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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

UM FELIZ FINAL DE 2011 PARA OS BRASILEIROS E PARA OS INTERNAUTAS DO MUNDO INTEIRO


UM FELIZ FINAL DE 2011 PARA OS BRASILEIROS E PARA OS INTERNAUTAS DO MUNDO INTEIRO

NEUZA MACHADO

O 2011 Terminando...
O 2012 a Chegar...
Os Ideais Renovando...
Presentes Para Comprar...
E o Brasileiro Sonhando
Um Novo Ano Exemplar,
Muitas Tristezas Findando...
As Alegrias, Lembrar...
E a Neuza Aqui Digitando
Versinhos... A Meditar...
Com Muita Saúde!, Mostrando
As Riquezas de Seu Lugar,
O Seu Rio de Janeiro Elevando
No Mapa, Tão Singular!,
De Nosso Brasil. Abraçando
Os Internautas de Cá...
Abraços Mil Enviando
Aos Internautas de Lá...

E a Neuza Machado Pensando
Em Novos Textos P’ra Blogar,
E ao Amigo-Leitor Desejando
Um Feliz Recomeçar!
Que o 2012 Seja Brando,
Com a Paz no Mundo a Reinar!

E Mesmo Com a Algazarra
Das Festas de Fim de Ano,
Submetida a Amarra
Do Valor Cotidiano,
Esta Blogueira, Com Garra!,
No Caffe, segue a mostrar,
Sob Luz de Gambiarra,
Assuntos de Bom Sonhar,
Com Muito Brilho e Fanfarra,
Para ao Internauta Agradar,
Avisando-o, Carioqueira!,
Esta Blogueira Mineira,
Que há Quatro Blogs no Ar:
O Caffe Com Litteratura,
Um Blog Pura Gostosura!,
E o Neumac da Mistura
De Textos do Imaginar
Este Que é Pura Escritura
Um Blog P’ra SoLetrar,
E Um Quarto Blog de Pouca Procura:
Pra Quem Quiser Filosofar...

Portanto, não deixe de apreciar:
caffecomlitteratura.blogspot.com
neumac.blogspot.com
neuzamachadoletras.blogspot.com
neuzamachado.blogspot.com
Bloguinhos de Bom Pensar.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

23 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 14


23 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 14

NEUZA MACHADO

Cartão de Natal “Bolas Natalinas” de Stanislaw Kmiecik - Pintado Com a Boca - Pintores que pintam com a boca e os pés - Rua Tuim, 426 - CEP 04514-101-São Paulo

Para o Abençoado Povo Brasileiro de 2011, envio, daqui deste meu Anno de 2001, um grande abraço e o desejo de que haja muita fartura e felicidade no Natal de 2011 e no Anno Novo de 2012. Que não haja milhões e milhões e milhões de brasileiros passando fome extrema no Brasil e que, se houver uns poucos, os mais abonados pensem neles, oferecendo-lhes um pouquinho que seja de comida, amor e atenção.

UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO PARA TODOS!

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil Tristes Trópicos até o final do Século XX)

Minha intenção, Meus Amigos do Futuro Brasilês!, ao escrever-lhes estas Cartinhas Dominicais, neste Final de Anno de 2001 (não s’esqueçam da Data deste Missivo: 23 de Dezembro de 2001), é revelar-lhes – por meio de um avatara (sic) – um pouco de minha Realidade Existencial. Sempre que busco esclarecimentos do Passado de Nosso Singular Planeta, percebo a ausência de explicações mais cativantes, em outras palavras, apenas adquiro um pouco de conhecimento, sem um envolvimento anímico, transfigurador, que produza, em meu íntimo, sentimentos variados. Penso que faltou, nesses relatos de Historiadores Competentes, historiadores conhecidos por intermédio das Enciclopédias, um contato interativo com tais períodos. É bem verdade que os primeiros depoimentos ― os depoimentos dos Historiadores Gregos, por exemplo ―, ao lê-los, comunicam-me dados preciosos, mas o meu coração, infelizmente!, não participa ativamente desses relatos, não consigo alcançar, no mais recôndito de meu ser, as alegrias e sofrimentos daqueles que, historicamente, viveram antes de minha configuração humana, neste meu estágio existencial de Incríveis Acontecimentos Tenebrosos (Lembrem-se: Estou a me referir ao Anno de 2001).

Almejo, meus Amigos do Futuro!, sinceramente, neste Final de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da Data), comover seus corações, aí no Maravilhoso Futuro Sem-Muro de Vocês, com a Insolidez da Realidade Deste Meu Momento de Vida. Só para Vocês terem uma idéia, no período de 1992 até 1995, enfrentei filas quilométricas para entrar em um Banco, filas que circundavam um quarteirão (depois explicarei a Vocês do Futuro o sentido da palavra quarteirão atualmente), só para receber o parco salário de aposentadoria de minha mãe. Minha mãe faleceu no ano seguinte, mas, mesmo assim, enfrentei e estou enfrentando outras filas quilométricas, até este Final de Anno de 2001 (fila de ônibus, fila para comprar a passagem do Metrô, fila para pagar as contas mensais em diferentes Bancos e em diferentes dias, fila para pagar as econômicas comprinhas do Super Mercado, et cœtera, etc.). Não sei o que sucederá daqui para frente, quando houver a Mudança de Governo em 1o de Janeiro de 2003 (ainda uma incógnita, porque não sei quem receberá os votos do Povão). Espero que seja para melhor! Esta Terra Azulinda foi, meus Amigos do Futuro Sem-Muro!, no Princípio do Mundo, ainda em estado primitivo, abençoada por Deus, mas, atualmente, está sendo amaldiçoada pelos homens de pouca vontade.

Com este pensamento, meus Amigos e Amigas do Futuro!!, acordei, hoje, Dia 23 de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da Data, por favor!), às Oito Horas da Manhã, e estou começando esta Cartinha exatamente uma hora depois. Antes de iniciar a digitação deste meu Relatório Semanal – digitação realizada em um potente computador fabricado no Anno Dois Mil (tive de fazer muita economia para comprá-lo!; comprei-o em violentas prestações mensais!) –, realizei todos os sagrados rituais – necessários –, para que, por intermédio da meditação e concentração, pudesse alcançar o meu desejo de enviar-lhes, corretamente se for possível, as notícias da Semana. Antigamente, o Domingo era sagrado, apenas para descanso e lazer. Hoje, graças a este progresso desenfreado, só restou-me o Domingo para o trabalho intelectual.

Por estas e outras razões, acompanhem, através de meus sinceros sentimentos e alguns sentidos vitais, as notícias do Brasil Varonil e do Mundo Rotundo, neste final do Anno da Graça de 2001 (não s’esqueçam deste Anno de 2001 aí no Futuro de Vocês).

Em primeiro lugar, apesar das Festividades que já estão próximas – Natal e Anno Novo –, a Guerra – entre a América do Norte (por enquanto a maior potência do Mundo Rotundo) e o grupo terrorista do Oriente Médio – continua. Os Americanos do Norte ainda não encontraram o famigerado Osama bin Ladem, chefe do grupo que destruiu as altíssimas Torres Gêmeas da Cidade de Nova York.

Meus Caros Amigos!, outras inúmeras guerras estão a devastar o Nosso Planeta. Por exemplo: Quinta-feira passada (20 de Dezembro de 2001; confiram aí na Impagável Internet ou outro Veículo de Informação mais de acordo com o Tempo de Vocês!), o Povo da Argentina (um País vizinho do meu Brasil Varonil) revoltou-se com o estado de miséria que o atingiu, saqueou os Supermercados de Buenos Aires (capital do País), brigou ferozmente com a milícia do Governo e (pasmem!) conseguiu a renúncia do Presidente Fernando de La Rua e de seus Ministros de Estado. Em algumas regiões do Continente Africano as contendas são uma realidade. Saibam que, neste início do Terceiro Milênio (Anno de 2001, não s’esqueçam!), há, em Várias Partes do Mundo, Muuuuuuitos e Muuuuuuitos e Muuuuuuitos Focos de Guerra, deixando os Seres Humanos Pacíficos submetidos a um Constante Pavor.

Em verdade, atualmente, neste Anno de 2001 (não s’esqueçam da Data) a luta pela sobvivência (a maior parte da humanidade vive em miséria extrema) é a geradora de todos estes conflitos (uma minoria consegue sobreviver com relativa dignidade e um pequenino grupo vive na opulência, causando a revolta dos muuuuuuitos e muuuuuuitos e muuuuuuitos que não têm absolutamente o que comer). Espero, sinceramente, que Vocês possam estar vivos, aí no Maravilhoso Futuro Sem-Muro, para lerem as minhas Cartinhas Dominicais. Se os Conflitos continuarem, o Mundo poderá explodir (acreditem em mim!). A Bomba Atômica (e seu Pequenino Dispositivo) é uma Terrível Invenção de Meu Tempo de Calamidades Sem Conta (Anno de 2001, não s’esqueçam do Anno de 2001, por favor!). Com um simples toque de dedo, de um indivíduo mentalmente desequilibrado, ou, até mesmo, com a interferência de um animal – um gato, um cachorro, um passarinho – acionando o Tal Botão... Que Deus os livre! Se isto ocorrer, Vocês, meus Amigos do Futuro Sem-Muro!, não existirão. Não saberão quomodo é mágico comemorar os Natais do Salvador da Humanidade e os ansiosamente esperados Annos Novos (as Marcas Encantadas de Permanência no Mundo, apesar dos pesares!).

Sobre os Cinquenta Milhõõõõõões de Brasileses que vivem em Extraordinária Miséria, até este Anno Final de 2001 (não s’esqueçam da Data e não s’esqueçam dos Cinquenta Milhõõõõõões de Brasileses que vivem em Extraordinária Miséria): não sei se terei Energia Vital para escrever-lhes sobre este assunto (pesquisem este meu Tempo Histórico de 2001 aí no Futuro de Vocês; é bem possível que algum bom jornalista do Tempo de Vocês já esteja a apresentar com maior consistência e documentos os graves problemas que assolam este meu momento histórico). A Funesta anda rodeando também os SobreViventes do Brasil Varonil (a Antiga Classe B) e a Humanidade-Sem-Rumo também. Que o Jesus Salvador, nascido há Dois Mil Annos, em 25 de Dezembro, nos proteja!

Sem mais o que relatar-lhes, Meus Amigos e Amigas do Brasilês Futuro Sem-Muro!, devido à forte emoção que, neste momento, me domina (não s’esqueçam da data: 23 de Dezembro de 2001), despeço-me, enviando-lhes todo o Meu Amor e Consideração.

