,
Um Céu Brilhante, Estrelado,
Em Noite de Puro Breu,
De Dia, Um Sol Doirado
A Iluminar o Museu
Arbóreo, ReFlorestado,
Lugar de Muito Himeneu
No Monte Ou Alto Estimado
De Um Vei-Brasil Perigeu!,
O Conceição do Passado
De Um Vei-Brasil Pigmeu,
Hoje, Glorificado!,
O Neo-Brasil do Apogeu,
No Mundo Inteiro Aclamado
Por Povo Nobre ou Plebeu.

Ao Receber o Recado,
Ou Ordem, Mui Comovida!,
A Dianna do Neo-Eirado,
O Meu Brasil Pura-Vida!,
Intuiu Que o Neo-Contado
Teria de Ter a Acolhida
Dos Doutores no Riscado,
Considerando a Medida
Do Neo-Narrar Puridado,
Sem Medida Consentida,
Somente Verso Exaltado
E Uma Petição Destemida,
Ou Seja,
Uma Suplicação do Agrado
De Epopéia Preferida,
Do Jeito de Cantor Estimado
E de Heroicidade Vivida,
Com Herói Qualificado,
Mui Brilhante Em Sua Lida,
E Para o Presidente, Amado!,
De Sua Nação Querida,
Um Versar Considerado,
Dedicatória Distinguida,
Pois Viagem ao Passado,
Um ReTorno à Velha Vida,
Precisa de Estatuto Selado
E Nova Diferente Medida,
Muito Parolado Alteado
E Muita Guerra Vencida,
Mostrar em Roteiro’Alado
A Grandeza da Corrida,
Os Solavancos do Viajado
E a Vitória Merecida.

Para a Viagem ao Passado,
Ao Alto da Conceição,
Visitar o Muito Amado,
O Amadeus Antigão,
O TetraVô Espectrado,
Um Fantasma na Amplidão,
Mas Também Um Bell Narrado
Da História da Nação,
O Meu País Idolatrado,
O Meu Brasil, o Meu Chão,
A Dianna do Cercado,
Guiada Pelo Toinzão,
O Charreteiro Ensolarado,
Filho de Apolo Romão,
Seguiu Um Rumo Adoidado,
Foi Parar no Esconsão
De Netuno Mareado,
Bem Distante do Sertão,
Longe do Alto Buscado,
A Serra da Conceição,
Pois de Noite o Ensolarado,
O Guia do Bell Carrão,
Partia Pra Outro Lado,
Deixando a Dianna na Mão,
E a Bella, Sem-Rumo Dado,
Vagava Sem Direção.

Mas, o Desvio do Neo-Dado,
O Relato Em Diapasão,
O Lamiré Musicado
De Uma Viagem-Invenção,
Em Prosa ou Neo-Versado,
Na Insolidez da Direção,
Está Sendo Elaborado
Com Muita Concentração,
E Ao Meu Leitor Estimado,
Peço-lhe Compreensão,
Pois o ReContar do Narrado
E Sua Continuação,
Será, Por Certo!, APresentado

Na Próxima Capitulação.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

NOVAS AVENTURAS DE DIANNA VALENTE - 2


NOVAS AVENTURAS DE DIANNA VALENTE - 2

NEUZA MACHADO

Se Você Não EsTá Lembrado,
Vou ReTomar o Já Dicto
Um Pouco Mais Elaborado,
N’Um Palavrear Irrestricto:
A Dianna do Cercado
Do Neo-Brasil Tão Bonito,
PreViu Um ReTorno Animado
Ao Seu Passado BenDicto,
ReVer o Ontem Sagrado
Do Vei-Familiar PreDicto,
Ou Seja,
Visitar o Mui Amado,
O Amadeus QuatroCentão,
O Seu TetraAvô Adorado,
Por Certo!, Um Esquisitão!,
Um Espírito Assinalado
Que Presidia o Sagrado
Super Monte ILuminado,

O Alto da Conceição,
Um Lugar Valorizado,
RePleno De Superstição,
Para Sempre ReLembrado
No Espaço DiLatado
De Sua Família Em Questão,
Um Monte Muito Afamado
De Carangola, no Estado
De Minas Gerais Antigão,
Um Lugar Idolatrado,
Montanhoso!, Brilhantão!,
Prosopopaico!, Dourado!,
Um Sítio Mui Destacado
Do Meu Brasil, o Meu Chão.

A Dianna MultiGente,
Do Pensamento’Agitado,
Estava Alegre e Contente
Em Seu Casulo Doirado
Na Tijuca Independente
Do Rio Assinalado,
O de Janeiro, Mui Quente!,
Um Maravilhoso Cercado!,
Uma Cidade!, Eloquente!,
Em Um Solilóquio’Animado
Com Sua Mente DeMente,
Naquele Estado Assombrado
Do NonSense Inteligente,
Mas Por Certo!, Inanimado!,
Do RePensar Insistente,
Quando Assim, Bem De Repente!,
Não Sei ReTomar o Falado!,
O Amadeus Veiro’Ausente,
O TetraVô Muito Amado,
Um Fantasma Imponente!,
ReLembrado e Admirado,
Um RePassado Parente
Por Séculos Idolatrado!,
Apareceu, InContinenti!,
Em Seu RePensar Sublimado,
Exigindo Impaciente
Que Ela Fosse ao Monti’Alado,
Para Uma Visita Florescente
Ao Conceição do Passado,
O Alto Muito Influente,
Terra de Homem Indomado
E de Mulher Mui Valente,
Um Lugar Abençoado,
Onde o Sangue Mui Potente
De Seu Tronco, Entrelaçado,
Distribuiu a Semente
De Um Nome Valorizado,
Muita Sementeira Luzente
Que Desceu do Monte’Asado
E S’Espalhou no Continente
Do Brasil Glorificado,
Ramificação Imponente
Pontuando o Solo’Amado.

