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sábado, 27 de novembro de 2010

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO – “O GRANDE SONHO QUASE VIVIDO”

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO – “O GRANDE SONHO QUASE VIVIDO”

NEUZA MACHADO

"Quer queira quer não, o romancista revela o fundo de seu ser, ainda que se cubra literalmente de personagens. Em vão ele se servirá "de uma realidade" como uma tela. É ele que projeta essa realidade, é ele sobretudo que a encadeia. (Gaston Bachelard)


Mário de Sá-Carneiro (Portugal, 1890 / França, 1916), poeta e ficcionista, participou, ao lado de Fernando Pessoa, Almada Negreiros e outros importantes escritores, da primeira fase do chamado Modernismo Português.

As reformulações no âmbito da literatura portuguesa, a partir da revista Orpheu, refletiram de certa forma a realidade beligerante da Europa (Primeira Guerra Mundial - 1914-1917), uma caótica realidade que atingiu também, interlinearmente, outros pontos da Terra. Entretanto, diferente dos poemas revolucionários, propostos pelos poetas futuristas de Paris, liderados pelo italiano Marinetti (entre os anos de 1909 a 1910), nas inovações poéticas do grupo português não se realçou a chamada rejeição aos valores literários do passado. Ao contrário, evidenciou-se um saudosismo diferenciado, realizado por meio de inovadoras operações de como apreender a poesia (certamente uma nova orientação formal no campo da ação poética), mas, internamente, conservando uma indelével ligação com o glorioso passado de Portugal.

Mário de Sá-Carneiro, enquanto poeta e escritor de grande sensibilidade, deixou transparecer em seus poemas e em sua ficção a própria inadequação à realidade beligerante e ameaçadora que o circundava. Entre os poetas de sua geração, foi o que mais sofreu a dor da “perda da identidade” (característica primordial do homem do século XX), a falta de domínio do nome familiar reverenciado, a perda da antiga aura dos heróis portugueses, desbravadores de inóspitos mundos (“E mãos de herói, sem fé, acobardadas, Puseram grades sobre os precipícios...”).

O poema “Quase”, transcrito abaixo, poderá revelar-lhes muito mais sobre este grande poeta da primeira fase do Modernismo Português:



QUASE

Mário de Sá-Carneiro

Um pouco mais de sol — eu era brasa,
Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho — ó dor! — quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim — quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CESÁRIO VERDE E A INDÚSTRIA CULTURAL DO SÉCULO XIX

CESÁRIO VERDE E A INDÚSTRIA CULTURAL DO SÉCULO XIX

NEUZA MACHADO

Cesário Verde, poeta do Realismo Português, legou-nos, em forma de versos, um importante depoimento sobre a realidade cultural de seu país, na segunda metade do século XIX. Em seu poema “Contrariedades”, além de desenvolver poeticamente um consciente olhar crítico à miséria que atingia uma grande parte da população portuguesa, reclamou do descaso dos editores, os quais relegavam ao ostracismo as produções poético-literárias de mais valor (favorecendo as matérias insípidas, entretanto, financeiramente, lucrativas).



CONTRARIEDADES

Cesário Verde


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensantemente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de falta d’ar; morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para as sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa de um jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo
Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingênuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa

A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exatos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe umedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se, e todavia, à tarde, francamente,
Ouço-a cantar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame a intriga, o anúncio, a blague
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...

E estou melhor; passou-se a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

PARA REFLETIRMOS SOBRE O ATUAL CONCEITO DE EDUCAÇÃO NO BRASIL


PARA REFLETIRMOS SOBRE O ATUAL CONCEITO DE EDUCAÇÃO NO BRASIL

NEUZA MACHADO

Para que os Internautas-Leitores deste Blog possam refletir sobre o conceito de educação no Brasil, nestes anos iniciais do Terceiro Milênio (interagindo conscientemente com o inovador “repouso fervilhante” bachelardiano, à semelhança do que nos ensina o filósofo francês Gaston Bachelard, em seu livro A Dialética da Duração), e do Prefácio do livro de Carlos Brandão A questão política da educação popular (publicado em 1982), insiro aqui também o ponto de vista de Luzia Pereira, estudante de Letras, em
seu momento histórico de 2010 (sobre este assunto ainda tão controvertido em nossos meios educacionais).


EDUCAÇÃO COM AMOR (2010) – TEXTO SOBRE O CONCEITO DE EDUCAÇÃO PELO PONTO DE VISTA DE UMA ALUNA DE LETRAS

Luzia Pereira


Um dia alguém que se achava no direito de determinar o que era o certo e o errado estabeleceu que as crianças de famílias burguesas deveriam ser educadas de tal forma que os valores de sua classe, a partir daquela época, fossem gravados em suas mentes para nunca mais esquecerem. Não posso afirmar se essa “marca” foi feita com indiferença ou com amor, somente sei que algumas crianças do passado tiveram sorte e outras não em seus processos de aprendizagem.