ODISSÉIA MARIA, resultante do Matrimônio, Abençoado por Deus!, de Jane Briseides e Antônio Aquileu.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

HÁBITO NACIONAL - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO


HÁBITO NACIONAL - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
NEUZA MACHADO

Aos Leitores deste meu blog, envio-lhes uma interessante crônica de Luís Fernando Veríssimo publicada no ano de 2001. ATENÇÃO: ANO DE 2001. Por favor, anotem a data da publicação da crônica. NÃO CONFUNDAM AS DATAS: ANO DE 2001. Não digitei ano de 2011, não!


HÁBITO NACIONAL
Luís Fernando Veríssimo


Por uma dessas coincidências fatais, várias personalidades brasileiras, entre civis e militares, estão no avião que começa a cair. Não há possibilidade de se salvarem. O avião se espatifará – e, levando-se em consideração o caráter de seus passageiros, “espatifar” é o termo apropriado – no chão. Nos poucos instantes que lhes restam de vida, todos rezam, confessam seus pecados, em versões resumidas, e entregam sua alma à providência divina. O avião se espatifa no chão.

São Pedro os recebe de cara amarrada. O porta-voz do grupo se adianta e, já esperando o pior, começa a explicar quem são e de onde vêm. São Pedro interrompe com um gesto irritado.

– Eu sei, eu sei.

Aponta para uns formulários em cima de sua mesa e diz:

– Recebemos suas confissões e seus pedidos de clemência e entrada no céu.

O porta-voz engole em seco e pergunta:

– E... então?

São Pedro não responde. Olha em torno, examinando a cara dos suplicantes. Aponta para cada um e pede que se identifiquem pelo crime.

– Torturador.

– Minha financeira estourou. Enganei milhares.

– Corrupto. Menti para o povo.

– Sabe a bomba, aquela? Fui o responsável.

– Roubei.

– Me locupletei.

– Matei.

Etecétera. São Pedro sacode a cabeça. Diz:

– Seus requerimentos passaram pela Comissão de Perdão e foram rejeitados por unanimidade. Passaram pelo Painel de Admissões, uma mera formalidade, e rejeitados por unanimidade. Mas como nós, mais que ninguém, temos que ser justos, para dar o exemplo, examinamos os requerimentos também na Câmara Alta, da qual eu faço parte. Uma maioria esmagadora votou contra. Houve só um voto a favor. Infelizmente, era o voto mais importante.

– Você quer dizer...

– É. Ele. Neste caso, anulam-se todos os pareceres em contrário e prevalece a vontade soberana d’Ele. Isto aqui ainda é o Reino dos Céus.

– E nós podemos entrar?

São Pedro suspira.

– Podem. Se dependesse de mim, iam direto para o Inferno. Mas...

Todos entram pelo Portão do Paraíso, dando risadas e se congratulando. Um querubim que assistia à cena vem pedir explicações a São Pedro.

– Mas como é que o Todo-Poderoso não castiga essa gente?

E São Pedro, desanimado:

– Sabe como é, Brasileiro...

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias Para se Ler na Escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001: 85-86.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

16 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 13


16 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 13

NEUZA MACHADO

Acordei, hoje (dia 16 de Dezembro de 2001; não s’esqueçam da data!), Meus Amigos Brasileses do Futuro Sem-Muro!, com o forte desejo de falar-lhes do meu livro Odisséia Maria. Daqui, deste Anno de 2001, estou com o pressentimento de que a minha narrativa não será publicada em livro (papel) tão cedo. Muitos são os empecilhos. Só para Vocês terem uma idéia, neste Final de Anno de 2001 (repito: Anno de 2001; não s’esqueçam!), duas grandes Editoras do Rio de Janeiro avaliaram-na e a devolveram com as explicações já conhecidas. Segundo as Editoras, a minha ficção não possui os requisitos necessários para que seja lançada no Mercado Editorial. A condição para que um livro seja aceito, até este Anno de 2001 (não s’esqueçam do Anno: 2001), é muito simples: ele (o livro) terá de receber o parecer do Funcionário-Leitor que o avaliará quomodo um produto vendável (nem sempre o tal Funcionário-Leitor tem a rara capacidade para julgar se um livro é vendável ou não). Se a Dita Pessoa não for com a cara do escritor, ou mesmo não se interessar pelo livro, adeus publicação! Esta é a grande verdade: só um pequeno grupo, selecionado por ele (o Dito Funcionário-Leitor), consegue publicar suas obras no Brasil Varonil neste Anno de 2001 (não s’esqueçam do Anno!). Um escritor desconhecido só verá seus textos publicados se pagar caríssimo pela publicação (quase o preço de um apartamento popular). Se depender do dinheiro que recebo, quomodo Sofressora horista, jamais publicarei minha produção literária. Releiam, por favor!, a Cartinha que lhes enviei no dia 14 de Outubro de 2001 e saberão a causa do desprestígio.

Mas, hoje, dia 16 de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da Data!), estou com a firme intenção de revelar-lhes, um pouquinho que seja!, o teor de minha narrativa. Ela segue o fluxo de meus pensamentos e, por esta razão, vocês não encontrarão os necessários pontos (os tais pontos que sinalizam o término de uma oração gramatical). Assim quomodo a realidade deste meu Tempo Insolitíssimo Terrível Tenebroso (Final de Século XX e Início de Século XXI, que se transformou em um Caos), da mesma forma se sobressai o meu ato de narrar.

Estamos a Finalizar o Anno de 2001 (não s’esqueçam do Anno!) e lembrei-me de minhas palavras epo-ficcionais escritas no dia 27 de janeiro de 1999 do recente Século Passado, em que realço a figura caleidoscópia de Odisséia Maria, uma personagem cinquentona, Guerreira, Intimorata, viajando insolitamente em um avião imaginário em direção ao infinito de si mesma. Confiram:

... mas, como eu ia contando, só as alegrias valem lembranças, hoje, 27 de janeiro de 1999, penúltimo anno do século XX e penúltimo anno do Milênio de Peixes, e eu estou esperando extasiada o Grande Momento, o momento de passagem para o Terceiro Milênio, sem acreditar em tamanha sorte, meu Deus!, só os assinalados testemunham as Grandes Passagens do Mundo, e esta será uma passagem sem igual, e eu estarei viva, se Deus quiser!, daqui a dois anos, presenciarei a Passagem do Milênio de Peixes Emotivo para o Milênio de Aquário Indiferente, e verei os fogos de artifício no céu, e presenciarei o Grande Espetáculo da Terra do alto de um edifício de oitenta andares, na Megalópole mais linda do Universo-Sem-Fim, o Mundo todo celebrando a Passagem do Milênio, feliz da vida!, a profecia de Nostradamus não se realizou, as inúmeras profecias apócrifas não se realizaram, graças a Deus!, o mundo girando, girando, girando, em volta do Sol Apolíneo, o mundo continuará girando em volta do Sol Imperador, o Planeta Terra resistirá às intempéries, aos meteoritos caindo do céu, continuará resistindo ao desleixo do próprio Homem, o Homem não cuida com carinho de sua morada, mas, como eu ia dizendo, só os eleitos testemunham as Grandes Mudanças do Mundo, e eu me sinto quomodo um ser assinalado, quomo, como, quomodo você quiser, somente os privilegiados testemunham as Grandes Ocorrências do Mundo Profundo, um ser privilegiado sou eu!, estou aqui, permanente, atemporal, alicantinosa, agora, viajando em um avião trans-imaginário supersônico veloz, descrevendo o momento enrolado de uma guerreira mulher no final do Milênio de Peixes, ao mesmo tempo, conversando com você, você ainda nem nasceu, meu netinho!, mesmo assim, guarde bem as minhas palavras aladas, somente os eleitos testemunham as Grandes Mudanças, eu fui abençoada na hora de meu nascimento, um deva mineiro, um brilhante Poeta instalado em um espaço de luz, entre os seres divinos e os pobres mortais, um deva magrinho, careca e de óculos, sussurrou de longe, lá em Diamantina, e o sussurro dele chegou até aos meus ouvidos de recém-nascida, “Vá, Odisséia Maria Ulissiponense da Selva Mineira-Greco-Romana-Portuguesa-Brasileira, vá apreciar os Grandes Acontecimentos do Mundo!”, vá procurar, entre as íngremes montanhas de sua terra natal, um sumetume iluminado e arejado, para vosmecê se evadir das normas severas de seus ancestrais e viajar pelo espaço estelar numa aeronave de cores rosadas azuladas argentadas e douradas, de mil matizes multicolores, e isto aconteceu em uma madrugada de segunda-feira, no mês de novembro, com o Sol a três graus de Sagitário, o nono signo do Zodíaco Ocidental, quando o Sol Hipermineiro apontava no horizonte de minha Terra Natal, com seus magníficos raios luminosos, quando a aurora fermosa com seus dedos de rosa surgiu matutina e o Centauro Quirón, um velho habitante das Serras of Hinterland de Minas Gerais, se preparava para percorrer seus domínios, atirando flechas brilhantes ao acaso ou em direção ao infinito sem-fim, mas, como eu ia dizendo, só os assinalados reconhecem os Importantes Momentos da Humanidade, oh!, maravilha!, estou incluída entre esses poucos ditosos, não fui esquecida na hora de meu nascimento, não, mesmo nascendo nas brenhas do Grande Sertão, nas Serras of Hinterland de Minas Gerais, em Santa Luzia do Carangola, uma velha Cidade da época do esplendor do café, proprietária de um velho tupi yekiti’bá centenário, centenário é pouco para valorizar o yekiti’bá em questão, talvez ele já exista desde a descoberta do Brasil Varonil, uns quinhentos ou quatrocentos annos para o meu yekiti’bá orgulhoso, um jequitibá gigantesco, ele resistiu a um incêndio sem-igual, incêndio provocado per algum descuidado, quase acabando com o jequitibá orgulhoso, mas os habitantes da terra lutaram pelo jequitibá varonil, salvaram o jequitibá glorioso, salvaram o precioso patrimônio do meu povo tradicional, patrimônio afetivo daquela cidadezinha brilhante incrustada num alto de serra of Hinterland da Zona da Mata Mineira Guerreira, amada idolatrada e adorada por mim, mas, como eu ia dizendo, viajo pelo interior de mim mesma, buscando recordar-me dos justos valores que nortearam minha vida aqui nesta Terra de Deus Protetor, dês aquele longínquo vinte e cinco de novembro, quando o Sol Hipercarangolense iniciava a sua visita ao signo de Sagitário Cordial Vagamundo, no Criador Espaço Vazio Bashôniano entre a noite o dia, quando a aurora fermosa com seus dedos de rosa surgia matutina, três graus de Sagitário, ascendente em Escorpião ou Sagitário, não sei!, descubra aí no Futuro, aplacando a sua curiosidade, Amigo esotérico do século XXI e seguintes, sabendo alicantinosamente que esse Amigo estará interessado nesta minha Viagem enrolada, Vossa Mercê procurará compreender e julgar os encontros e desencontros de uma mulher de cinquenta, sumaca antiquada dos mares revoltos do século XX, no final do Milênio de Peixes, Vosmecê sentirá curiosidade em relação a esse meu período de tempo vivido aqui nesta Terra de Deus, em um momento muito conturbado e belicoso, naquele vinte e cinco de novembro assinalado no tempo suspenso entre o antes e o porvir, com a Vênus Madrinha Retrógrada em Escorpião, ela me salvou de um destino amoroso meio aloucado, mas também prejudicou-me horrores, saiba você, Vênus Bella Assanhada estava andando para trás, estou aqui a me queixar de Vênus Madrinha, estou reclamando de Vênus Afrodite de Traços Perfeitos, Aquela dos Grandes Casos Sentimentais com Homens Brilhantes, Vênus Amorosa nunca me faltou, os annos vão passando, e vou continuando a receber Amor, quomodo boa sagitariana, de acordo com os novos e interessantes vaticínios do mundo hodierno já distantes dos terríveis oráculos do Destino Pagão, nem sempre retribuo com a mesma moeda, mas vou levando a vida com muito jeito, se hoje não tem, amanhã deusdará, deusdará o que me faltar, mas vou levando a vida com muito cuidado, solitariamente fechada em meu casulo de bicho da seda tijucano, de qualquer modo, com Júpiter e Mercúrio em Escorpião no meu Mapa Astral de Nascimento, os dois estão em Escorpião, o meu signo ascendente de proteção, ou será Sagitário?, Escorpião no ascendente me faz pensar duas vezes, de vez em quando refreia e embonda pra valer o meu entusiasmo sagitariano, mas o grande barato mesmo foi nascer com Urano Onomatomante em Gêmeos Falante, minha Casa Sete do Casamento no horóscopo solar e Casa Oito no Mapa do Ascendente, eu tenho mania de onomatomancia, uma preocupação obsessiva e doentia com a escolha de palavras, estou vivendo a última fase do período pós-cambriano, iniciado há milênios na Antiquíssima Câmbria, penso que estamos vivendo um algonquianismo meio às avessas, a vida está se extinguindo na Terra per culpa das próprias ações insensatas dos homens, pratico também a onomatomancia, adivinhação fundada no nome da pessoa impressionável, às vezes, pratico também a nefelomancia, invadindo os domínios de Zeus-Júpiter que as nuvens cumula durante as minhas epo-ficcionais viagens de avião insólito supersônico, aeronave brilhante, espacial, viajando sem rumo pela Galáxia Estelar, et cœtera... et cœtera... etc.