Mas, a Continuação do Achado,
A Viagem Com o Toinzão,
O Charreteiro EnSolarado
Que Sustentou o Cordão
Do VaiVém do Contado,
Pra Garantir a Condução
De Um Narrar Conectado
Com as Leis da Nova Canção,
Ao Meu Leitor Estimado,
Peço-lhe Compreensão,
Pois o Continuar do Narrado
Aos Poucos, Em Diapasão,
Com Lamiré Afinado,
Com Muita Concentração,
Está Sendo Elaborado
E Será APresentado
Na Próxima Capitulação.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SOBRE A MÍDIA BRASILEIRA E O EX-PRESIDENTE LULA

SOBRE A MÍDIA BRASILEIRA E O EX-PRESIDENTE LULA

NEUZA MACHADO

Peço aos meus leitores brasileiros (àqueles que comungam com meus ideais políticos e partilham de minha afeição e respeito pelo Ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva), manifestando também este meu pedido aos meus leitores brasileiros (os estrangeiros também) que moram fora do Brasil (e não têm muita noção do que ocorre por aqui, ou seja, do quanto o Ex-Presidente Lula foi maltratado pela grande mídia brasileira durante os seus oito anos de mandato, e ainda é — não o deixam em paz, comparando-o depreciativamente com a Presidenta Dilma, no intuito de abalar a afinidade política que há entre os dois), que leiam o texto do jornalista Maurício Dias, da Revista CARTA CAPITAL: “Um império contra um operário”, 18 de fevereiro de 2011 — cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/um-imperio-contra-um-operario.

Por favor, não deixem de ler o artigo deste idôneo jornalista desta excelente Revista. O jornalista Maurício Dias mostra em seu texto que a grande mídia brasileira [e principalmente a pequena, mas furiosa e toda poderosa elite brasileira que se considera a tal] nunca suportou a ascensão do Operário-Político Lula da Silva e a sua Vitoriosa Gestão no Palácio da Alvorada.

Lembrem-se de que a minha propaganda do Site da Revista acima mencionado é gratuita. E não me cansarei de prestigiar aqui em meus Blogs o Ex-Presidente Lula (que ficará na História do Brasil como o nosso Primeiro Maior Presidente Popular, o que é diferente de Populista — outros grandes Presidentes Brasileiros virão naturalmente) e a atual Presidenta Dilma Rousseff e os jornalistas idôneos.

Nesses meus anos de vida, eu recebi o privilégio de saber ler e avaliar o que se apresenta aos leitores brasileiros nos jornais e revistas. Aprendi a ler as linhas e a detectar as armadilhas políticas nas entrelinhas dos textos de Revistas e Jornais. Aprendi a separar o joio do trigo.

Se quiserem saber mais, a respeito do fato de o Ex-Presidente Lula continuar sendo o mal-amado da “grande” mídia, acessem o Site Conversa Afiada do jornalista Paulo Henrique Amorim (a propaganda também é gratuita, porque merece ser difundida, alastrada, espalhada, tornada de domínio público): http://www.conversaafiada.com.br/.

Desde já, recebam os meus sinceros agradecimentos por suas visitas aos meus Blogs.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

NOVAS AVENTURAS DE DIANNA VALENTE - 1

NOVAS AVENTURAS DE DIANNA VALENTE - 1

NEUZA MACHADO

Mas ReTomando o Achado
De Meu Canto ReNovado,
A Dianna Espiralada
Do Neo-Brasil Redentor,
A Viajar Mui Alada!
Com Seu Bello Condutor!
O Toinzão Ensolarado
Da Charrete MultiCor,
Ou Faetonte ABrilhantado,
Filho de Apolo Cantor,
Viajando, EnLuarada!
A Direção Puridada
Da Muito Veira Pousada
De Amadeus Vei-Amor,


Pois Então!,
Na Grandona EnCruzilhada
Entre o Já Visto e o Que For,
A Dianna Bem-Amada
Percebeu, Com Destemor!,
Que a Estrada Neo-Asada,
Asinhas de Neo-Vigor,
Não Era a Mesma de Antes,
Pois Seguia Enviesada,
Com Muita Curva Vibrante,
A Direção da Nortada
Do Vento Super InFlamante
Que Vai à Rota DeGradada
Do NonSense Bell Pulsante,
Sem Racionalidade Versada,
Uma Estrada Insinuante,
Cabriolante, InTrincada,
Por Certo, Interessante!,
Que Sai do Bell'Ocidente
Para Um Mundo InFluente,
Sem Nenhum Moderador,
O Mundo Amplo, Diferente,
Do Neo-deus do Vero’Amor.

Se Você Não Tá Lembrado,
Vou ReTomar o Já Dicto:
A Dianna do Cercado
Do Neo-Brasil Tão Bonito,
PreViu Um ReTorno Animado
Ao Seu Passado BenDicto,
ReVer o Ontem Sagrado
Do Vei-Familiar PreDicto,
Ou Seja,
Visitar o Mui Amado,
O Amadeus QuatroCentão,
O Seu TetraAvô Adorado,
Por Certo!, Um Esquisitão!,
Um Espírito Assinalado
Que Presidia o Sagrado
Super Monte ILuminado,
O Alto da Conceição,
Um Lugar Valorizado,
RePleno De Superstição,
Para Sempre ReLembrado
No Espaço DiLatado
De Sua Família Em Questão,
Um Monte Muito AFamado
De Carangola, no Estado
De Minas Gerais Antigão,
Um Lugar Idolatrado,
Montanhoso!, Brilhantão!,
Prosopopaico!, Dourado!,
Um Sítio Mui Destacado
Do Meu Brasil, o Meu Chão.

Mas, a Continuação do Achado,
A Viagem Com o Toinzão,
O Charreteiro EnSolarado
Que Sustentou o Cordão
Do VaiVém do Contado,
Pra Garantir a Condução
De Um Narrar Conectado
Com as Leis da Nova Canção,
Ao Meu Leitor Estimado,
Peço-lhe Compreensão,
Pois o Continuar do Narrado
Está Sendo Elaborado
E Será APresentado
Na Próxima Capitulação.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

MACHADO DE ASSIS: PENSAMENTO SOBRE LIBERDADE

MACHADO DE ASSIS: PENSAMENTO SOBRE LIBERDADE


(Passeata dos Cem Mil - Rio de Janeiro - 1968)


De Machado de Assis, em “ A Semana”, 1892:


“A liberdade não é surda-muda, nem paralítica. Ela vive, ela fala, ela bate as mãos, ela ri, ela assobia, ela clama, ela vive da vida. Se eu na galeria não posso dar um berro, onde é que o hei de dar? Na rua, feito maluco?”