Foram os pedagogos, anteriores ao século XX, que iniciaram a revolução na maneira de encarar o ensino formal oferecido às crianças e promoveram a aproximação da percepção infantil, imaginativa e pré-consciente aos conceitos já formados pelos adultos. Mas, como esses pedagogos ainda estavam presos aos conceitos formais, foi necessário acontecer o cisma entre a forma e o significado, por ocasião do Movimento Modernista.

No Brasil, especificamente, percebe-se que foram os nossos ficcionistas e poetas do início e meados do século XX que conseguiram se desprender do passado e estimular um contato renascido e dinâmico entre si e seus leitores, e entre estes e a realidade ao redor. De tal forma que as primeiras percepções puderam vir à tona, como se, tanto ficcionistas e leitores, voltassem a ser crianças vendo o mundo pela primeira vez. Em seus escritos, foram expostos os novos conceitos, plenos de verdade, que bem poderiam ser chamados de ensinamentos. Constata-se que esses ensinamentos, apesar de estarem entrelaçados pelos conceitos formais, estavam repletos do vigor de novas imagens. Essas, por sua vez, assemelhavam-se às imagens que povoam a mente das crianças.


“A educação pela pedra”, de João Cabral de Melo Neto, mais do que dizer que a pedra ensina, quer dizer que, em meio à pedra, se ensina, e, talvez, ensina-se mais, porque aquele que ensinou com ou em meio à pedra, ensinou somente aquilo que sabia, que era o que havia sido entendido como de valor e que, portanto, valia a pena ser ensinado. Logo ensinou com amor.


O mesmo entendimento de João Cabral aparece no testemunho de um pai oriundo do meio rural. Esse pai poderia não saber as regras da gramática, mas com certeza sabia as regras de como viver em sociedade. A diferença estava no fato de que a sociedade para a qual aquele pai preparava seu filho, era feita de pessoas semelhantes a ele, sem maiores aspirações quanto à inserção em grupos sociais mais exigentes. Sendo assim, por que ele deveria se preocupar e se sacrificar para oferecer uma formação acadêmica a seus filhos? No entanto, esse pai agricultor conseguiu demonstrar que mais vale um ensinamento dado com amor e que foi testado antes pelo próprio “professor” do que um ensinamento muitas vezes vazio e descontextualizado, por isso mesmo inócuo e sem valor para a vida do futuro cidadão.



POEMA "A EDUCAÇÃO PELA PEDRA" DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO PUBLICADO EM 1966


A EDUCAÇÃO PELA PEDRA

João Cabral de Melo Neto


Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela da dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta;
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.


PREFÁCIO DO LIVRO A QUESTÃO POLÍTICA DA EDUCAÇÃO POPULAR ORGANIZADO POR CARLOS BRANDÃO E PUBLICADO NO ANO DE 1982

(BRANDÃO, Carlos (Org.). A Questão Política da Educação Popular. São Paulo: Brasiliense, 1982: 7 – 10)


... Agora, o senhor chega e pergunta: “Ciço, o que é educação?” Tá certo. Tá bom. O que que eu penso, eu digo. Então veja, o senhor fala: “Educação”; daí eu falo: “educação”. A palavra é a mesma, não é? A pronúncia, eu quero dizer. É uma só: “Educação. Mas então eu pergunto pro senhor: “É a mesma coisa? É do mesmo que a gente fala quando diz essa palavra?” Aí eu digo: “Não”. Eu digo pro senhor desse jeito: “Não, não é”. Eu penso que não.

Educação... quando o senhor chega e diz “educação”, vem do seu mundo, o mesmo, um outro. Quando eu sou quem fala, vem dum outro lugar, de um outro mundo. Vem dum fundo de oco que é o lugar da vida dum pobre, como tem gente que diz. Comparação, no seu essa palavra vem junto com quê? Com escola, não vem? Com aquele professor fino, de roupa boa, estudado; livro novo, bom, caderno, caneta, tudo muito separado, cada coisa do seu jeito, como deve ser. Um estudo que cresce e que vai muito longe de um saberzinho só de alfabeto, uma conta aqui e outra ali. Do seu mundo vem um estudo de escola que muda gente em doutor. É fato? Penso que é, mas eu penso de longe, porque eu nunca vi isso por aqui.

Então, quando o senhor vem e fala a pronúncia “educação”, na sua educação tem disso. Quando o senhor fala a palavra conforme eu sei pronunciar, também, ela vem misturada no pensamento com isso tudo; recursos que no seu mundo tem. Uma coisa assim como aquilo que a gente conversava outro dia, lembra? Dos evangelhos: “Semente que caiu na terra boa e deu fruto bom”, (...)


Quando eu falo o pensamento vem dum outro mundo. Um que pode até ser vizinho do seu, vizinho assim, de confrontante, mas não é o mesmo. A escolinha cai-não-cai ali num canto da roça, a professorinha dali mesmo, os recursos tudo como é o resto da regra de pobre. Estudo? Um ano, dois, nem três. Comigo não foi nem três. Então eu digo “educação” e penso “enxada”, o que foi pra mim.