Apresentei-lhes, meus Amigos do Futuro Brasilês Sem-Muro!, neste Domingo, 16 de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data!) apenas um trechinho de minha particular narrativa. Talvez, um dia, ela possa chegar completa às suas mãos, aos seus olhos e aos seus corações (talvez, por Via Internet). Entretanto, sempre que houver oportunidade, enviar-lhes-ei outros pequeninos trechos de minha Odisséia Maria através do espaço ilimitado de mim mesma.

Despeço-me, transmitindo-lhes por intermédio de Infinitas Camadas Transtemporais todo o meu Amor e Carinho,


ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu, o Grande Pelida, e Jane Briseides (resultante do amor de Emiliano de Brises por Justiniaña de Ogiges), descendentes de Valerosos Caçadores de Onça Pintada de Minas Gerais, uma região deslumbrante incrível sem-igual localizada na parte Leste do Brasil Varonil.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF, MUITAS FELICIDADES EM SEU ANIVERSÁRIO!


PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF, MUITAS FELICIDADES EM SEU ANIVERSÁRIO!

NEUZA MACHADO




Senhora Dilma Rousseff, hoje, dia de seu aniversário, estou aqui, na Cidade do Rio de Janeiro, pedindo a Deus que lhe ofereça muitas bênçãos e que lhe oferte também inúmeras alegrias em sua atuação como Presidenta do Brasil. Abraços e felicidades!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

09 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 12


09 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 12

NEUZA MACHADO

(Charge do Bessinha - 2011)

(Daqui, deste meu Passado de 2001, vejo a Charge do Bessinha, anunciando muita fartura para o Natal de 2011.)

(Neste meu Anno de 2001, aqui no Brasil, está muito difícil festejar o Natal condignamente. Mas, o Natal de Vocês, do Anno de 2011, será de muita fartura. Confiram aí na Internet de Vocês, Internet do Futuro, para saber se a minha visão, aqui deste meu anno de 2001, corresponde à realidade do Anno de 2011, por favor! E não dêem atenção às previsões negativas do PIG de Vocês! O Brasil do Futuro, a partir do Anno de 2003, passará a ser grandioso (lembrem-se, estou a escrever para Vocês no Mês de Dezembro do Anno de 2001). No Futuro do Brasil, não existirão mais milhões e milhões e milhões de esfomeados! Neste meu Anno de 2001 são milhões e milhões e milhões que passam fome e frio e poucos têm telefone celular e Computador e Internet. Confiram aí no Maravilhoso Futuro de Vocês. A Internet foi criada para isso, para mostrar os malefícios de certas propagandas televisivas contra o Governo de Vocês. Cuidado também com os Programas Infantis de alguns Canais de Televisão. Vejo, daqui de meu Passado Histórico, que há persuasivas mensagens sublineares, mensagens estas criadas especialmente para fazer a cabeça das crianças e dos jovens pais das crianças. Cuidado com tais mensagens! Não se deixem enganar!)


09 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO

Neuza Machado


(Para o Brasileiro do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)

Hoje, dia 09 de Dezembro do Anno de 2001 (não s’esqueçam nunca da data desta minha cartinha, por favor!), o tema de meu missivo, Meus Amigos e Amigas do Brasilês Futuro Sem-Muro!, é a Vida. Gostaria de lhes revelar esta minha grande paixão pela Vida. Se os meus Contemporâneos Mais Abonados deste anno de 2001 soubessem (aqueles que estão com saúde, dinheiro no Banco e nos bolsos, os filhos em bons Colégios, muito alimento estocado em suas despensas, et cœtera) quomodo é sensacional estar vivendo e tivessem consciência do quanto foram agraciados pela Sorte Benfazeja, esta nossa realidade existencial seria algo fora do comum. Se essa consciência (ela está pendurada em uma Ilha distante e inatingível, conhecida apenas pelo escritor Mário de Andrade) fizesse parte dos nossos sentimentos existenciais, saberíamos dividir o pão e o vinho conforme o Filho de Deus nos ensinou no início da Era Cristã. Atualmente, neste Final de Anno de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor), aqui no Brasil Ainda Varonil, não dividimos nada com nossos semelhantes menos afortunados. De vez em quando fazemos uma caridadezinha, principalmente, por ocasião do Natal, e, com isto, aplacamos a tal culpa (sentimento possivelmente moderno, ou seja, da Era Moderna) que, não sabemos o motivo, instala-se em nossos corações.

Meus Amigos e Amigas (do Maravilhoso Futuro Sem-Muro Brasileiro, naturalmente), viver, para a maior parte da humanidade, aqui, em meu tempo histórico (Final de Anno de 2001, não s’esqueçam da data!), é um pesadelo digno de ser formalizado em extensas páginas épicas ou ficcionais. Por exemplo: viajar de Metrô, no Rio de Janeiro, a mais Bella Megalópole do Mundo Rotundo, às dezoito horas, voltando do trabalho diário, é uma façanha existencial para nenhum Homem do Brasilês Futuro Sem-Muro botar defeito (Meninos! Eu sei!; Meninos! Eu vi!).

[Não sei se, no Brasilês Futuro Sem-Muro, esta expressão botar defeito será usada, por isto, estou a enviar-lhes também os outros significados atuais (deste Final de Anno de 2001, não s’esqueçam da data!) do verbo transitivo direto botar. De acordo com a etimologia, o verbo botar significava, em um passado remoto, lançar fora. Tornou-se um verbo tão popular (já sofreu degeneração semântica no já passado Século XX) que, aqui em meu Brasil Varonil deste Anno de 2001 (não s’esqueçam da data!), só os sobviventes (ou subviventes, se Vocês assim decidirem!), os falantes da Classe C (confiram, por favor, a cartinha que lhes enviei no dia 18 de novembro de 2001) atrevem-se a mencioná-lo. Por exemplo, o bebedor de aguardente (bebida de alto teor alcoólico) dirá: Ó meu (meu amigo, meu camarada, et cœtera), bota uma daquelas que matou o guarda aqui no meu copo. Hoje (os brasileses são chics, os da Famosa Elite Brasileira, naturalmente), há outros significados, mais eruditos!, que substituem o verbo botar. Anotem: pôr, colocar, guardar, depositar, incutir, IMPUTAR, infundir, et cœtera. Desculpem-me os meus inúmeros enclaves discursivos, mas preocupo-me sempre com a evolução das palavras, com as expressões populares e a arte do bem-falar. Não quero que imputem-me um mal-discorrer.]

Mas, retomando o teor de meu missivo, neste Final de Anno de 2001 (peço-lhes que não s’esqueçam da data, por favor!), neste meu Tempo Histórico de calamidades sem-fim, andar de Metrô (um veloz veículo, um trem subterrâneo) é uma façanha existencial prá ninguém botar defeito. Quando os brasileses cariocjônios voltam do trabalho diário (neste Final de Anno de 2001, não s’esqueçam da data, por favor!), enfrentam uma série de problemas. É uma batalha terrível, horrível, temível, incrível!, pior do que a batalha entre Gregos e Troianos mencionada por Homero (conf.: ILÍADA) em seus famosos versos hexâmetros. Eu, meus Amigos do Maravilhoso Futuro Brasilês, ando de ônibus ou de Metrô, para chegar ao (ou voltar do) trabalho diário. Por esta razão, permito-me escrever-lhes sobre um assunto tão problemático. Infelizmente, para resolver esta questão, neste Final de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor!), não possuo a solucionática (só para lembrar-me do grande e deiforme Jogador de Futebol Brasilês Dadá Maravilha – pesquisem aí no Futuro, na Internet Maravilhosa de Vocês, quem foi o Dadá Maravilha –, criador da palavra solucionática e herói de minha mocidade).