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

VII - MÁRIO DE ANDRADE: UM VISIONÁRIO? - PRIMEIRA VERSÃO PRA SER MUSICADA

VII - MÁRIO DE ANDRADE: UM VISIONÁRIO? - PRIMEIRA VERSÃO PRA SER MUSICADA

NEUZA MACHADO

Sobre o tema da desvalorização do café, que afetou a produção brasileira por toda uma década levando à bancarrota vários empresários e, consequentemente, conduzindo à miséria a maior parte do operariado — de 1929 até fins dos anos de 1930 —, Mário de Andrade deixou-nos, como legado, três textos de altíssima grandeza literária: um ficcional, outro dramático/peça teatral, além da versão, em versos, da primeira cena do texto dramático que, segundo a sua sensibilidade, deveria ser musicada. Mário de Andrade foi grande em seu amor pelo Brasil, por seu Estado Natal — São Paulo —, foi imensurável em seu amor e preocupação pelos brasileiros menos afortunados. A melhor apreensão da obra do escritor paulista foi feita pelo crítico literário João Etienne Filho, que a sintetizou com doída sensibilidade na “orelha” da apresentação do livro Poesias Completas, volume 2, das Editoras Martins, de São Paulo, e Itatiaia, de Belo Horizonte (em uma bela parceria para publicação em 1980). São de João Etienne Filho estas palavras:

"Impossível dizer-se tudo sobre o problema da miséria, que Mário de Andrade aborda com impressionante participação; sobre a ternura agri-doce por São Paulo; sobre o modo de falar da carência filial em “Mãe”; sobre aquele final de profunda melancolia do poema sem título, que começa com o verso “São Paulo, pela noite” e termina com “Garoa, sai dos meus olhos”; sobre o poema também sem título, uma espécie de testamento, que termina com o genial jogo de palavras: “Que o espírito será de Deus. / Adeus”. A “Meditação sobre o Tietê”, de pouco menos de três meses antes de sua morte, é inventário, é lembrança, é amor, é solidão, atingindo a fronteira do épico. / Por último, O Café. Será suficiente dizer que esteve proibida sua representação durante os últimos anos? [anos de 1970, época da Ditadura Militar no Brasil] Não que seja provocador, ou agressivo, mas porque simplesmente nos expõe uma realidade nua e crua, da qual os que estão além dos cinquenta se lembram. E isto é feito em forma de ópera-oratório-drama, de beleza e força indescritíveis. / Antes de completar 53 anos ele se foi. Para Deus, como quis, expressamente. Mas ficou para sempre. Na saudade dos amigos, nos debates sobre sua obra, na perenidade que ele nunca procurou, mas que sempre vem para os que a mereceram, pelo dar de si mesmo, pela sensibilidade, pelo amor à vida e a luta pela dignidade humana”.

Depois das palavras de João Etienne Filho, só nos resta continuar o envolvimento teórico-reflexivo com as obras assinaladas, sem afastar-nos de nossa questão central: MÁRIO DE ANDRADE FOI UM VISIONÁRIO? ELE PRENUNCIOU O FUTURO DO BRASIL?

Quanto ao impressionante texto dramatizado, CAFÉ – Tragédia Secular – O POEMA (próprio para ser representado em um palco), deixarei ao encargo dos leitores de meu Blog a busca em outros Sites ou mesmo por meio da compra do livro supracitado de Mário de Andrade.

Animados pela turbulência das cenas anteriores, terminaremos aqui o nosso questionamento lendo A PRIMEIRA VERSÃO A SER MUSICADA. As respostas ou reflexões em relação à questão apresentada virão gradativamente, de acordo com o interesse do Leitor-Internauta.



(PRIMEIRA VERSÃO A SER MUSICADA)

Falai se há dor que se compare à minha!...
Óh gigantes inflexíveis da mina do ouro
Óh anões subterrâneos da servidão
Magnatas com seus poetas laureados, galões e galinhas
Pastéis, pastores, professores, jornalistas e genealogistas
Óh melancias e melaços, burros borras, borrachas, molhos pardavascos,

Óh grandavascos e vendidovascos
O vosso peito ladrilhado com pedrinhas diamantes
É concho e vazio feito a bexiga do Mateus
Monstros tardios sem olhos sem beijo sem mãos
O que fizestes do sentido da vida!
Óh vós gigantes da mina e vós anões subterrâneos
Falai!
O que fizestes, o que fizestes do sentido da vida!...

FRATERNIDADE!...
Onde os irmãos nas avenidas!...

Falai!...
Falai!...

IGUALDADE!...
Onde os irmãos entre os palácios!...

Falai!...
Falai!...

EU SOU AQUELA QUE DISSE:
Raça culpada, a vossa destruição está próxima!
Pois não vedes o sangue dos crepúsculos!
Não vedes o dia novo das auroras!...

Falai!... Falai!... Falai!... Falai!...

(Os policiais estão chanfalhando o povo nas galerias. Levam a Mãe presa.)

(Pano)


SEGUNDA CENA

“O ÊXODO”

(Na estaçãozinha do trem de ferro. Vêm chegando os colonos ao apelo da cidade. Primeiro chegam os moços, estão esperançosos, brincalhões. Contentes de viver na cidade.)



(SEGUNDA VERSÃO PRA SER MUSICADA)

Falai se há dor que se compare à minha!...

Óh gigantes inflexíveis da mina do ouro
Óh anões subterrâneos da servidão
Magnatas com seus poetas laureados, galões e galinhas
Pastéis, pastores, professores, jornalistas e genealogistas
Óh melancias e melaços, burros borras, borrachas, molhos pardavascos,

Óh grandavascos e vendidovascos
O vosso peito ladrilhado com pedrinhas diamantes
É concho e vazio feito a bexiga do Mateus
Monstros tardios sem olhos sem beijo sem mãos
O que fizestes do sentido da vida!
Óh vós gigantes da mina e vós anões subterrâneos
Falai!
O que fizestes, o que fizestes do sentido da vida!...

FRATERNIDADE!... IGUALDADE!...
Onde os irmãos nas avenidas!
Onde os irmãos entre os palácios!

Falai!...
Falai!...

EU SOU AQUELA QUE DISSE:
Raça culpada, a vossa destruição está próxima!
Pois não vedes que o ponteiro está chegando na hora?
Pois não vedes o sangue dos crepúsculos?
Não vedes o dia novo das auroras!...

Falai!... Falai!... Falai!... Falai!...

(Os policiais estão chanfalhando o povo nas galerias. Levam a Mãe presa.)