Porque é assim desse jeito que eu queria explicar pro senhor. Tem uma educação que vira o destino do homem, não vira? Ele entra ali com um destino e sai com outro. Quem fez? Estudo; foi estudo regular: um saber completo. Ele entra dum tamanho e sai do outro. Parece que essa educação que foi a sua tem uma força que tá nela e não tá. Como é que um menino como eu fui mudá num doutor, num professor, num sujeito de muita valia?

Agora, se eu quero lembrar da minha: “enxada”. Se eu quero lembrar: “trabalho”. E eu hoje só dou conta de um lembrarzinho: a escolinha, um ano, dois, um caderninho, um livro, cartilha? Eu nem sei, eu não lembro. Aquilo de um bê-a-bá, de um alfabetozinho. Deu pra aprender? Não deu. Deu pra saber escrever um nome, pra ler uma letrinha, outra. Foi só. O senhor sabe? Muito companheiro meu na roça, na cidade mesmo, não teve nem isso. Agente vê velho aí pra esses fundos que não sabe separar um A dum B. gente que pega dum lápis e desenha o nome dele lá naquela dificuldade, naquele sofrimento. Mão que foi feita pro cabo da enxada acha a caneta muito pesada e quem não teve prazo dum estudozinho regular quando era menino, de velho é que não aprende mais, aprende? Pra quê? Porque eu vou dizer uma coisa pro senhor: pra quem é como esse povo de roça o estudo de escola é de pouca valia, porque o estudo é pouco e não serve pra fazer da gente um melhor. Serve só pra gente seguir sendo como era, com um pouquinho de leitura. (...)

O senhor faz pergunta com um jeito de quem sabe já a resposta. Mas eu explico assim. A educação que chega pro senhor é a sua, da sua gente, é pros usos do seu mundo. Agora, a minha educação é a sua. Ela tem o saber de sua gente e ela serve pra que mundo? Não é assim mesmo? A professora da escola dos seus meninos pode até ser uma vizinha sua, uma parente, até uma irmã, não pode? Agora, e a dos meus meninos? Porque mesmo nessas escolinhas de roça, de beira de caminho, conforme é a deles, mesmo quando a professorinha é uma gente daqui, o saber dela, o saberzinho dos meninos, não é. Os livros, eu digo, as idéias que tem ali. Menino aqui aprende na ilusão dos pais; aquela ilusão de mudar com estudo, um dia. Mas acaba saindo como eu, como tantos, com umas continhas, uma leitura. Isso ninguém não vai dizer que não é bom, vai? Mas pra nós é uma coisa que ajuda e não desenvolve.


Então, “educação”. É por isso que eu lhe digo que a sua é a sua e a minha é a sua. Só que a sua lhe fez. E a minha? Que a gente aprende mesmo, pros usos da roça, é na roça. É ali mesmo: um filho com o pai, uma filha com a mãe, com uma avó. Os meninos vendo os mais velhos trabalhando.

Inda ontem o senhor me perguntava da Folia dos Santos Reis que a gente vimos em Caldas: “Ciço, como é que um menino aprende o cantorio? As respostas?” Pois o senhor mesmo viu o costume. Eu precisei lhe ensinar? Menino tão ali, vai vendo um outro, acompanha o pai, um tio. Olha, aprende. Tem inclinação prum cantorio? Prum instrumento? Canta, tá aprendendo; pega, toca, tá aprendendo. Toca uma caixa (tambor da Folia de Reis), tá aprendendo a caixa; faz um tipe (tipo de voz do cantorio), tá aprendendo cantar. Vai assim, no ato, no seguir do acontecido.

Agora, nisso tudo tem uma educação dentro, não tem? Pode não ter um estudo. Um tipo dum estudo pode ser que não tenha. Mas se ele não sabia e ficou sabendo é porque no acontecido tinha uma lição escondida. Não é uma escola; não tem um professor assim na frente, com o nome “professor”. Não tem... Você vai juntando, vai juntando e no fim dá o saber do roceiro, que é um tudo que a gente precisa pra viver a vida conforme Deus é servido.


Quem que vai chamar isso aí de uma educação? Um tipo dum ensino esparramado, coisa de sertão. Mas tem, não tem? Não sei. Podia ser que tivesse mais, por exemplo, na hora que um mais velho chama um menino, um filho. Chama num canto, fala, dá um conselho, fala sério um assunto: assim, assim. Aí pode. Ele é um pai, um padrinho, um mais velho. Na hora ele representa como de um professor, até como um padre. Tem um saber que é falado ali naquela hora. Não tem um estudo, mas tem um saber. O menino baixa a cabeça, daí ele escuta; aprendeu, às vezes não esquece mais nunca.