Há duas semanas (lá para o Final do já passado Novembro de 2001; não s’esqueçam da data, por favor!), mais ou menos, por volta das dezoito horas, assisti a uma briga violentíssima, na Estação Estácio - linha dois: Estácio/Pavuna -, entre dois homens que voltavam do trabalho estafante. Os dois homens estavam brigando, simplesmente!, por um assento (uma cadeira vaga). Estapeavam-se violentamente, brutalmente, porque queriam viajar sentados e, no empurra-empurra - uma quantidade incrível de pessoas viajando em um minúsculo vagão -, um se antecipou ao pretenso dono do assento e, quomodo isto por acá, no Brasil Varonil deste Anno de 2001, é normalíssimo, a confusão teve início, necessitando de intervenção de Guardas Truculentos, todos treinados para tal empresa, para acalmar os ânimos.

A vida, meus Amigos, é uma dádiva preciosa. A morte é uma certeza. Mas, deixando de lado esta certeza, deveríamos aproveitar nossa estadia aqui na Terra de Deus, transformando esta dádiva em algo prazeroso. Infelizmente, o meu Mundo atual (do Final do Anno de 2001; não s’esqueçam!) é um lugar de incríveis conflitos. O progresso desenfreado e a luta diária pela sobrevivência (os sobreviventes - a famosa classe B - são oriundos da antiga Classe Média do Brasil Varonil) transformaram a nossa realidade em algo pior do que o Inferno de Dante Alighieri.

Enfim, meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro!, são estas as notícias de hoje (dia 09 de Dezembro de 2001, para Vocês nunca s’esquecerem da data!). Por ora, não lhes falarei da Guerra, porque o mês de Dezembro é um mês de muuuuuuita Alegria! Vamos queimar milhões de cartuchos de fogos-de-artifício na passagem do Anno de 2001 para o Anno de 2002 (no momento, estamos necessitados de muita alegria, mesmo que seja passageira). Não deixarei de relatar-lhes o Grande Acontecimento Vindouro.

Finalizando o meu missivo: Em relação aos muuuuuuito pobres do Mundo Rotundo, neste Início do Terceiro Milênio (Primeiro Anno do Século XXI, não s’esqueçam deste Anno de 2001), peço-lhes que não se preocupem com eles ― Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro! ―, não se preocupem com os milhõõõõõõõões de Brasileses Sem Tecto que passam fome Neste Meu Tempo de Inúmeras Calamidades Por Enquanto Sem-Fim. Pelo menos, neste Momento Festivo Mês deste Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor!), os pouquinhos muuuuuuuuito ricos olharão por eles (somente neste Mês do Natal do Anno de 2001, para aplacarem suas consciências). Depois... Depois, será o que Deus quiser!... Mas, a Invisível Guerra Cotidiana continua neste Mês de Dezembro de 2001...

Para Vocês, Meus Queridos Amores do Futuro Brasilês Sem-Muro!, envio, daqui deste Anno de 2001, um Mui Exaltado Abraço Transtemporal e o desejo sincero de que, nos Próximos Annos do Maravilhoso Futuro Brasileiro, todos vivenciem Maravilhosas e Verdadeiras Festas de Natal e Anno Novo.

ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu Musicista, o Pelida, e de Jane Briseides dos Campos de Plantação de Café de Minas Gerais, Brasil.

sábado, 3 de dezembro de 2011

CECÍLIA MEIRELES E SEU "ROMANCEIRO" PÓS-MODERNO: ROMANCE LIII OU DAS PALAVRAS AÉREAS


CECÍLIA MEIRELES E SEU “ROMANCEIRO” PÓS-MODERNO: ROMANCE LIII OU DAS PALAVRAS AÉREAS

NEUZA MACHADO

Hoje, neste meu blog, a minha proposta de leitura, para a reflexão dos Leitores-Internautas, é o canto denominado ROMANCE LIII OU DAS PALAVRAS AÉREAS, de Cecília Meireles. Por intermédio da especialíssima criatividade poética de nossa renomada escritora, os Leitores-Eleitos terão a oportunidade de repensar alguns momentos cruciais da História do Brasil.


ROMANCE LIII OU DAS PALAVRAS AÉREAS

Cecília Meireles

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...

Detrás de grossas paredes,
de leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda,
sem peso de ação nem de hora...
– e estais no bico das penas,
e estais na tinta que as molha,
e estais nas mãos dos juízes,
e sois o ferro que arrocha,
e sois barco para o exílio,
e sois Moçambique e Angola!

Ai, palavras, ai, palavras,
íeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas,
entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto,
promessas que o mundo sopra...

Ai, palavras, ai, palavras,
mirai-vos: que sois, agora?
– Acusações, sentinelas,
bacamarte, algema, escolta;
– o olho ardente da perfídia,
a velar, na noite morta;
– a umidade dos presídios,
– a solidão pavorosa;
– duro ferro de perguntas,
com sangue em cada resposta;
– e a sentença que caminha,
– e a esperança que não volta,
– e o coração que vacila,
– e o castigo que galopa...

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
– sois madeira que se corta,
– sois vinte degraus de escada,
– sois um pedaço de corda...
– Sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
– sois um homem que se enforca!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

02 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 11


Esta minha Epístola aos Homens do Futuro (não s’esqueçam da data) foi escrita em:

02 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 11

NEUZA MACHADO

(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


Meus Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil, este início do Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam do Anno desta Cartinha: Anno de 2001!), por diversas razões, merece ser exaltado. Estamos terminando, não sei se gloriosamente, o nosso Primeiro Anno do Século XXI e Primeiro Anno do Terceiro Milênio. Não obstante as Inúúúúúúmeras Guerras que, neste momento, assolam o Nosso Planeta Terra, apesar dos Desajustes Sociais nos Quatro Cantos do Mundo, sinto-me um ser privilegiado. Quomodo boa Sagitariana, costumo oferecer crédito às sugestões dos Oragos Astrológicos e, por tal razão, penso que tive muita Sorte Benfazeja nesta minha existência terrena.

Pelo fato de ter nascido em meados do Século XX (graças a esta Apreciada Sorte!), pude viver uma parte de minha vida em um momento que sinalizou o Final de um Século Automatizado (também o Final de um Segundo Milênio Praláde Problemático!), no qual (apesar de todos os problemas insolúveis) ocorreram inúmeras descobertas tecnológicas. Assim, pude assistir, quomodo privilegiadíssima espectadora, na expectativa fundada em supostos direitos femininos, probabilidades ou promessas, eu pude vivenciar, repito, o Início de um Novíssimo Milênio (o Terceiro) que marcará o Calendário da Terra. Agora, nesta segunda parte de minha vida (espero, se o Deus dos Cristãos assim quiser, o meu Deus Onipotente, que seja muuuuuuito loooooonga!), ainda presa a esses hipotéticos direitos adquiridos por meios supostamente sobrenaturais, espero, repito, ainda ter tempo vital-horizontal para apreciar as Inúmeras Maravilhas do Orbe e as Inúmeras Maravilhas Prometidas Para o Meu Brasil Varonil (Maravilhas Prometidas Desde o Século XVI), Maravilhas estas que estão e estarão ainda em processo de configuração em meu Futuro Próximo (talvez, quem sabe?, a partir de 1o de Janeiro de 2003, se Deus Nosso Senhor assim quiser!).

Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês!, hoje, neste 04 de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data desta Cartinha), espero esse próximo dia 1o de Janeiro de 2003 com muita ansiedade, pois desejo sinceramente que essas Maravilhas Anunciadas desde o início da Colonização (e das outras Colonizações: vitais e mentais) ocorram em um Tempo Recorde, para que possam beneficiar, principalmente, o Maravilhoso Momento Histórico do Amanhã de Vocês.

De qualquer maneira este Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data) merece ser exaltado, porque resistiu bravamente aos Conflitos Mundiais (guerrilhas em cada Cantinho do Mundo Rotundo) e aos Conflitos Políticos de Minha Nação Brasilesa (o Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data), aqui no meu Brasil Varonil do Final do Segundo Milênio, está passando as responsabilidades diárias para o Anno que vem) e permitiu-nos ― Homens e Mulheres e Crianças de Nossa Ágora sempre repleta de Esperanças em um Futuro Glorioso e Sem-Muro ― mais um Período Existencial: o estar vivendo quomodo rezam os Preceitos do Único Deus dos Hebreus e Cristãos.

O Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam desta data, jamais!) merece ser exaltado, principalmente, porque, ainda, não aconteceu o terrivelmente esperado Fim do Mundo dos Antigos Oráculos. Os Homens de meu Passado Histórico (o Passado Histórico desta minha época pertencerá também aos Habitantes do Futuro Sem-Muro) previram o Grande Momento da Exterminação Total da Humanidade para antes do Anno 2000 e, graças a essa Maluca Previsão, a Crédula Humanidade viu-se presa de Angustiante Expectativa. Mas, por enquanto, os Oragos Aziagos erraram, felizmente!

Outros motivos para que o Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data) seja exaltado: o Papa Karol, chamado também de João Paulo II, o Sumo Pontífice da Igreja Católica Romana, continua vivíííssimo e abençoará, não tenho a menor dúvida!, o Segundo Anno do Terceiro Milênio. O Papa Karol, se Deus for com ele!, ainda viajará muuuito pelo Mundo Rotundo, levando a Palavra de Cristo. Lembrem-se dele, aí no Futuro Sem-Muro, Meus Amigos e Amigas! O Papa Karol, depois de São Pedro (o Primeiro) e São João XXIII (deste Século XX), poderá ser considerado o Maior da Igreja Romana. Ele superou as pressões bélicas da Segunda Metade do Século XX, sobreviveu a um atentado terrorista e ainda perdoou o agressor. O Papa Karol (em nossa real memória, em nossa sobrenatural imaginação, em nossa lírica recordação, nos imaginários-em-aberto de nossos textos ficcionais) viverá eternamente.

Quero que saibam, também, que (neste Mês de Dezembro de 2001, não s’esqueçam da data) a minha Cidade Maravilhosa, a Cidade do Rio de Janeiro, Megalópole do Mundo Rotundo, continua bella como sempre. É bem verdade que, aqui neste meu Brasil Varonil, neste Final de Anno de 2001 (não s’esqueçam da data), existem muuuitos e muuuuuuitos e muuuuuuuuitos mendigos (incontáveis!) nas ruas e debaixo das pontes, nas Grandes Cidades Superlotadas, mas, neste Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data), já finalizando o Governo do FHC, algumas poucas Entidades Filantrópicas olharão por eles. Neste Mês de Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data), pelo menos!, os Deserdados da Sorte (milhõõõõõões!) não passarão fome. Saibam que, apesar da exigência de economia de luz (uma terríííííível exigência neste Governo do Fernando), nossas Festas de Fim de Ano ― Natal e Ano Novo ― serão iluminadas e, pelo menos por duas noites, os Pobres Sem Tecto e Sem Pão estarão felizes (lembrem-se disto no Futuro Maravilhoso de Vocês!).