(Pano)


Aqui se interrompe a Visão de Mário de Andrade, deixando seus leitores-eleitos em suspenso até esta geração... Imbuídos dos novos ares de país em franco desenvolvimento em pleno início de Terceiro Milênio, poderíamos inferir que houve uma revolução socioeconômica em benefício da população de baixa renda, aqui no Brasil, sem derramamento de sangue? Deixo em aberto essa questão para os meus leitores repensarem a atual realidade brasileira. Desejo uma boa leitura para os que me visitam em meus Blogs. Apesar de ainda não existir o hábito do estudo crítico-literário entre a maioria dos Internautas, acredito que posso conquistá-los simplesmente porque temos escritores e poetas geniais como um Machado de Assis, um Mário de Andrade, um Carlos Drummond de Andrade, um João Guimarães Rosa, um João Cabral de Mello Neto e outros — citando somente os Nacionais! Por isso, confiante na qualidade dos textos apresentados e em seus poderes de atração, continuo publicando-os.

Termino com o pensamento de Francis Bacon: “Não há nada tão pernicioso à filosofia como o fato de as coisas familiares e que ocorrem com frequência não atraírem e não prenderem a reflexão dos homens, mas serem admitidas sem exame e investigação das suas causas”.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

VI - MÁRIO DE ANDRADE: UM UTOPISTA? - CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA: POSFÁCIO DE MÁRIO DE ANDRADE

VI - MÁRIO DE ANDRADE: UM UTOPISTA? - CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA: POSFÁCIO DE MÁRIO DE ANDRADE

NEUZA MACHADO

Mário de Andrade, em 15 de dezembro de 1942, apresentou ao público um pequeno comentário sobre a sua obra “Café: Concepção Melodramática” e chamou-a de “épica” e disse ter se sentido recompensado por tê-la realizado. Falou de suas convicções estéticas, de seu desejo de Paz (a Segunda Guerra Mundial estava em plena efervescência), de sua angústia ante a miséria em que estava vivendo o deserdado povão brasileiro. Fez premonições quanto ao futuro do Brasil que, à época, estava passando por terríveis dificuldades sócio-econômicas. A indústria cafeeira, a locomotiva do progresso brasileiro daquela época, principalmente de São Paulo, sofrera um desgaste econômico e os grandes produtores estavam indo à bancarrota. A falência comercial dos grandes produtores de café atingiu a classe trabalhadora do campo e da cidade (os trabalhadores paulistas e de outras regiões do Brasil, e trabalhadores estrangeiros aqui radicados, dependiam do café para suas sobrevivências sócio-familiares). A aguda miséria tomara conta da classe operária do povo brasileiro. Mas, os jornais e revistas da época camuflaram o mais que puderam tal ocorrência. Os inspirados escritores – ficcionistas, poetas, dramaturgos – não! Estes legaram-nos “incômodas” páginas transcendentais denunciando o grave problema.

E ainda dizem que a ficção literária é mentirosa! Dizem: “Isto é literatura!” ou “Isto é pura ficção!”. A ficção paraliterária, linear, rasteira, telúrica, sentimentaloide, com certeza é mentirosa. A Ficção-Arte, aquela que interage com o superior imaginário-em-aberto do escritor jamais poderá ser conceituada como mentirosa. Esta Ficção Incomum sai do particular da inspiração criativa para o universal, alcança tempos futuros e vai vigorosamente “incomodar” os leitores do porvir.

Mas deixemos que o próprio Mário de Andrade explique a sua obra. Vamos à leitura de seu interessante Posfácio.

Finalizo esta etapa deixando no ar a pergunta que fiz ao início das postagens sobre este texto de Mário de Andrade e nas postagens seguintes: MÁRIO DE ANDRADE FOI UM UTOPISTA? APENAS SONHOU OU REALMENTE PREVIU UMA REVOLUÇÃO SOCIAL NO FUTURO DO BRASIL?

(Aqui, vale repensar o texto de Mário de Andrade em confronto com uma pesquisa sobre a História Sócio-Econômica do Brasil desde o início da República até aos dias atuais. Para tal empreendimento, o leitor-pesquisador terá de se despejar de ideologias políticas pré-concebidas e atávicos preconceitos existenciais).


“Eu me sinto recompensado de ter feito esta épica. Dei tudo o que pude a ela, pra torná-la eficaz no que pretende dizer, lhe dei mesmo com paciência os mil cuidados de técnica, pra convencer também pelo encantamento da beleza. Mas duma beleza que não perde o senso, a intenção de que deve ser bruta, cheia de imperfeições épicas. Nada de bilros nem de buril. Pelo contrário, muitas vezes a perversidade impiedosa da idéia definidora por exagero, fiz acompanhar da perversidade tosca da voluntária imperfeição estética.

Me sinto “recompensado” eu falei, não tive a menor intenção, nem sombra disso! de me dar por feliz. Como eu tenho uma saudade incessante dessa paz, dessa “PAZ” que os vitoriosos invocaram para um futuro mais completado em sua humanidade. Eu tenho desejo de uma arte que, social sempre, tenha uma liberdade mais estética em que o homem possa criar a sua forma de belezas mais convertido aos seus sentimentos e justiças do tempo de paz. A arte é filha da dor, é filha sempre de algum impedimento vital. Mas o bom, o grande, o livre, o verdadeiro será cantar as dores fatais, as dores profundas, nascidas exatamente desta grandeza de ser e de viver.

Há-de ser sempre amargo ao artista verdadeiro, não sei si artista bom, mas verdadeiro, sentir que se esperdiça deste jeito em problemas transitórios, criados pela estupidez da ambição desmedida. Um dia o grão pequenino do café nunca mais apodrecerá largado no galho. Nunca mais os portos de todos hão-de se esvaziar dos navios portadores de todos os benefícios da terra. Nunca mais os menos favorecidos de forças intelectuais estarão nos seus lugares, porque não tiveram ocasião de se expandir em suas realidades. Não terão mais de partir, na busca lotérica do pão. Então estarão bem definidas e nítidas pra todos as grandes palavras do verbo. Terá fraternidade verdadeira. Existirá o sentido da igualdade verdadeira. E o poeta será mais verdadeiro.

Então o poeta não “quererá” ser, se deixará ser livremente. E há-de cantar mandado pelos sofrimentos verdadeiros, não criados artificialmente pelos homens, mas derivados naturalmente da própria circunstância de viver. Me sinto recompensado por ter escrito esta épica. Mas lavro o meu protesto contra os crimes que me deixaram assim imperfeito. Não das minhas imperfeições naturais. Mas de imperfeições voluntárias, conscientes, lúcidas, que mentem no que verdadeiramente eu sou.