Então vem um e pergunta assim: “O Ciço, o Antônio Ciço, seus meninos tão recebendo educação?” Que seja um padre, que seja o senhor. Eu respondo: “Homem, uma eles tão. Em casa eles tão, que a gente nunca deixa de educar um filho conforme os costumes. Mas educação de estudo, fora os dois menorzinhos, eles tão também, que eles tão na escola”. Então quer dizer que é assim: tem uma educação ― que eu nem sei como é que é mesmo o nome que ela tem ― que existe dentro do mundo da roça, entre nós. Agora tem uma ― essa é que se chama mesmo “educação” ― que tem na escola. Essa que eu digo que é a sua. É a educação que eu digo: “de estudo”, de escola; professor, professorinha, coisa e tal. Daqui, mas de lá.


A gente manda os meninos pra escola. Quem é que não manda? Só mesmo um sujeito muito atrasado. Um que muda daqui pra lá a toda hora. Um outro que mora aí, pros fundos de um sertão, longe de tudo. A gente manda, todo mundo por aqui manda menino pro estudo. É longe, o senhor viu, mas manda. Podiam tá na roça com o pai, mas tão na escola. Mas quem é pobre e vive nessa descrença de trabalhar dum tanto, a gente crê e descrê. Menino desses pode crescer aí sem um estudozinho que seja, da escola? Não pode. Eu digo pro senhor, não pode. O meu saberzinho que já é muito pouco, veio de aprender com os antigos, mais que da escola; veio a poder de assunto, mais do que de estudo regular. Finado meu pai já dizia assim. Mas pra esses meninos, quem sabe o que espera? Vai ter vida pra eles na roça todo o tempo? Tá parecendo que não. E, me diga, quem é quem na cidade sem um saberzinho de estudo? Se bem que a gente fica pensando: “O que é que a escola ensina, meu Deus?”. Sabe? Tem vez que eu penso que pros pobres a escola ensina o mundo como ele não é. (...)


Agora, o senhor chega e diz: “Ciço, e uma educação dum outro jeito? Um saber pro povo do mundo como ele é?” Esse eu queria ver explicado. O senhor fala: “Eu tô falando duma educação pro povo mesmo, um tipo duma educação dele, assim, assim”. Essa eu queria saber como é. Tem? Aí o senhor diz que isso bem podia ser feito; tudo junto: gente daqui, de lá, professor, peão, tudo. Daí eu pergunto: “Pode? Pode ser dum jeito assim? Pra quê? Pra quem? (...)


Antônio Cícero de Sousa.

Lavrador de sítio na estrada entre Andradas e Caldas, no sul de Minas Gerais. Também dito Antônio Ciço, Tonho Ciço e, ainda, Ciço.


APRESENTAÇÃO DO LIVRO A QUESTÃO POLÍTICA DA EDUCAÇÃO POPULAR ORGANIZADO POR CARLOS BRANDÃO E PUBLICADO NO ANO DE 1982

(BRANDÃO, Carlos (Org.). A Questão Política da Educação Popular. São Paulo: Brasiliense, 1982: 11)


Num livro com sete artigos, bom é que cada autor faça a introdução do seu. E que esta aqui sirva para apresentar os autores e o seu tempo.

De um modo ou de outro todas as pessoas aqui reunidas estiveram envolvidas em projetos, experiências e movimentos que começaram a misturar nomes tradicionais como “cultura” e “educação” com o adjetivo “popular”, do que resultou, menos do que um conjunto novo de conceitos para os dicionários de Pedagogia, um momento de renovação na história da educação no Brasil. Pela primeira vez, entre muitos tropeços e atropelos, mas sem meias-verdades, procurava-se pensar a educação às avessas e associá-la de fato a um tipo de prática descaradamente política, a que se acostumou chamar, de lá para agora, de libertação popular.

Aquele foi o começo do tempo da transformação da idéia e da prática de uma Educação de Adultos inocente, vinculada a programas de Desenvolvimento Comunitário aparentemente despolitizados, logo a serviço da política oficial de dominância, numa Educação Popular cuja teoria, desde Paulo Freire, faz a denúncia dos usos políticos da educação opressora e cuja prática converte o trabalho pedagógico do educador em favor do trabalho político (...)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PARA NUNCA ESQUECERMOS OS 60 MILHÕES DE MISERÁVEIS QUE VIVERAM À MÍNGUA NO PASSADO DO BRASIL

PARA NUNCA ESQUECERMOS OS 60 MILHÕES DE MISERÁVEIS QUE VIVERAM À MÍNGUA NO PASSADO DO BRASIL

NEUZA MACHADO

Quando olho para o passado, não tão distante, e recordo que o Brasil era um país constituído por uma população majoritariamente carente em todos os sentidos, não encontro uma explicação racional para o encaminhamento tão favorável das ações político-econômicas dos últimos oito anos (uma segura e dinâmica realização sócio-econômica do governo do Presidente Lula, apesar de todos os esforços contrários da preconceituosa minoria elitista). A única coisa que me vem à mente, mesmo reconhecendo o aplaudido esforço do governo e de sua equipe, é a possibilidade de ter ocorrido um milagre. Um milagre parecido com o relatado na Bíblia em que Jesus fez dois peixinhos e cinco pãezinhos se multiplicarem e saciarem a fome de cinco mil pessoas.