Aqui, no Brasil Varonil, neste Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data), há muita movimentação para as Festanças de Fim de Anno. Todos já estão enfeitando suas casas e comprando os alimentos necessários para a celebração. Acenderemos nossas churrasqueiras ― os muuuuuuito pobres e os pouquinhos muito ricos irmanados ― e assaremos porcos, perus e galinhas em homenagem a mais um Anno de Vida na Terra de Deus Onipotente. O Natal, também, será dignamente celebrado (acreditem!). No Dia 25 de Dezembro deste Anno de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor!) será comemorado o Nascimento de Jesus e, para que a comemoração se apresente completa, uns poucos muuuuuuito ricos já estão providenciando alimentos, roupas e calçados para os muuuuuuitos muuuuuuito pobres. Com toda certeza, uma quilométrica mesa de Natal será construída em uma rua tradicional da Cidade do Rio de Janeiro (pesquisem na Internet, por favor!, Meus Brasileses Amigos do Futuro Brasilês Iluminado e Maravilhoso) e, sobre a mesma, deliciosos alimentos que serão oferecidos aos nossos Deserdados da Sorte Benfazeja. Os poucos cidadãos mais afortunados (riquíííssimos!), aqueles que contribuíram para a Grande Ceia de Natal dos Muuuuuuitos Muuuuuuito Pobres Carentes do Rio de Janeiro (os Pobres Sobviventes!, ou Subviventes!, escolham a palavra certa aí no Futuro de Vocês!), nesse Próximo Dia de Natal de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor!), dormirão o sono dos justos. Esta cena, Meus Amigos e Amigas do Maravilhoso Futuro Brasilês Sem-Muro!, se repetirá em todas as Regiões do Brasil Varonil e nos Países Pobres do Orbe Rotundo também. Ligando nossas televisões (Nós, os Grandes Sortudos da Sobrevivência!) ou, então, acessando a Máquina Internet, aquela que nos mostra todos os Acontecimentos do Mundo e da Galáxia Infinita no perpassar (escoar-se o tempo) de um segundo, assistiremos às Demonstrações de Extrema Bondade dos Poucos Privilegiados da Sorte (os muuuuuuito ricos!). A emoção nos dominará (dominará as Três Classes!) e estaremos Todos Felizes.

Mais para o Final de Dezembro do Anno de 2001 (não s’esqueçam da data), em homenagem às tradições religiosas que fazem parte de Nossas Vidas, com certeza!, a Bandeira da Paz Universal Certamente Será Hasteada, temporariamente (imagino!). Até lá, terei tempo de relatar-lhes as Ocorrências. Aguardem!

Daqui do meu Brasil Varonil, ainda repleta de Esperança em Dias Melhores para o Futuro deste mesmo Brasil Varonil, prometo-lhes um novo missivo para o dia 09/12/2001. Por ora, recebam o cordialíssimo abraço da Muuuuuuito Esperançosa

ODISSÉIA MARIA, Filha de Antônio Aquileu Pelides e Jane (Joana) de Ogiges Brises Martins D’Amorim.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CARTA TRANSCENDENTAL A STEFAN ZWEIG NO DIA DE SEU ANVERSÁRIO


CARTA TRANSCENDENTAL A STEFAN ZWEIG NO DIA DE SEU ANIVERSÁRIO

NEUZA MACHADO

Nesta data que seria a de seu aniversário natalício, registro meus sinceros agradecimentos por você ter acreditado no potencial de meu país. Quando a guerra começou em 1939, e a Europa vivia um momento de cegueira racial, você, um homem de visão, logo depois veio morar aqui no Brasil e soube vislumbrar o que muitos homens de saber não souberam aquilatar: que um país de mestiços poderia deixar sua condição de país naturalmente rico (suas riquezas naturais) para assumir uma posição de destaque político perante outras poderosas potências. Muito lhe agradeço pela confiança. Apenas lamento profundamente o fato de você não estar vivo para desfrutar as maravilhas ocorridas aqui no Brasil. Maravilhas que se iniciaram no final do ano de 2002, quando os mestiços brasileiros se rebelaram contra os senhores-de-engenho e conseguiram colocar na Presidência da República um operário metalúrgico (aquele idealista que você previu com muitíssimo acerto: “No Brasil, há possibilidades de assentar gente em dimensões que um idealista talvez soubesse estimar melhor do que um estatístico”). Esse inigualável representante do povão brasileiro – o Ex-Presidente do Brasil, de 2003 a 2010, Luís Inácio Lula da Silva – teve de enfrentar a pequena e preconceituosa elite brasileira (principalmente a elite de São Paulo), que se dizia dona do poder, e que somente o aceitou (naquele momento da eleição do final de 2002) porque pensava estar entregando ao "mestiço" um país sem futuro (em época de recessão mundial). Graças a Deus, caríssimo Amigo Zweig, tudo o que você previu, começou a acontecer, desde o ano da reviravolta histórica (final de 2002), e, apesar dos percalços (acredite, ainda há percalços a enfrentar, a elite, principalmente a de São Paulo, não se conforma com o sucesso do Presidente Metalúrgico), nosso povo poderá seguir adiante construindo o Futuro que você previu.


BRASIL: PAÍS DO FUTURO

Stefan Zweig

“O Brasil, cujo território é de longe o maior da América do Sul, maior até do que os Estados Unidos da América do Norte, é hoje uma das mais importantes reservas – se não a principal – do futuro do nosso mundo. Aqui temos uma riqueza inestimável em solos que jamais conheceram o cultivo e, no subsolo, minérios e tesouros que não foram explorados ou quase não foram descobertos. No Brasil, há possibilidades de assentar gente em dimensões que um idealista talvez soubesse estimar melhor do que um estatístico. A diversidade dos cálculos para saber se este país, que hoje conta aproximadamente cinquenta milhões de habitantes, poderia comportar quinhentos, setecentos ou novecentos milhões com uma densidade populacional normal dá uma noção para avaliar o que o Brasil poderia ser daqui a um século, talvez já daqui a algumas décadas, no nosso cosmo. Com prazer subscrevemos a afirmativa de James Bryce: ‘Nenhum grande país do mundo que pertença a uma raça europeia possui semelhante abundância de terras para o desenvolvimento da existência humana e de uma indústria produtiva'.

Com a forma de uma harpa gigantesca, curiosamente redesenhando, com seus limites, os contornos do continente sul-americano, este país é tudo ao mesmo tempo: montanhas e litoral, planícies, florestas, pântanos, e é fértil em quase todas as zonas. Seu clima varia em todas as transições – do tropical ao subtropical e para o temperado; sua atmosfera é ora úmida, ora seca, marítima ou alpina. Zonas pouco chuvosas se alternam com regiões ricas em chuva, oferecendo, com isso, as possibilidades de uma vegetação mais variada.

O Brasil possui os rios mais caudalosos do mundo ou os alimenta, como o Amazonas e o Rio da Prata. Suas montanhas lembram os Alpes em alguns trechos e se elevam até três mil metros, com zonas nevadas, no caso do seu pico mais alto, o Itatiaia. Suas grandes quedas d’água – Iguaçú e Sete Quedas – superam em força a de Niágara, bem mais famosa, e estão entre as maiores reservas hidrelétricas do mundo. Suas cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo, ainda em pleno crescimento fantástico, já rivalizam com as europeias em luxo e beleza. Todas as formas de paisagem variam diante do olhar sempre fascinado, e a multiplicidade de sua fauna e flora há séculos garante aos cientistas sempre novas surpresas. Só a lista de suas espécies de pássaros é capaz de encher compêndios inteiros de catálogos, e cada nova expedição volta com centenas de novas espécies descobertas. Só o futuro desvendará o que jaz oculto sob o solo na forma de possibilidades latentes de minérios.

Certo é que as maiores reservas de minérios de ferro do mundo esperam aqui intactas, suficientes para abastecer toda a nossa terra durante séculos, e que não falta a este gigantesco país uma só espécie de minério, rocha ou planta. Por tudo que se tenha feito nos últimos anos para ordenar tudo isso, a verificação e a avaliação verdadeiras aqui ainda estão no começo, antes do começo decisivo. Por isso, é preciso repetir sempre: graças ao fato de ser virgem e tão amplo, este enorme país significa, para o nosso mundo apinhado de gente, muitas vezes já fatigado, esgotado, uma das maiores esperanças – e talvez a esperança mais justificada.

A primeira impressão deste país é de uma opulência desconcertante. Tudo é intenso – o sol, a luz, as cores. O azul do céu é mais retumbante, o verde, mais profundo e saciado, a terra, mais compacta e roxa – nenhum pintor seria capaz de encontrar em sua paleta matizes mais ardentes, ofuscantes, cintilantes do que os das plumas dos pássaros, das asas das borboletas. A natureza sempre se supera: nos temporais que rasgam os céus com seus raios estrondosos, nas chuvas que se precipitam como rios selvagens e na vegetação que em poucos meses se transforma em verdes e densos matagais. Mas também o solo, intacto há séculos e milênios e ainda não desafiado a mostrar seu pleno desempenho, responde a cada apelo com uma força quase inacreditável. Quando nos lembramos do esforço, do martírio, da habilidade, da tenacidade a que é preciso recorrer na Europa para que se possa extrair flores ou frutas de um campo, aqui, ao contrário, encontramos uma natureza que precisa ser domada para que não se desenvolva de forma demasiado selvagem e impetuosa. Aqui, o crescimento não necessita ser estimulado, e sim contido, para que em sua bárbara impetuosidade não sufoque o que é plantado pelo homem. Espontaneamente, sem que sejam necessários cuidados especiais, crescem as árvores e os arbustos que fornecem alimentos a uma grande parte da população – banana, manga, mandioca, abacaxi. E cada nova planta e árvore frutífera trazidas de outros continentes usam e abusam deste húmus virgem.

Tamanha impetuosidade e boa vontade – quase poderia se dizer: generosidade – com que esta terra responde a cada experiência que se tenta fazer com ela, paradoxalmente se transformou várias vezes em perigo para sua economia. Com sequência quase regular ocorreram crises de superprodução, unicamente porque tudo era muito rápido e simples. O episódio em que sacas de café foram lançadas ao mar, no século XX, é o exemplo mais recente. Cada vez que o Brasil começa a produzir alguma coisa, precisa se auto impor barreiras, a fim de evitar a superprodução. Por isso a história econômica do Brasil é cheia de mudanças surpreendentes, e talvez seja até mais dramática do que sua história política, pois geralmente o caráter econômico de um país é determinado inequivocamente desde o começo: cada país toca um instrumento, e o ritmo não muda essencialmente ao longo dos séculos. Um país é agrícola, outro extrai sua riqueza da madeira ou do minério, o terceiro, da pecuária. A linha da produção pode oscilar para cima ou para baixo, mas de um modo geral a direção permanece a mesma. O Brasil, ao contrário, é um país das constantes transformações e das mudanças bruscas. Na verdade, cada século produziu uma característica econômica diferente, e no decorrer desse drama, cada ato tem um nome: ouro ou açúcar, café, borracha ou madeira. Em cada século, em cada meio século, o Brasil revelou sempre uma nova e diferente surpresa quanto a seus abundantes recursos.”