São Paulo, 15 de dezembro de 1942.

MÁRIO DE ANDRADE

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

V - MÁRIO DE ANDRADE: UM UTOPISTA? - CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA: 3o ATO (FINAL)

V - MÁRIO DE ANDRADE: UM UTOPISTA? - CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA: 3o ATO (FINAL)

NEUZA MACHADO

Mário de Andrade (em 15 de dezembro de 1942), ao final de seu texto “Café: Concepção Melodramática (Em três atos)”, chama-o de “épica”: “Eu me sinto mais recompensado de ter feito esta épica. Dei tudo o que pude a ela, para torná-la eficaz no que pretende dizer, lhe dei mesmo com paciência os mil cuidados de técnica, pra convencer também pelo encantamento da beleza. Mas duma beleza que nunca perde o senso, a intenção de que devia ser bruta, cheia de imperfeições épicas. Nada de bilros nem de buril. Pelo contrário, muitas vezes a perversidade impiedosa da idéia definidora por exagero, fiz acompanhar da perversidade tosca da involuntária imperfeição estética”.

Este texto de Mário de Andrade não pertence ao gênero Épico, assim como não pertence ao Gênero Dramático (apesar dos subtítulos). É um inquietante texto ficcional de especialíssimo valor literário, um texto incomum e precioso. Outros escritores também agiram assim, por exemplo, a Comédia (Divina Comédia) de Dante Alighiere não pertence ao Gênero Dramático, é um épico pré-renascentista. Mas que há matéria dramática no texto de Mário de Andrade, não há dúvida, assim como há matéria lírica e, em menor grau, matéria épica. O porquê de Mário de Andrade se referir ao seu texto como “épica”, somente ele poderia explicar. Deveria haver um motivo, um motivo tão singular, justamente pelo fato de ele mesmo ter escrito um outro texto, sobre o mesmo assunto, realmente poético-dramático: “Café – Tragédia Secular - O Poema”. Este sim, mesmo designado como poema (e realmente a carga lírica ali contida é imensa), possui todos os Fenômenos Estilísticos do Gênero Dramático. Enfim, o Poeta Mário de Andrade era brilhante e incomum (um grande escritor que será sempre com especial justiça reverenciado, isto enquanto houver um leitor-eleito a se interessar pelos seus textos).

E aqui continuamos com a nossa questão central: MÁRIO DE ANDRADE FOI UM UTOPISTA? APENAS SONHOU OU REALMENTE PREVIU UMA REVOLUÇÃO SOCIAL NO FUTURO DO BRASIL?


CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA

(Em três atos)


TERCEIRO ATO


DIA NOVO


O que eu chamo de “Dia Novo” é o dia da vitória da revolução que afinal acabou estourando mesmo. Chegara enfim o tempo em que o povo não tivera capacidade mais pra não se revoltar, se revoltara. Vai haver luta, briga brava em cena, que estamos num desses tentáculos de guerra com que a revolução se espraiando pela cidade convulsionada, a dominara afinal. As mulheres, no cortiço em que a cena se desenrola, são mulheres de operários, as mesmas vestimentas vivas das mulheres dos estivadores do primeiro ato. Os soldados da situação governista estarão num cáqui acinzentado bem neutro, contrastando com as cores vivas dos revoltosos. Estes, carece fazer todos eles vibrar muito no colorido. São operários, estivadores, acessoristas em vermelho, rapazes estudantes com suas blusas de esporte, uniformes civis, empregadinhos. E alguns soldados também, mas dólmãs abertos, lenço encarnado no pescoço, libertos de seus quépis.

O pano subiu vagarento num completo silêncio musical. É noite, não se divisa nada no escuro, apenas umas luzinhas vão se abrindo muito longe e talvez, no fundo uma pequena mancha rubra. Um clarão de incêndio talvez. O palco está vazio. Depois de um meio minuto decorrido assim, mais para o fundo do palco, se ilumina um lampião de rua. Luz bem fraca, desses lampiões destratados de bairro pobre, não permitindo perceber ainda o pano do fundo, jogando apenas a sua mancha branquiçada sobre o muro que lhe está na frente e separa o pátio do cortiço em que estamos, da rua que faz o fundo do palco. Como que despertado pela iluminação do lampião, um instrumento grave na orquestra principia rondando entre as tonalidades, numa voz indecisa.

Eis que bem na frente, junto à ribalta, no canto direito de cena se acende uma lâmpada e o espectador ainda pega a operária com os dois braços erguidos, no ato de fazer a ligação elétrica. E a lâmpada nova apenas ilumina esse interior de casinha, uma das várias que dão para o pátio do cortiço. Mas como a janela da casinha está aberta, uma réstia larga de luz vai morder o chão do pátio. Pátio naturalmente vazio, sem plantas, sem nenhum prazer. Bem no centro dele, junto do ponto quase, está o poço, que naquele bairro pobre e longínquo ainda não chegou a rede de água e esgotos.

Mas naquele pedaço pequeno de casinha operária, a mulher está meia inquieta, meia sem quefazer. Vem à janela e fica espiando as bulhas da noite. a orquestra, soturna sempre, está se arripiando toda de frasinhas angustiadas. A luz da casinha mostra apenas, mais para frente a mesinha do rádio, talvez um banco, e mais no fundo um colchão no chão, onde já dormem duas crianças-bonecas de três e cinco anos. Mas a mais velha, seus sete anos, está acordada, muito entretida em mexer com o rádio. Afinal consegue obter uma ligação e na soturnidade do ambiente, o espíquer agudo principia contando coisas da revolução. Meio parece parolagem o que ele diz, cheio de frases-feitas. Diz que a revolução está vencendo mas isso toda a gente diz, faz três dias que o marido dela não aparece, e esta coisa não se acaba nunca! Irritada a mulher fecha o rádio. Mas a orquestra agora já se completou, e divaga, cheia de bulhas soturnas, arripiada de frasinhas de ansiedade, um caos inquieto, de interrogações e ameaças.

