O GIGANTE Nº 7
Cassiano
Ricardo
Ia Apuçá, o Gigante Surdo,
buscando outra terra, lá
longe,
onde pudesse trabalhar.
“Não te dou terra, te dou
ouro!”
uma montanha toda ouro
apareceu em seu lugar.
Mas Apuçá, o Gigante Surdo,
que já estaria caminhando
duzentas léguas sem parar
naquele jogo de onde e
quando,
vai alcançar o Tosão de
Ouro:
“Não te dou ouro, te dou
prata!”
uma montanha toda branca
Apareceu em seu lugar.
Mas Apuçá, o Gigante Surdo,
Que já estaria caminhando
mais meio mundo sem parar
vai alcançar a noiva branca
“não prata, te dou
esmeraldas!”
uma montanha toda verde,
apareceu em seu lugar.
Que o fez andar, sem mais
parar.
Que não mudava mais de cor;
que ia mudando de lugar.
Por isso, em toda caminhada
de quem se vai pelo sertão,
seja quando, ou por onde
for,
ou seja noite, ou madrugada,
há uma montanha, toda verde,
sempre mudando de lugar,
só pra o fazer caminhar.
Pois quem caminha vendo, ao
longe,
a antiga Serra da Esperança,
que muda sempre de lugar,
como Apuçá, o Gigante Surdo,
caminha agora a vida
inteira;
é surdo a todas as
distâncias.
é gigante de tanto andar!
Afinal, o que é Esperança?
num país ainda criança,
é uma coisa bem brasileira,
é uma forma de caminhar.
RICARDO, Cassiano. Martim Cererê. 13. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1974: 119
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