ZWEIG, Stefan. Brasil, um país do futuro. Tradução de Kristina Michahelles. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: L&PM, 2006: 78 - 81.

domingo, 20 de novembro de 2011

PARA UMA PROFUNDA REFLEXÃO NESTE DIA 20 DE NOVEMBRO DEDICADO À CONSCIÊNCIA NEGRA: NAVIO NEGREIRO, CASTRO ALVES


PARA UMA PROFUNDA REFLEXÃO NESTE DIA 20 DE NOVEMBRO DEDICADO À CONSCIÊNCIA NEGRA: NAVIO NEGREIRO, CASTRO ALVES

NEUZA MACHADO

Nesta data – 20 de Novembro de 2011 –, apresento aqui neste meu Blog alguns trechos do longo poema “Navio Negreiro” de Castro Alves (considerado como Poeta da Estética Romântica), buscando provar que a Literatura-Arte, muito mais que a História Oficial, é o veículo íntegro que nos mostra os acertos ou erros do Passado Histórico de um Povo.

Para que os meus Amigos-Leitores possam repensar este Dia 20 de Novembro dedicado à Consciência Negra, para que possam repensar a muito mal contada História do Brasil, e para que possam repensar os preconceitos sociais que aqui se alastraram desde os anos iniciais da colonização.

NAVIO NEGREIRO

Castro Alves

I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar, em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...

..........................................................

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.


II


Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...


III


Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!


IV


Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...


V


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...


VI


Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

sábado, 19 de novembro de 2011

QUE DEUS PROTEJA SEMPRE A BANDEIRA BRASILEIRA


QUE DEUS PROTEJA SEMPRE A BANDEIRA BRASILEIRA!

NEUZA MACHADO

No meu tempo de menina, no Grupo Escolar de uma cidadezinha de Minas Gerais, o dia 19 de Novembro era plenamente celebrado. Naquela data, muito especial, as crianças iam para a Escola sabendo que seria um dia de festa. A Diretora da Escola ― Dona Mariinha ― solenemente hasteava a Bandeira Nacional e todos os alunos, pais e professoras perfilados, com a mão direita espalmada no lado do coração, cantavam o Hino à Bandeira Brasileira. Era um grande momento de confraternização, alegria e, principalmente, de amor à Pátria e ao nosso Símbolo.

Depois da homenagem, iniciavam-se as apresentações infantis: cantos, declamações de poesias relacionadas com o evento, discursos (previamente preparados pelas professoras e lidos pelos alunos mais desembaraçados), pequenas encenações infantis, etc. Cada professora, de cada turma, se esmerava em preparar seus alunos para o dia da festa que, de certa forma, finalizava também mais uma etapa do ano escolar.

Naquela época, aprendíamos na Escola a respeitarmo-nos mutuamente (graças a Deus e às nossas Professoras, não percebíamos ali qualquer traço de preconceito, fosse racial ou social), aprendíamos a respeitar o nosso Solo Brasileiro (tão amado!), aprendíamos a respeitar a nossa Bandeira (para nós, um símbolo sagrado), e aprendíamos também a respeitar o Dirigente da Nação (naquele tempo um Presidente da República não podia, em hipótese alguma, ser destratado).

Nos oito anos de governo do Ex-Presidente Lula – o mais notável Presidente que o Brasil já teve –, o que eu ouvi de opositores (que por sinal se beneficiaram financeiramente, e muito!!!, sob a sua segura gestão) e o que tomei conhecimento do que se publicava nos jornais e revistas do PIG (Partido da Imprensa Golpista), desmerecendo o nosso Presidente Metalúrgico, prefiro não comentar aqui, nesta minha página do Blog.

E neste décimo primeiro ano do início do Terceiro Milênio, já não percebo mais o antigo respeito (inclusive, em relação a nossa atual Presidenta Dilma Rousseff). Com a globalização, infelizmente, não há mais espaço para os sentimentos de patriotismo. Percebo que as comemorações já não possuem a mesma força de antes, a mesma paixão. A mídia televisiva do PIG e principalmente alguns cidadãos politicamente opositores promovem comportamentos desrespeitosos: contra o Brasil, contra os Símbolos da Nação (a bandeira brasileira já se encontra desvalorizada), contra o Ex-Presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores, e que muito fez pelo engrandecimento do Brasil, e agora contra a Presidenta Dilma Rousseff (o PIG não vê a hora de arrancá-la da Presidência).

Com muita vergonha e tristeza, nesses nove anos de governo popular, escutei muitos desaforos proferidos contra a pessoa do Presidente Lula e, agora, contra a Presidenta Dilma, e li a entrevista preconceituosa de um conceituado poeta brasileiro a um jornal de Portugal, falando mal em público (e pior ainda, no estrangeiro) do seu próprio Presidente (por ocasião das eleições de outubro). Fiquei envergonhada! Foi decepcionante para mim, que por muitas vezes li e analisei os poemas desse renomado poeta em sala de aula, ler o elitizado parecer dele, a desmerecer o Presidente Lula, não se pejando em demonstrar a sua opinião particular ao mundo globalizado (como se a sua opinião bastasse para que o mundo todo se voltasse contra o Presidente Brasileiro de origem humilde, naquele momento, depois de oito anos de bom governo, ostensivamente rejeitado por ele). Também tomei conhecimento das ofensas (lixo puro!) de alguns comediantes das Redes de Televisão ligadas ao PIG, de jornalistas de certas revistas que se querem famosas, debochando de um grande e impoluto homem, cuja mácula, para eles evidentemente, foi o de ser um Presidente representante da camada popular (gloriosamente amado pelo Povão), mas que, graças a Deus, soube governar corajosamente e muitíssimo bem o Brasil por oito anos consecutivos (já que, com a Presidência sob o comando de Lula, eles esperavam o pior para o Brasil e o melhor para os próprios bolsos).

E hoje — 19 de Novembro de 2011 — estou aqui novamente (penso que ainda solitariamente entre alguns outros solitários) a lembrar-me que a data sinaliza uma homenagem à nossa Bandeira. As possíveis homenagens formais, que serão exibidas por alguns jornais, revistas e noticiários televisivos, adeptos do PIG, não traduzirão a essência patriótica dos 90% de brasileiros que aprovaram e aprovam o Governo Petista e almejam ver o crescimento de uma verdadeira democracia em nosso país.

HINO À BANDEIRA BRASILEIRA

Musica: Francisco Braga
Versos: Olavo Bilac

Salve lindo pendão da esperança,
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul...

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
poderoso e feliz há de ser

Recebe o afeto que se encerra,
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor.

Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

18 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 9


Esta minha Epístola aos Homens do Futuro (não s'esqueçam da data!) foi escrita em:

18 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 9

NEUZA MACHADO

Inesquecíveis Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro do Imenso e Grandioso Brasil Varonil! Hoje, 18 de Novembro de 2001 (não s’esqueçam da Data desta Cartinha!), quase finalizando o Primeiro Anno do Terceiro Milênio, lembrei-me de informar-lhes algo muito importante. Eu e meus Contemporâneos vivemos ainda sob as Ordens do Impositivo Patriarcalismo Imemorial. O Mátrio Poder, por enquanto, ainda não conseguiu o almejado e total sucesso em sua luta pela igualdade entre Homens e Mulheres (espero confiante que no Tempo de Vocês já exista o Mátrio Poder). Conto-lhes isso, porque, até o momento, sempre direcionei minhas Cartinhas aos Homens do Futuro, aparentemente, excluindo as Mulheres. Quero que saibam o motivo: quando me refiro aos Homens do Futuro, estou, também, incluindo as Valerosas Mulheres do Tempo Vindouro (as Valerosas Mulheres do Tempo de Vocês). Ocorre que, neste meu tempo, neste 18 de Novembro de 2001 (não s’esqueçam da Data, por favor!), ao nos referirmos aos seres humanos ― Homens e Mulheres ―, de qualquer Era deste nosso Mundo Rotundo, enlaçamo-os em uma só Categoria Genética. Por exemplo: os Homens do Passado eram fortes e corajosos (em outras palavras: os Homens e as Mulheres do passado eram fortes e corajosos).

Neste dia 18 de Novembro de 2001 (prestem atenção à Data, por favor!), procurarei explicar-lhes, da melhor forma possível, o motivo de minhas elucubrações sobre o Assunto em questão. Dei-me conta, de repente, da possibilidade das Mulheres do Futuro se rebelarem contra mim, tachando-me de adepta inconteste do Poder Patriarcal. Desde o início da Semana (a segunda-feira já passada; neste Anno de 2001, a segunda-feira se caracteriza quomodo o início da semana) venho cogitando o assunto desta minha cartinha. E se as mulheres forem as Supremas e Poderosas mandatárias aí no tempo futuro de Vocês, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil? Quem lerá o meu missivo dominical, se elas se acharem desprestigiadas aqui nesta humilde Epístola Semanal?

Por esta razão, depois das explicações necessárias, neste meu 18 de Novembro de 2001, quero que as minhas Poderosas Amigas do Amanhã saibam que, daqui para frente, todas as notícias de meu Agorá (esta Praça da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro) serão endereçadas às Mulheres e Homens do Futuro. Infelizmente, não sou pitonisa (não sei, neste meu momento de 2001, se as Mulheres do Futuro Brasileiro serão respeitadas), não adivinho nada!, e quero agradar aos Gregos e às Troianas que se encontram no Porvir aí de Vocês (mesmo que esse Porvir se localize no meu próprio Amanhã). Agora, depois de minhas sinceras desculpas às minhas Amigas do Futuro Brasileiro Sem-Muro, passarei a narrar-lhes as principais ocorrências da Semana que passou (desde o dia 11 de Novembro de 2001 até este 18 de Novembro de 2001).

Meus Amigos do Grandioso Futuro Brasilês (Homens e Mulheres), em uma outra Cartinha, falei-lhes que o meu Brasil Varonil é considerado o País do Futebol. Neste Anno de 2001, gostar de futebol faz parte de nossa realidade. Endeusar nossos jogadores, também. Com isto, esquecemos nossos hodiernos problemas sociais, nossas angústias existenciais, as Inúmeras Guerras que nos cercam (este anno tooodo de 2001 foi terrível; pesquisem aí na Maravilhosa Internet de Vocês; saibam separar o joio do trigo, não sejam preguiçosos!).