É neste instante que se abre a porta duma das casinhas do cortiço, de outro lado da cena. É mais uma luz de lâmpada elétrica que morde o vazio do pátio. Um meninote surgiu, seus dez anos. Se escuta um grito atrás dele. E o menino foge atravessando o pátio todo e vindo, por instinto, na direção da outra luz, da casinha iluminada. Mas vem atrás dele a mãe correndo com angústia, o persegue, o consegue alcançar já bem próximo da janela luminosa que o chamou, o esconde nos braços, o protege com o corpo, não vá alguma bala perdida destruir aquele filho. Com o grito, a mulher da casinha se precipitou para a janela. Porém não foi ela só que escutou o grito. De todas as casinhas, as portas se abrem, jogando jatos retos de luz no pátio. E surgiram por elas mulheres, mulheres moças casadas, algumas velhas trôpegas, vêm saber, querem saber, correm todas pra junto da mulher e seu filho, estão assustadíssimas, o grito ainda as desarvorou mais naquela inquietação medonha da espera, estão juntinhas umas das outras, e se contam o seu susto, um cânone veloz, que as idéias e os sentimentos de todas são sempre os mesmos e lhes encurtam numa corrida desesperada o pensamento e o coração.

Um grito de alarma rasga a cena. Passou um homem fugindo pela rua, atrás do muro. A orquestra zanga, esbravejando muito, e em bulhas abafadas na rua, por detrás do muro, se percebe que um grupinho de homens persegue fugitivo. Há um pequeno choque de armas. Um tiro, um soluço de dor, um tombo pesado. Batem com fúria no portão do cortiço. As mulheres estarrecidas nem se mexem, como que até se unem mais, um bloco humano apavorado. Mas a menina da casinha sabe lá agora o que é revolução! Estava mexendo no rádio outra vez e consegue ligar de novo. E o rádio, como falara mesmo, enquanto espera notícias frescas pra comunicar, está no lerolero duma varsa besta, bem “hora da saudade”, em pleno choro de sensualidades fáceis. A varsa chega a tocar seu bom minuto, porque a mulher, ainda muito tomada de pavor, à janela, junto das outras, não pusera reparo na festa. Mas afinal percebe, faz um gesto de desesperada, vem, fecha o rádio, empurra a menina pra longe.

Mas corre à janela outra vez. Não vê que o barulho recrudesceu na rua, e não tem dúvida mais, a revolução chegou no bairro afastado, e agora é um grupo grande que está brigando na rua. O som parece agradável, que os soldados governistas estão mudos, mas a voz clara, entusiasmada, viril dos revolucionários vai cantando, luta cantando, com o som da música animando os corações. Mas batem com violência, batem muito no portão. A luta parece que vai cessar outra vez, cessar não, vai passar, vai continuar subindo a rua, já deve ter virado a esquina longe, o silêncio volta, mais claro, porque era visível, os revolucionários é que vinham perseguindo os situacionistas.

Tam... tam... tãtam, batidas convencionais no portão. Isso uma mulher se destaca do grupo, corre feito doida, amalucada, corre rapidíssimo até o centro do pátio, não sabe o que fazer, gira sobre si mesma na indecisão, morde uma mão com a outra e afinal se atira ao portão e abre. O abre a meio, e pelo vão entram rápido dois operários arrastando um chefe revolucionário, visivelmente um chefe, no dólmã aberto uns galões de sargento e na camisa a mancha rubra do sangue. Está gravemente ferido e vai morrer. Mas agora as mulheres perdem o medo, o esquecem, chamadas ao seu destino de mulher. Se afobam. Entram nas casinhas, saem, trazendo água, panos, uma almofada bem cor-de-rosa pra encostar o moribundo. O qual, carregado pelos dois rapazes e a esposa, veio ser sentado na borda do poço. Mas ele não tem forças mais, escorrega para o chão, enquanto a mulher o aninha no seu peito pra morrer, escorregada com ele. Os dois rapazes operários não têm mais nada que fazer ali, o chefe está em milhores mãos. Um parte rápido e a mulher que lhe vai abrir o portão, agora ficará junto deste, pra abrir si necessário. Mas o outro fica, meio esquecido da luta, é o chefe do esquadrão dele que morre. Em pé, erecto, o rapaz sofre muito e mesmo num momento, num gesto raivoso de vergonha limpa as costas da mão a lágrima. Mas o chefe se estertora na morte. Chega a visita da saúde. Para de tremer, vai erguendo o pescoço, se soergue nos braços da mulher que não existe mais pra ele, nem sabe que ela está ali, não saberá mesmo? Os sentidos são muitos. Na aparência o moribundo apenas com os olhos desmesuradamente abertos e o ouvido à escuta colhe e devora os ruídos da luta que recrudesceu na rua. Então o chefe repara no operário ali inútil, vendo ele morrer. Faz um gesto raivoso de ordem. O operário vai pra obedecer, hesita, volta, beija a testa do chefe e parte, deseparecendo pelo portão. O chefe só ergue mais o torso, dá um sorriso de esgar vitorioso e cai morto. A mulher chora soluçado sobre o corpo dele.