Para que o leitor reflita sobre a extensão da miséria que assolou o Brasil na segunda metade do século XX, apresento-lhe o poema de Manuel Bandeira, publicado em 1948, e a crônica de Herbert de Souza (o Betinho) sobre a questão da esmola ao pobre. Manuel Bandeira, o poeta que fez Poesia sobre as mais cruas verdades, e Betinho, o sociólogo que assumiu o compromisso de trabalhar em projetos sociais para construir melhor o conceito de solidariedade e cidadania.


O BICHO

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


ESMOLA

Herbert de Souza


Nunca consigo deixar de dar esmola. Quando vejo uma pessoa na miséria absoluta, meto a mão no bolso e dou uma ajuda. Naquele momento em que recebe uma esmola, a pessoa excluída de um processo social injusto pode comer alguma coisa. Em tese, pode ser correta esta idéia de que “dar esmola não é bom nem para quem dá nem para quem recebe”. Mas, na prática, a realidade é outra. Quem pede esmola está ou deve estar com fome. Vivo esta contradição, e acho que é a mesma que, no fundo, todo mundo vive. O ideal seria um mundo sem esmola, em que todos tivessem emprego, ganhassem seu salário, tivessem a sua dignidade, sua cidadania resguardada. Mas, infelizmente, nós vivemos em um país onde 20% da população vive na indigência.

Com tanta miséria, o que eu vou fazer no momento em que um menino, com fome, descalço, visivelmente fraco, me pede uma esmola? Vou dizer para ele: não, vá trabalhar! Não posso dizer isso. Estas campanhas como “não dê esmolas” só terão validade se antes for criada uma alternativa verdadeira. Se não, tornam-se perversas. Na situação atual, negar uma esmola a um excluído é um ato de insensibilidade. Não é difícil acabar com a miséria no Brasil. Mas não basta apenas o discurso. A comparação entre o que se faz na área social com o que se faz para salvar bancos é válida, porque para algumas coisas no Brasil somos rápidos e eficientes, mas, para outras, somos lentos e ineficientes, como no trato da questão social.

A miséria é uma vergonha para todos nós e, às vezes, chegamos a nos sentir cúmplices. Em alguma medida podemos ter responsabilidade, uns muito mais do que a maioria. A esmola não é alienante, a não ser quando é a única ação contra a miséria. Eu não posso, ao ver uma pessoa cair na rua, dizer, comodamente: um médico é que deve atender você. Acho que contemplar ou passar por cima é a pior coisa que uma pessoa pode fazer.

sábado, 20 de novembro de 2010

20 DE NOVEMBRO – DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


20 DE NOVEMBRO - DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

NEUZA MACHADO


Hoje — 20 de Novembro — estamos comemorando o Dia da Consciência Negra. Em meio à inconsciência de uma parcela da população brasileira, ainda presa a preconceitos e atitudes impróprias ao nosso atual momento histórico, tão distanciado de algumas das ideias propagadas pelas elites do passado, podemos desde já vislumbrar as imagens desse novo quadro cujas tintas são feitas da mistura das “cores” vermelha, branca, preta e amarela. Cada qual com suas características próprias, mas que verdadeiramente possuem a mesma essência.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

19 DE NOVEMBRO - DIA DA BANDEIRA BRASILEIRA

19 DE NOVEMBRO - DIA DA BANDEIRA BRASILEIRA

NEUZA MACHADO


No meu tempo de criança, no Grupo Escolar de Carangola, o dia 19 de Novembro era plenamente celebrado. Naquela data, muito especial, as crianças iam para a Escola sabendo que seria um dia de festa. A Diretora da Escola ― Dona Mariinha ― solenemente hasteava a Bandeira Nacional e todos os alunos, pais e professoras perfilados, com a mão direita espalmada no lado do coração, cantavam o Hino à Bandeira Brasileira. Era um grande momento de confraternização, alegria e, principalmente, de amor à Pátria e ao nosso Símbolo.

Depois da homenagem, iniciavam-se as apresentações infantis: cantos, declamações de poesias relacionadas com o evento, discursos (previamente preparados pelas professoras e lidos pelos alunos mais desembaraçados), pequenas encenações infantis, etc. Cada professora, de cada turma, se esmerava em preparar seus alunos para o dia da festa que, de certa forma, finalizava também mais uma etapa do ano escolar.

Naquela época, aprendíamos na Escola a respeitarmo-nos mutuamente (graças a Deus e às nossas Professoras, não percebíamos ali qualquer traço de preconceito, fosse racial ou social), aprendíamos a respeitar o nosso Solo (tão amado!), aprendíamos a respeitar a nossa Bandeira (para nós, um símbolo sagrado), e aprendíamos também a respeitar o Dirigente da Nação.