Imaginem Vocês! Homens e Mulheres do Abençoado Futuro do Brasil!, neste meu Momento Histórico, neste 18 de Novembro do Anno de 2001, (Nós, os Brasileses) fingimos que não há Guerra no Brasil Varonil. Aqui, neste Mês de Novembro de 2001, para a Maior Parte do Povo Brasilês existe uma Dolorosa Guerra: há a batalha diária pela sobvivência (ou subvivência, se Vocês preferirem!). Há um percentual pequeno que vive dignamente (são os muuuuuuito ricos); há um outro percentual, também pequeno, que sobrevive (são os oriundos da Antiga Classe Média); e há, em graaaaaande quantidade, os sobviventes (são os que sobvivem ou subvivem em meio a mais Horrenda Miséria).

Não saberei narrar-lhes como sobvivem esses Meus Irmãos Brasileses, neste anno de 2001, porque (graças a Deus! Que é Brasilês e está sempre olhando pelos Pobres do Brasil!) pertenço à Classe Número Dois: luto quomodo uma condenada, toooooodos os dias!, para sobreviver neste Anno de 2001, neste Meu Mundo de Incertezas Constantes. Mas, graças ao Deus dos Católicos e dos Evangélicos!, ainda posso escrever Cartinhas para os Meus Brasileses Amigos e Amigas do Glorioso Futuro do Brasil. A Minha Mente (graças a Deus!) continua sã (sei repensar esta minha atual realidade!). Ainda posso comprar alimentos com o parco salário de Sofressora Horista, algumas roupas, calçados e, melhor ainda, não tenho dívidas (faço uma economia incrível para não ter dívidas!). Quando não puder mais trabalhar (para sobreviver depois que a Extrema Velhice chegar), irei para o Maravilhooooooso Asilo de Velhos. Quando esse dia sem-guia chegar, conhecerei (oh! Deus! espero que não!) a Atual Classe Número Três deste 2001.

Meus Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro Ideológico, neste Anno Aziago de 2001, rogo a Deus, sempre, que não me deixe conhecer a Classe Existencial Número Três. Vou batalhar muuuuuuito, acreditem em mim!, para terminar os meus dias aqui na Terra Rotunda com um certo conforto.

Entretanto, Amigos e Amigas do Incrível Futuro Abençoado!, aqui no Brasil Varonil, desde o Século XX já passado e, principalmente, neste Anno de 2001, gostamos de Futebol (um jogo incrível, saibam Vocês!). Só para Vocês terem uma idéia, estamos eufóricos porque o Brasil Varonil se classificou valentemente para a Copa do Mundo de 2002. Vai começar tudo de novo. Vamos esquecer nossos atuais insolúveis problemas de 2001. Vamos torcer pela vitória de nossa Seleção em 2002 (que seja uma vitória insuspeita!).

Agora, para Vocês não se esquecerem deste Passado Anno de 2001, envio-lhes notícias do Planeta Terra (repetindo sempre, neste Anno da Graça de 2001-11-18): as Guerras, Meus Amigos e Amigas, infelizmente, continuam. Existe prostituição infantil em cada cantinho do Mundo Global (principalmente aqui no meu Brasil Varonil). Há inúmeras pobres crianças abandonadas, em muitos Países do Terceiro Mundo (principalmente aqui no meu Brasil Varonil, por enquanto, ainda, neste 2001 um País de Terceiro Mundo), revirando lixeiras, buscando alimento, roupas velhas, calçados velhos, no meio do lixo. Os Restaurantes do Mundo jogam as sobras de comida no lixo (e não oferecem as sobras aos pobres). Os infectos ratos ― propagadores de doenças ― proliferam nos esgotos mal cuidados de minha Cidade Maravilhosa neste Anno de 2001. As infectas baratas também. Os caríssimos cachorros das elegantes Madames (neste 2001) fazem cocô nas calçadas do Rio de Janeiro, Megalópole do Brasil Varonil. Os rios do Mundo estão poluídos. O ar ― purificador ― está poluído. As florestas nativas estão desaparecendo. Neste 2001 a Corrupção Política continua inapelavelmente. Uma doença mortal ― chamada Aids ― também. Os Impostos Sociais estão cada vez mais altos. O dólar ― o dinheiro do mundo americano do norte ― está altíssimo (por enquanto, eles mandam no Mundo). A passagem do ônibus ― transporte de pobre ― aumentou no Rio de Janeiro neste Mês de Novembro do Anno de 2001. Os subnutridos da sobvivência irão morrer de fome (todos eles, inapelavelmente): o salário-escravidão mensal não dará para comprar alimentos nos Hiper Mercados. Et cœtera. Et cœtera. Etc. Etc. Então, meus Amigos e Amigas do Maravilhoso Futuro Brasilês!, acreditem!, neste Anno de 2001, só porque somos Brasileiros e não desistimos nunca, continuamos vivendo quomodo Deus quer!

Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro, estou aqui, neste incomum dia 18 de Novembro de 2001, a escrever-lhes esta Cartinha Doída, esperando que Vocês a recebam aí no Futuro (só para que possam avaliar este Meu Histórico e Triste Presente, e incrivelmente já um Passado para Vocês) e que recebam também o meu Fervoroso Carinho Transtemporal!

ODISSÉIA MARIA, conhecida também por Circe Irinéia, filha de Antônio Aquileu Pelides e Jane Briseides, neta de José Peléias per lado paterno, e de Emiliano de Brises per lado materno, todos descendentes de Imbatíveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma Região Insólita Paradisíaca Sensacional localizada na parte Leste do Brasil Varonil.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 8


11 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 8

NEUZA MACHADO

Ao iniciar esta minha cartinha, com as notícias de hoje, dia 11 de Novembro de 2001, desejo que esta os encontre repletos de saúde e riquezas fabulosas. Que o Futuro-Sem-Muro aí de Vocês seja um lugar de paz, tranquilidade e harmonia, incluindo a permanente abundância de alegrias espontâneas e felicidades autênticas.

As notícias de meu tempo, neste 11 de Novembro de 2001, não são boas. A semana transcorreu quomodo o já esperado. Nós Brasileses, neste Mês de Novembro do Anno Inicial do Terceiro Milênio (2001), não estamos guerreando, mas as Guerras Insolúveis de Outros Povos do Mundo nos envolvem inexoravelmente. A Incrível Máquina Internet nos mostra todos os Acontecimentos do Globo Terrestre ― todas as guerrilhas que acontecem nas diversas regiões de nosso Planeta ― no mesmíssimo instante do ocorrido. Ontem mesmo (10 de Novembro de 2001) caiu um helicóptero na África (pesquisem aí no Futuro!), em uma localidade da África, e a Humanidade toda recebeu a notícia uns segundinhos depois, inclusive [Nós] os Brasileses, habitantes de uma Região Paradisíaca, Bela e Agradável, Incrustada no Espaço de Fogo do Orbe Guerreiro.

É bem verdade que o Nosso Paraíso não se parece nem um pouco com o Paraíso Celestial das Profecias Religiosas, aquelas inúmeras profecias que acompanharam a humanidade, desde o Princípio do Mundo até este meu Insólito Momento (desculpem-me a insistência temporal: 11 de Novembro de 2001). Muitas Manchas Negras e Nuvens Escuras poluem a Nossa Atmosfera, que deveria ser, sem nenhuma dúvida, de uma Pureza Celestial, já que nos consideramos os Privilegiados de Deus. Saibam Vocês, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil, que a frase mais propalada aqui no Meu País, neste Meu Tempo de Incertezas (11 de Novembro de 2001), é esta: Deus é brasilês! Realmente, somos um Povo Feliz. Não há inflação declarada (assim afirmam os economistas do Governo Brasilês deste 2001); a economia se mantém estabilizada (assim afirmam nossas autoridades competentes do Governo Brasilês deste 2001); uma Parte do Povo se alimenta bem (uma Pequena Parte, bem entendido!, a parte elitizada) e se veste dignamente (uma Mínima Parte, bem entendido!, a parte elitizada); os Homens Brasileses são vigorosos e as Mulheres Belas saem nas Capas das Revistas Culturalmente Conceituadas (uma Pequena Parte, bem entendido!, a parte elitizada).

É bem verdade que, Neste Final de 2001 (até este 11 de Dezembro de 2001), muuuuuuitos (milhõõõõõões e milhõõõõõões!) Passam Fome nas Regiões Atrasadas de Nosso Vastíssimo Território Brasilês (pesquisem aí no Futuro, para não falar bobagens contra o Governo de Vocês, os Governantes do Futuro, os que vão tirar o Brasil da Miséria! A Internet está aí para Vocês pesquisarem! Aproveitem!), milhõõõõõões passando fome nas regiões de seca inclemente, mas, um dia, os Beneficiados da Sorte olharão por eles. De qualquer maneira, no momento (11 de Novembro de 2001), que seja feita a vontade de Deus! Infelizmente, neste nosso Agora Atual (neste 11 de Novembro de 2001), nesta nossa Praça do Rio de Janeiro (neste 11 de Novembro de 2001), onde, segundo o deífico Poeta Chico Buarque, desde eras imemoriais passaram, passam e, por certo!, ainda passarão inúmeras festivas bandas, cantando coisas de amor, neste minuto-mito de nossa realidade (11 horas e 11 minutos do dia 11 de Novembro de 2001), não há quomodo pretender perfeição celestial em nosso Paraíso.

Neste 11 de Novembro do Anno de 2001, no Brasil Varonil, há muitos desempregados (pesquisem aí no Futuro Radioso de Vocês! por favor!), uma Legião de Heróicos Brasileses que vivem em condições de Extrema Miséria (Pesquisem aí no Futuro, por favor! Olhar o Passado no Retrovisor da História Não-Oficial não é pecado!).