As coisas se precipitam. A luta está completamente generalizada por detrás do muro. As mulheres, dignificadas pela morte do chefe, reagem, se entranhando na sanha da luta. Só a menina, completamente de alma azul, está mexendo no rádio outra vez. Por vezes, em cima do muro há um reflexo de baioneta. O portão às vezes é violentamente sacudido. Os cantos se sucedem, coléricos, em fuga, vêm os gritos insultuosos dos soldados governistas, reagindo cegos, feito anões. São anões. E o canto dos revolucionários se torna cada vez mais firme e pertinaz. Não é agitado mais, nem rápido. É firme. È obstinado. È pertinaz. “Fogo e mais fogo! Fogo até morrer” cantam fugato feroz. A bulha da luta aberta é alastrada pela orquestra. Se abre, muito no longe um clarão de incêndio mais forte. E aos poucos irá, nos clarões rubros dos incêndios, se delineando a paisagem vasta do fundo, estamos num subúrbio alto e todo o pano de fundo, sem nenhum céu, é a vista da cidade. No longe, batido pelos incêndios, é o centro da cidade com seus arranha-céus formidáveis. Mas próximos, são as casa de um, de dois andares de bairro, com as janelas de perto suficientemente largas pra se abrirem, aparecer gente nelas. O portão foi de novo sacudido com ansiedade. E o soldado fugitivo surgiu no alto do muro trepado. Ao ver o grupo das mulheres, agora decididas, erectas, enérgicas, hesita. Mas sempre a um fugitivo governista um grupo de mulheres soará menos perigoso que gente bêbeda de revolução, o soldado pula no pátio. Mas logo atrás dele um revolucionário, um estudante apenas, seu blusão de esporte, tem dezenove anos, vem perseguindo o covarde, apenas com um pau na mão. Pula no pátio. Um clarão fortíssimo de um segundo ilumina toda a cena. Foi uma granada arrebentou bem perto, mas que a música, por elevação de arte, desdenhará fazer soar. E o covarde, atemorizado com a criança que lhe vai bater de pau, como ele apenas merece, atira a carabina longe e se joga de joelhos aos pés das mulheres, pedindo a vida. Elas caem sobre eles e os estraçalharão sem piedade, sanhudas. O rapazelho troca o pau pela carabina do soldado, abre o portão, se engolfa na luta, agora enfim entrevista pelo público. E o canto enorme de guerra, nota contra nota, harmônico, sem granfinagens mais de polifonias, unânime, coletivo, se alastra largo e potente pelo teatro todo. È guerra! É guerra! É revolução!... É de parte a parte fogo na nação!... É hora, é hora, é hora! Chegou! chegou! Chegou!... Uma das mulheres agarra o pau abandonado pelo estudantinho, corre ao portão, se engolfa no bolo de morte, batendo, mordendo. A menina conseguiu ligar o rádio outra vez, que agora está berrando as últimas notícias. O presidente da nação já fugiu do palácio e se escondeu no quartel da polícia. Os revolucionários já estão de posse dos Correios e Telégrafos... No Bairro Dourado os gigantes da mina do ouro resolveram morrer com muita aristocracia, bancando Maria Antonieta, marias-antonietas de borra, em grande tualhete, se embebedando que nem gambás. “Patrão! Patrão! Patrão!” invocam os soldados governista, pedindo água pra anões subterrâneos. E fogem pelo pátio, entram pelas portas das casinhas, fugindo. Os revolucionários, os perseguem sem piedade. Um novo clarão vivíssimo, mais vivo, mais próximo que o primeiro cega a cena toda, o muro cai com a explosão. As mulheres estão lutando. O rádio grita, berra, estronda. Vitória! Vitória! O presidente foi preso, o Bairro Dourado está em chamas. Os clarões dos incêndios agora clareiam toda a cidade longínqua, lambendo as paredes dos ilustres arranha-céus, as pombas enlouquecidas se agarram nas marquesas dos arranha-céus. Piedade! Piedade! Berram os soldados jogando longe as armas de aluguel. Perdão! Perdão! perdão! Mas os revoltosos, cegos, impiedosos, que piedade nada! “Café! Café! Café!” gritam desvairados, café! café! café! Vitória! Vitória! E vêm, quem são! são os palhaços, são anões subterrâneos, são apenas um magote de deputados de negro, vêm, são as primadonas da vida, vêm, junto da ribalta, entre a casinha iluminada e o poço, vê, e com gestos de primadona, botando as mãos no peitinho, caem mortos, formando um bolo de cadáveres divertido. E vêm, vêm também numa revoada, um ramilhete de aristôs de ambos os sexos, casacas de coletes, vidrilhos, garrafas de uísques, de champanha, de fine, vêm até a ribalta, do lado oposto ao dos deputados e caem mortos noutro bolo engraçado de esqueletos podres, emborcado pela última vez as garrafas desonradas.

E vem, mais até parece outra, no delírio da vitória, vem a Mãe no seu vestido vermelho estraçalhado, um seio todo à mostra, o lenço verde da cabeça caindo num dos ombros, vem completamente louca, delirando, com uma enorme bandeira e branca nas mãos. Avança, corre, seguida de muitas mulheres tão selvagens como ela, tão assanhadas, tão doidas, manchadas de sangue, rasgadas, muitos revoltosos a seguem cercando o grupo feroz. Ferozes, ferozes, todos rindo em esgares horríveis, caras numa exaltação primária, são monstros admiráveis, irracionais, faz medo olhar. Todas as janelas de fundo estão abertas, iluminadas, com gente incitando os vitoriosos. Os incêndios tomaram tanto a cidade que tudo está claro agora, violentamente clareado numa luz vermelha. A Mãe trepou no poço. Tem aos pés o chefe que morreu, tem as irmãs em torno, os revolucionários cercando, todo o palco cheio de vitória. Os camarotes, frisas do proscênio são invadidos por mais gente da vitória com suas enormes bandeiras vermelho-e-branco oscilando. Só a menina, depois que o rádio acabou de falar, já cansadinha foi dormir com os manos no colchão.

A calma desce do ar, a calma forte, já agora mais sadia e humana da vitória, e a Mãe se imobiliza. Todos são dominados pela grandeza augusta daquela mulher. E ela entoa o hino da vitória da vida, que todos repetem. Eu sou a fonte da vida, Força, Amor. Trabalho, Paz!... Os holofotes estraçalham as últimas escurezas esparsas no ar. E o povo berra imensamente vasto! Paz!... O pano cai com estrondo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

IV - MÁRIO DE ANDRADE: UM UTOPISTA? - CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA: 2o ATO - 2a CENA


IV - MÁRIO DE ANDRADE: UM UTOPISTA? - CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA: 2o ATO - 2a CENA

NEUZA MACHADO

Nesta Segunda Cena do Segundo Ato (lembrem-se: apesar de uma certa semelhança com a criação literária própria da dramaturgia, o texto não pertence ao Gênero Dramático, pertence ao Gênero Narrativo em Prosa/Ficção-Arte), Mário de Andrade denuncia criativamente o ápice da pobreza do povão brasileiro dos anos trinta e quarenta do século XX (fosse na cidade ou no campo). A matéria dramática (repito: não é gênero dramático) aliada a uma altíssima criatividade ficcional interage catarticamente (catársis indireta) com a sensibilidade/racionalidade do leitor-crítico de hoje, um leitor mais apto a perceber os desmandos políticos-sociais de tempos pretéritos (infelizmente, em relação à atualidade, não são todos os brasileiros e leitores-críticos que, concientemente, percebem as arapucas sócio-políticas que almejam o retrocesso em benefício de poucos; infelizmente, ainda há os que lêem pela cartilha da incompreensão e do preconceito). É bem verdade que a questão da pobreza no Brasil ainda continua, diminuiu consideravelmente, mas ainda continua. Mesmo assim há uma grande diferença em relação ao passado: hoje, há a possibilidade de lutar e vencer e extirpar este cancro político-social que envergonha os que têm consciência desta grave calamidade publica.