Nesses oito anos de governo do Presidente Lula – o mais notável Presidente que o Brasil já teve –, o que eu ouvi de opositores (que por sinal se beneficiaram financeiramente, e muito!!!, sob a sua segura gestão) e o constrangimento que sofri a respeito do que se publicava nos jornais e revistas do PIG (Partido da Imprensa Golpista), desmerecendo o nosso Presidente Metalúrgico, prefiro não comentar aqui, nesta minha página do Blog.

E neste décimo ano do início do Terceiro Milênio, já não percebo mais o antigo respeito. Com a globalização, não há mais espaço para os sentimentos de patriotismo. Percebo que as comemorações já não possuem a mesma força de antes, a mesma paixão. A mídia televisiva do PIG e principalmente alguns cidadãos politicamente opositores promovem comportamentos desrespeitosos: contra o Brasil, contra os Símbolos da Nação (a bandeira brasileira já se encontra desvalorizada) e contra o Presidente Atual da República (principalmente, contra o Presidente da República...).

Com muita vergonha e tristeza, nesses oito anos de governo popular, escutei muitos desaforos proferidos contra o Presidente Lula, e li a entrevista preconceituosa do poeta Ferreira Gullar a um jornal de Portugal, falando mal em público do Presidente de seu próprio país (por ocasião das eleições de outubro). Foi decepcionante para mim, que por muitas vezes apreciei os seus escritos poéticos em sala de aula, ler a opinião elitizada do poeta renomado, que não se pejou em despejar e demonstrar a sua opinião particular ao mundo globalizado (como se a sua opinião bastasse para que o mundo todo se voltasse contra o Presidente Brasileiro de origem humilde, ostensivamente rejeitado por ele). Também tomei conhecimento das ofensas (lixo puro!) de alguns comediantes das Redes de Televisão ligadas ao PIG, de jornalistas de certas revistas que se querem famosas, debochando de um grande e impoluto homem, cuja mácula, para eles evidentemente, foi governar corajosamente bem o Brasil por oito anos consecutivos (já que eles esperavam o pior para o Brasil, sob o comando de Lula, e o melhor para os próprios bolsos).

E hoje — 19 de Novembro de 2010 — estou aqui (penso que solitariamente entre alguns outros solitários) a lembrar-me que a data sinaliza uma homenagem à nossa Bandeira. As possíveis homenagens que serão exibidas por alguns jornais e revistas não traduzirão a essência patriótica dos 82% de brasileiros que aprovam o Governo Lula e querem ver o crescimento da democracia em nosso país. Serão palavras formais, desprovidas de amor à Pátria.




HINO À BANDEIRA BRASILEIRA

Musica: Francisco Braga

Versos: Olavo Bilac


Salve lindo pendão da esperança,
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul...

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor.

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

17 DE DEZEMBRO DE 1961 - DATA DO INCÊNDIO NO GRAN CIRCUS AMERICANO EM NITERÓI

17 DE DEZEMBRO DE 1961 - DATA DO INCÊNDIO NO GRAN CIRCUS AMERICANO EM NITERÓI

NEUZA MACHADO

Nas idas e vindas de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, naquele domingo fatídico do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em 17 de novembro do ano de 1961, meu irmão José (dez anos mais velho) levou-me para passear em Niterói. Eu estava saindo da infância para a adolescência e, ainda como criança mineira deslumbrada, as paisagens do Rio de Janeiro me encantavam. Então, atravessar a Baía de Guanabara de barca, em uma manhã ensolarada, foi uma aventura inesquecível.

Meu irmão tinha uma namorada em Niterói e, assim, rumamos para a residência dos pais da jovem. Não me lembro de todos os detalhes do passeio, apenas recordo-me de que a família da moça morava em um apartamento no centro da cidade de Niterói. Ali, a dona da casa nos ofereceu um delicioso almoço de domingo. Depois do almoço, planejamos o divertimento da tarde, em outras palavras, a idéia era irmos ao Circo, na matinê da 14 horas (se não me engano).

Entretanto, o meu Anjo da Guarda, certamente já prevendo a catástrofe, interferiu nos planos de divertimento, e o destino cristão levou-me para um outro lado.

O caso foi que depois do almoço fui conversar com as outras meninas, moradoras do edifício, assessorada evidentemente pelas irmãs menores da referida namorada de meu irmão José. E conversinha vai, conversinha vem, decidimos sair pelas ruas de Niterói, em pleno deserto domingo (naquele tempo, a Cidade de Niterói era muito calma aos domingos), em algazarra juvenil, apenas para apreciarmos os enfeites natalinos, distribuídos ao longo da Avenida principal. A Cidade de Niterói, desde o início de novembro daquele ano fatídico, estava toda enfeitada para o Natal. Enquanto passeávamos pelas ruas de Niterói, perdemos o horário da matinê do Circo. As meninas haviam prometido às mães que voltaríamos em tempo para aprontarmos todas para o espetáculo circense. Distraídas com o passeio e a algazarra, não retornamos no horário prometido, ao contrário, já era o final da tarde quando chegamos ao edifício. Algumas meninas estavam preocupadas, receosas das reprimendas maternas (Se bem me lembro, éramos mais ou menos cinco meninas, soltas e felizes, a passear pelas ruas de Niterói).