Mas, Deus, Meus Amados!, é maravilhosamente brasilês e, de vez em quando (até esta incrível data de 11 de Novembro de 2001), acontece o inesperado: alguns, entre muitos, enviam Cartinhas Dolorosas aos Animadores de Programas de Televisão, revelando seus infortúnios vivenciais, e são sorteados, e depois vão aos Programas Televisivos e ganham Cestas de Alimentação por um anno, Casa Mobiliada, Automóvel, Plano de Saúde por um anno, Assistência Odontológica por um anno, Vestuário Completo (comprado nas mais famosas lojas dos grandes Shoppings de nossas mais importantes Urbes). Acreditem! Por aqui, até esta data de 11 de Novembro de 2001, há umas poucas pessoas riquíssimas, pessoas super elitizadas, com muito dinheiro no Banco, e que não se preocupam, em absoluto!, com o Famigerado Imposto de Renda ou mesmo com o chamado Caixa Dois, e, às vezes, seus corações se enchem de compaixão por uns poucos mais pobres! São milhares e milhares e milhares de Pobres Brasileses, no entanto, somente uns poucos (infelizmente!) são agraciados pela Sorte Benfazeja. Apenas os que foram sorteados na Roleta da Sorte Benfazeja! No esperado Dia de Glória, para os incríveis assinalados da Boa Sorte, a comoção é geral. A Grande e Tão Esperada Sorte sempre comparece nas Tevês do Brasil Varonil, neste anno de 2001, aos Domingos, buscando a passiva aceitação dos Telespectadores.

Hoje, por exemplo (não s’esqueçam da Data: 11 de Novembro de 2001), à tarde, com os olhos marejados, estarei assistindo, pela televisão, confortavelmente instalada em minha macia poltrona de cor incrivelmente dourada (apesar do minguado salário de sofressora), os Programas que se esmeram em proporcionar a estes Desvalidos um pouco de conforto vital, mesmo que seja instantâneo. Quero deixar claro, aos meus Amigos do Futuro, que não me coloco contra os Programas Televisivos que assim agem. Ao lado da disputa pela atenção do Telespectador, existe uma Grave Revelação (uma Importante Denúncia), em outras palavras, esses Programas conseguem mostrar nitidamente (para aqueles espectadores-eleitos, aqueles que sabem avaliar criticamente as mensagens subentendidas) o ponto ― que não seja irreversível ― de miséria absoluta e abandono que atinge a maior parte da população brasilesa neste final do Anno de 2001.

Mas, não se impressionem, meus Amigos do Futuro Sem-Muro!, olhando para os lados, observando a realidade circundante, repensando o Mundo já Globalizado (neste 11 de Novembro de 2001), aqui ainda é um Lugar Maravilhoso. Existe, por acá, o chamado jeitinho brasilês, e, assim, graças a esse jeitinho, vamos vivendo quomodo Deus quer.

Por ora, neste dia 11 de Novembro de 2001, sem mais notícias (e, infelizmente, sem boas notícias), despeço-me com um carinhoso e caloroso aperto de mão transtemporal.

ODISSÉIA MARIA, filha genuína de Antônio Aquileu e Jane Briseis, neta per lado paterno dos mitológicos José de Sousa Peleu e Antoniña de Tetis, e per lado materno dos inigualáveis Emiliano de Brises e Justiniana de Ogíges, descendentes — os meus dois maravilhosos troncos ancestrais — de Imemoriais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma Região Mitológica localizada na parte Leste do Brasil Varonil.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

04 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 7


Esta minha Epístola aos Homens do Futuro foi escrita em:

04 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 7

NEUZA MACHADO

Meus Amigos do Futuro do Brasil Varonil, conforme o prometido eis-me aqui novamente. No momento exato em que começo esta minha cartinha, neste exatíssimo 04 de Novembro de 2001, na Cidade Cariocjônia do Rio de Janeiro, o minúsculo relógio digital de meu telefone celular marca vinte e uma hora e trinta minutos. Relógios digitais, telefones celulares, microondas [um forno (incrível invenção!) que cozinha os alimentos em questão de segundos], computador, et cœtera, etc, serão, no Futuro Sem-Muro aí de Vocês, aparelhos fora de moda, porque, certamente, Vocês, Brasileses do Futuro, todos certamente! com muito estudo universitário (neste meu anno de 2001, são poucos os brasileiros pobres que conseguem estudar – com sacrifícios monetários – nas Universidades Particulares e, muito menos, conseguir vagas nas Federais Gratuitas para os ricos) e no auge de suas inteligências, já terão inventado objetos similares mais sofisticados, e, alguns de Vocês (os realmente interessados em conhecer o Passado do Brasil Varonil), que estarão a buscar preciosas informações desta minha realidade temporal – realidade histórica deste 04 de Novembro de 2001 –, acharão muita graça de nossas atuais invenções que, para Vocês, já serão ultrapassadas).

Entretanto, neste exato momento (não s’esqueçam da data: 04 de Novembro de 2001), são vinte e duas horas e cinco minutos ― horário de Verão no Brasil Varonil ― e eu estou, aqui, reflexiva, a cogitar, selecionando os Acontecimentos do Dia, ansiosa por enviar-lhes notícias interessantes.

Diferente dos outros Domingos (hoje, 04 de Novembro de 2001, não s’esqueçam!), o Sol Hipercariocjônio não iluminou a Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro. Choveu o dia todo incessantemente. É esta uma noite terriiiiiiiivelmente fechada e ainda chove na minha Terra, por certo! (por que não?), maravilhosa e abençoada por Deus (apesar dos pesados pesares que nos afetam todos os dias!). Estou a esperar que chova bastante perto das grandes Usinas Hidroelétricas do Brasil Varonil, para que a luz volte a reinar em nosso simplório cotidiano, o qual, no momento, infelizmente!, neste 04 de Novembro de 2001, se encontra sem muitas perspectivas iluminadas.

Meus Caríssimos Amigos, como já lhes disse, em uma outra Cartinha, estamos vivendo uma dramática terrível hiperbólica situação de Economia de Luz (para os mais pobres, evidentemente!). Desde o Mês de Junho de 2001 (não deixem de dar atenção à data!), economizamos Luz Elétrica (para os poucos muuuuuuito ricos, evidentemente! evidentemente! evidentemente!), para que não ocorra o apagão, ou melhor, a falta de luz nos lares, a escuridão total. É bem verdade que a Megalópole Cariocjônia do Rio de Janeiro, neste anno de 2001, continua muitíssimo iluminada: os Riquíííssimos Prédios Públicos, os Letreiros Luminosos Milionários, as Ricas Mansões dos Bilhardários e Trilhardários e Multiplicadários ao Infinito, os Belos Cumes Troantes e Ribombantes e Eletrizantes de minha Polis Maravilhosa repletos de Luzinhas Elétricas, e Muitos Outros Locais Elitizados, permanecem, continuamente, Iluminados.

Na verdade, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil!, neste Anno de 2001-04-11, apenas a classe muuuuuuuto pobrinha (a antiga Classe Média) foi obrigada a fazer economia (estamos esperando o dia em que aqui no Brasil a Luz Benfazeja do Amor ao Próximo seja para todos!). Existe uma quota prevista para os inglórios assinalados do Destino (e eu, Sofressora e Mulher, aqui no Brasil Varonil!, redigo, Professora, me encontro entre esses assinalados). A base da tal quota foi elaborada a partir do gasto de eletricidade ― de cada residência ― ocorrido no Mês de Junho de 2000 (atenção: eu informei-lhes corretamente a data: Mês de Junho de 2000). Por exemplo, se a quota foi pequena no tal mês de Junho de 2000, os ingloriosos assinalados do Destino, os brasileses muiiiiii pobrinhos, só poderão gastar aquele percentual ― todos os meses ― até que o governo do FHC determine o fim da economia (para a solução dos grandiosos problemas monetários dos poucos muito ricos do Brasil Varonil). Ocorre que os Privilegiados da Sorte deste Anno de 2001, os poucos brasileiros da Elite Ricaça ― haja Sorte! ―, gastaram bastaaaaaante eletricidade no tal mês de junho de 2000 e, já que Gastaram Muuuuuuita Luz, os Tais poderão usufruir a luz elétrica racionada sem grandes perdas; entenderam?, bastarão desligar alguns condicionadores de ar e tudo estará resolvido. Os inglórios pobres coitados do Brasil Varonil (os padecentes!) que se arranjem neste Final de Anno de 2001 e façam economia!

Mas, Graças a Deus!, o tempo interstício está ameno e o Calor Abrasador ainda não fez a sua entrada triunfal na Megalópole do Rio de Janeiro, neste início de Novembro de 2001. Só não sei o que faremos quando o Caloroso Sol Flamejante vier nos visitar. Como agraciá-lo com a nossa amável acolhida, se não recebermos, daqui a um mês (Mês de Dezembro de 2001, não s’esqueçam!), autorização governamental para ligar nossos humildes ventiladores?

Oh! Meus Amados Brasileses do Futuro Sem-Muro! Estou aqui, neste 04 de Novembro de 2001, a me preocupar com a possibilidade de um apagão, enquanto milhares e milhares de Seres Humanos, inclusive e principalmente aqui no Brasil, neste Anno de 2001 (pesquisem aí no Futuro Sem-Muro, por favor!), não têm o que comer. A Guerra Inglória continua no mundo. As doenças incuráveis continuam. Os Deserdados da Sorte estão morrendo à míngua. As infelizes crianças de algumas regiões do Oriente Médio, neste final do Anno de 2001, vão sendo treinadas para a Guerra e já manejam armas mortíferas (pesquisem aí no Futuro, por favor!). As crianças da Região de Conflito do Oriente Médio não receberam permissão para sonhar com o Futuro Sem-Muro Radioso. Não saberão como escrever suas Cartinhas para os Homens do Longínquo Futuro Sem-Muro. Não conseguirão (as Crianças do Oriente Médio deste 2001), jamais!, imaginar a possibilidade de conforto para as Crianças do Futuro. O Futuro não existe para os muitos infelizes pequeninos do Oriente Médio. Existe, saibam Vocês do Futuro!, neste Anno de 2001, a Guerra Capitalista. As crianças do Oriente Médio, neste Anno de 2001, não brincam como crianças!; passam fome e sede (a água é escassa), não têm nenhuma esperança e não sonham com dias felizes. E eu, neste 04 de Novembro de 2001, uma pensativa e incomodada sofressora desta Era de Calamidades Sem Conta, estou aqui preocupada com pequenos probleminhas cotidianos, com a possibilidade de falta de Luz Intersticial Para Sempre no meu Brasil Varonil.

Mas, neste Final de Anno de 2001, acredito piamente!, um Herói do Futuro irá se sobressair no meio de todo esse alvoroço e gritará a sua Sentença de Paz. Quando esse dia chegar, estarei a postos, se Deus assim o permitir!, para relatar-lhes o Acontecimento.

Aguardem novas notícias no Domingo que vem (11 de Novembro de 2001). Espero que vocês recebam aí no Futuro Sem-Muro Glorioso do Brasil Cor-de-Anil o meu Profundo Amor Transecular!

ODISSÉIA MARIA, conforme a Lei, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseides, ambos descendentes de Indomáveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaquatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região paradisíaca, ímpar, maravilhosa, sem-igual, situada na parte Leste do Brasil Varonil.