Mas aqui continuamos com a nossa questão central: MÁRIO DE ANDRADE FOI UM UTOPISTA? APENAS SONHOU OU REALMENTE PREVIU UMA REVOLUÇÃO SOCIAL NO FUTURO DO BRASIL?


CAFÉ: CONCEPÇÃO MELODRAMÁTICA

(Em três atos)


SEGUNDO ATO - SEGUNDA CENA


O ÊXODO

São os ritmos de uma marcha pesada, arrastada, fatigadíssima já. Sons tristes, sons lastimosos, se diria de marcha fúnebre. Estamos numa dessas estaçõezinhas de trem-de-ferro, postadas nos vilarejos de três, quatro casas, pra serviço de embarque da grande indústria do café. Até lhe puseram o nome “ESTAÇÃO PROGRESSO”, que se lê na tabuleta de início da plataforma, que começa no meio do palco. A estaçãozinha mesmo quase não se vê. Apenas, na direita da cena, o princípio do edifício e quase meia porta apenas. É a tardinha. Pra cá da plataforma e do edifício passa a linha do trem. No lusco-fusco rosado, os trilhos ainda colhem um resto mais franco de luz. A paisagem do fundo ainda se percebe, cafezal, cafezal, o cafezal infindável, no ondular manso dos morros. Nada mais.

Só aquela marcha pesada que vem chegando. Primeiro chegam os moços. São os colonos, aqueles mesmos colonos da famosa Companhia Cafeeira S. A. que vimos despedidos no primeiro ato. Na frente vieram os moços, mais fortes, que podem andar sem a ajuda de ninguém. Rapazes e raparigas, cada qual vem por si, e param por aí, na espera do trem de segunda classe, que ninguém sabe a que horas será composto. Não há mais vagões de segunda classe. É que de todas aquelas terras felizes, agora tornadas invivíveis, o povo está fugindo. Onde vão parar? São estes os que vão parar desocupados nas esquinas das ruas, no parapeito dos viadutos, nos crimes da noite urbana, roubando quando podem esmolando, matando pra roubar. São os criminosos. Não os criminosos-natos, são os criminosos feitos.

Pois os moços se arrancharam por aí, na espera do trem. Brincam, são moços. Os namorados aproveitam pra namorar, se separando aos pares. Mas os outros passam o tempo com brinquedos ásperos de colonos, se atiram coisas com intenção de machucar um pouco, sem machucar não é brinquedo, meio que se generaliza esse brinquedo, até que aquela rapariga mais perigosa teve a idéia milhor. Tirou da trouxinha um alimento, uma última banana que toma o cuidado de mostrar bem. Todos ficam logo desejando e ela atira a banana bem no meio da cena. Isso, os rapazes todos se atiram sobre a fruta boa, até os namorados se esqueceram que amavam. É aquele bolo humano, pernas, braços, tombos, se mexemexendo no chão. Um consegue a banana e com brutalidade se destaca do grupo, triunfante. Vai pra comer, mas ainda com tempo se lembra da proprietária. Lhe põe a banana na boca que ela morde com vontade, enquanto ele devora o resto. Ninguém mais está com vontade de brincar. Uns sentam no chão, outros na plataforma. Fazem silêncio, mudos, pensativos, e se escuta outra vez o ritmo lamentoso da marcha, na orquestra.

Agora são os casados que chegam. Estes vêm aos pares, braços dados, se ajudando. E também se ajeitam por aí, sem mais nenhum ar de brinquedo. Não sabem brincar mais. O coração está apertado com aquela solução de vida. Pois não venceram tantos trabalhos, tantos sacrifícios, não aguentaram tantas omissões? Agora já estavam bem regularmente arranjados na vida. Tinham enfim conquistado as graças daquela cidade terrível, postada como sentinela impiedosa na abertura dos caminhos de serra-a-cima, dona das sete doenças do frio, não deixando ninguém passar. Mas eles tinham conseguido vencer a ciumenta de serra-acima e então ela os tomara pelas suas próprias mãos e os trouxera para aqueles chãos felizes. E eles tinham amado tanto aqueles chãos. Ali a vida era boa, e trabalho sadio, muitos enriqueciam e se passavam para o bando dos gigantes... Eles amavam aqueles chãos e quem disse pensar em partir outra vez! Haviam de viver e de morrer ali. Mas aqueles chãos felizes e a cidade legítima foram traídos, a ruína chegara, o café apodrecera no galho. E como o fumo ácido afugenta os insetos de beira-rio, eles também partiam de seus chãos, afugentados pela fumaça torva do café queimado.

É quase noite já. A cólera ronda aquele troço de infelizes. O ódio aos gigantes da mina fareja sangue no ar. Tudo está escuro, muito escuro já. Apenas na fímbria do horizonte uma faixa encarnada violenta denuncia a existência de um sol. A orquestra marcha cada vez com mais dificuldade, se arrasta aos socos pesadíssimos de pés exaustos. Muito longe se escuta um rumor estranho, feio. Parecem uivos lamentosos, parecem, choros de morte. E o rumor aumenta pouco a pouco, aumenta. Agora se distingue bem: são uivos, são lamentos humanos, são gritos horríveis de imprecação. E os colonos tapam os ouvidos, escondem os olhos, se agitam, não suportam aquela visão horrível que vem chegando. E vem chegando os grupos de velhos e crianças. Parecem monstros, pencas de monstros, aos três, aos quatro, se ajudando em grupo, que ninguém pode consigo mais. O chefe da Estação Progresso surgiu da meia porta. Atravessa a cena, e bem aqui na frente, na ribalta, pendura um cartaz que trouxe e lhe põe uma lâmpada por cima, pra que todos saibam que

TREM DE SEGUNDA CLASSE NÃO HAVERÁ MAIS

É o que diz o cartaz. E naquele estrondar de uivos, de lamentos lacinantes, os grupos vão atravessando a cena toda e desaparecem. Ritmo cadenciado, lento, aos empuxões pesados. Ritmo de coisa que marcha por desgraça, ritmo de supliciados. E o pano cai ainda mais lento, como sem cair, enquanto os grupos marcham, se arrastam, se morrem naquela marcha monstruosa.

(Amanhã postarei o Terceiro Ato — DIA NOVO — deste inquietante texto de Mário de Andrade)