Logo que chegamos ao hall do edifício, uma das mães veio me abraçar, chorando, agradecendo-me por ter interferido (inocentemente) nas pretensões dela de ida ao Circo. Segundo esta mãe, ela já estava brava com a demora da filha, pretendendo castigá-la por não ter cumprido o prometido de voltar em tempo para o divertimento, combinado anteriormente. Contou-me que levou um susto daqueles quando ouviu pelo rádio a notícia do incêndio. E agradeceu a Deus a minha inocente interferência.

Foi naquele momento que soubemos da tragédia. Meu irmão estava angustiado, porque o plano dele era irmos ao Circo na parte da tarde (foi Deus que nos protegeu!). Estava angustiado também porque nossa mãe não sabia que o destino de nosso passeio era Niterói. Meu irmão era assim, inventava passeios sem destino previsto. Programava a ida a algum lugar e ia para outro.

Dali, fomos todos ver o cenário da tragédia. Mas o que vi, não quero contar...

De qualquer maneira, por algum motivo fora de minha percepção, eu e meu irmão fomos passear em Niterói no dia do incêndio do Circo.



INCÊNDIO DO CIRCO EM NITERÓI (1961)



Escrito por Blog de Niterói


(http://niteroi.dreanhosters.com/incendio-circo)



“O incêndio do Gran Circus Norte-Americano, uma semana antes do Natal de 1961, deixou cerca de 500 mortos e 120 mutilados. Foi a maior tragédia que Niterói já viveu e causou comoção no mundo inteiro, com votos de pesar inclusive do Papa João XXIII. A cidade ficou traumatizada e só voltou a ver um circo 14 anos depois.

O fogo durou cerca de dez minutos e consumiu rapidamente a lona recém-adquirida, que pesava seis toneladas e era de nylon (detalhes que faziam parte da propaganda do circo). A cobertura, em chamas, caiu sobre os 2.500 espectadores. A multidão tentou fugir, o que causou pânico e pisoteamento.

Morreram 372 pessoas na hora e pelo menos 200 feridos foram hospitalizados, a maior parte em estado grave. Muitos destes não sobreviveram. Como não havia espaço no IML de Niterói, vários corpos estavam sendo recolhidos às câmaras de estocagem de carne bovina da Indústrias Frigoríficas Maveroy.” (Texto retirado do Blog de Niterói)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

15 DE NOVEMBRO: DATA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL

15 DE NOVEMBRO: DATA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL

"NÃO IMPORTA O SOTAQUE. SOMOS TODOS BRASILEIROS"
(Presidente Luís Inácio Lula da Silva)




HINO DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL

Letra: Medeiros e Albuquerque

Música: Leopoldo Augusto Miguez


Seja um pálio de luz desdobrado.
Sob a larga amplidão destes céus
Este canto rebel que o passado
Vem remir dos mais torpes labéus!
Seja um hino de glória que fale
De esperança, de um novo porvir!
Com visões de triunfos embale
Quem por ele lutando surgir!

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Nós nem cremos que escravos outrora
Tenha havido em tão nobre País...
Hoje o rubro lampejo da aurora
Acha irmãos, não tiranos hostis.
Somos todos iguais! Ao futuro
Saberemos, unidos, levar
Nosso augusto estandarte que, puro,
Brilha, avante, da Pátria no altar!

Liberdade! Liberdade!
Abra as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Se é mister que de peitos valentes
Haja sangue em nosso pendão,
Sangue vivo do herói Tiradentes
Batizou este audaz pavilhão!
Mensageiros de paz, paz queremos,
É de amor nossa força e poder
Mas da guerra nos transes supremos
Heis de ver-nos lutar e vencer!

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

Do Ipiranga é preciso que o brado
Seja um grito soberbo de fé!
O Brasil já surgiu libertado,
Sobre as púrpuras régias de pé.
Eia, pois, brasileiros avante!
Verdes louros colhamos louçãos!
Seja o nosso País triunfante,
Livre terra de livres irmãos!

Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

RECEITAS DE CULINÁRIA MINEIRA DA ODISSÉIA MARIA NO BLOG CAFFE COM LITTERATURA


RECEITAS DE CULINÁRIA MINEIRA DE ODISSÉIA MARIA NO BLOG CAFFE COM LITTERATURA


NEUZA MACHADO

Receitas que anotei
Ao longo do meu viver,
E não sei de onde as tirei,
São Receitas do Saber.
Com a licença do Doador,
Passo-as para Você,
Meu Passageiro Leitor!,
Com Redobrado Prazer
E Imenso Vero Amor!

Durante a sua leitura
De meus textos, a granel,
Em meu caffecomlitteratura,
(caffecomlitteratura.blogspot.com/)
Um Bloguinho cheio de mel!,
Busque a Nova Viatura,
A Vimana que voa ao léu,
E se entreteça com a cordura
De meu reconto fiel,
Às vezes, com certa mesura!,
Nos desvãos do meu papel,
Para respeitar a cesura
Das Leis do Novo Cordel.

Enquanto refaço a costura,
Abra a cestinha-farnel
E descubra a neo-fartura
Dos meus docinhos-do-céu,
Tome um café-gostosura,
Saboreie um grã pitéu,
E embarque nesta Aventura
De viajar sempre ao léu!

De vez em quando pare a Vimana
Nas terras de Minas Gerais,
Saboreie o melado de cana,
Deslumbre-se com os cafezais,
E para apreciar, sempre mais!,
Desça, da montanha ao sopé,
Visite os Antigos Casais,
E não deixe, Meu Rapaz!,
De degustar um Bom Café!

E para não perder a costura
Deste Cordel-Formosura,
Não quero que fuja em ré.
Continue com a leitura,
Pois na Página Futura
Há receitas de Café.


CAFÉ PARISIENSE

Ingredientes:
1 bule de café (já preparado forte e quente)
1 xícara (das de chá) de conhaque
Suco de ½ limão
Açúcar (o suficiente para adoçar o café)

Modo de fazer:
Passe caldo de limão na borda das xícaras que serão usadas para servir o café e salpique açúcar por cima. Coloque em cada xícara o café forte já adoçado. Aqueça o conhaque e despeje um pouco em cima de cada xícara de café. Flambe (queime o conhaque) e sirva com biscoitos de araruta.


CAFÉ ORIENTAL

Ingredientes (para duas pessoas):
2 xícaras (das de cafezinho) de café em pó
2 xícaras (das de chá) de água fervendo
2 cálices de conhaque
6 colheres (das de café) de açúcar mascavo
2 pedaços de canela em pau
6 cravos-da-índia
2 colheres (das de café) de erva-doce
2 pedaços de casca de limão
2 pedaços de casca de laranja

Modo de fazer:
Aqueça o café em pó com todos os ingredientes, exceto o conhaque. Quando o café começar a ferver, retire-o do fogo. A seguir, em uma pequena panela, aqueça o conhaque, despejando-o posteriormente sobre o café e flambe (queime o conhaque). Coe e sirva. Observação: você poderá servir o café oriental à moda turca, ou seja, sem coar o café.


CAFÉ IRLANDÊS

Ingredientes:
1 xícara (das de chá) de café forte e quente
2 colheres (das de chá) de açúcar
1 cálice de uísque
1 porção de creme chantili

Modo de fazer:
Em uma caneca alta (à moda irlandesa), misture o café forte, o açúcar e o uísque. Por cima, coloque o creme chantili.


CAFÉ DO CORONÉ

Ingredientes:
2 xícaras (das de chá) de café forte e quente (já coado)
2 xícaras (das de chá) de leite quente
2 xícaras (das de cafezinho) de rum (ou cachaça)

Modo de fazer:
Em um bule de ágata (à moda da roça), misture todos os ingredientes. Leve ao fogo para esquentar.

Sirva o CAFÉ DO CORONÉ com bolinhos de fubá ou broa de milho.


CAFÉ ACHOCOLATADO

Ingredientes:
1 xícara (das de chá) de café forte e já coado
1 lata de leite condensado
2 xícaras (das de chá) de leite
1 lata de creme de leite
2 colheres (das de sopa) de chocolate em pó
1 cálice de licor de cacau
1 pedaço de pau de canela (optativo)

Modo de fazer:
Em um bule próprio para ir ao fogo, misture todos os ingredientes, com exceção do creme de leite e do licor de cacau, e leve ao fogo para ferver (por 3 minutos apenas). Depois, bata a mistura no liqüidificador, acrescentando o creme de leite. Bata bem. Por último, leve a mistura novamente ao fogo para aquecer. Não ferva o achocolatado. Retire do fogo e acrescente o licor de cacau.

Sirva este delicioso CAFÉ ACHOCOLATADO com Bolo de Fécula de Batata.


CAFÉ BÃO DE SÃO JOÃO

Ingredientes:
2 xícara (das chá) de café forte (bem forte) já coado
2 xícaras (das de chá) de leite
1 lata de leite condensado
2 pedaços de canela em pau
6 cravos-da-índia
1 colher (das de cafezinho) de erva-doce
½ xícara (das de chá) de conhaque (ou cachaça)
Casca de limão

Modo de fazer:
Em um bule próprio para ir ao fogo, misture todos os ingrediente, com exceção do conhaque. Leve ao fogo e deixe ferver por 3 minutos. Retire do fogo, acrescente o conhaque e sirva.

Sirva este delicioso CAFÉ BÃO DE SÃO JOÃO com o Bolo de Milho do Grande Sertão.


As Deliciosas Receitas da Culinária de Minas Gerais e de outros Estados Federativos do Brasil estarão à disposição de Vocês, meus Amigos Internautas, no Meu Blog: http://caffecomlitteratura.blogspot.com/.