AS MENINAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES - A AVALIAÇÃO DO PAPEL DA BRASILEIRA-ESCRITORA EM MEADOS DO SÉCULO XX - 1
NEUZA MACHADO
A avaliação do papel da Brasileira-Escritora do Século XX, principalmente, da escritora dos anos 60/70, se faz necessária, porque o momento político do Brasil, naquele período, promoveu novas formas de criação literária que, no mesmo instante em que escondiam nos subterrâneos da escrita a crise social — que se propagava rapidamente —, revelavam, por meio de metáforas bem trabalhadas, as várias formas de tortura sofridas pelo Povo brasileiro à época da Ditadura. A liberdade de imprensa, a liberdade criativa, todos os meios de comunicação estavam sob suspeita, e, assim, não era permitido ao escritor — homem ou mulher — externar a realidade deprimente de um país que sofria a mais terrível forma de ditadura: a militar.
Por um ângulo interdisciplinar, a narrativa de Lygia Fagundes Telles será por mim dialetizada, uma vez que, opacamente, ou seja, criativamente, a escritora impõe-se transmitir — ficcionalmente — a sua interpretação das experiências vitais da mulher dos anos 60/70 por meio de suas personagens conflitantes.
Aqui, o desenrolar narrativo será analisado também pela perspectiva histórica, porquanto (e não há como negar as evidências) As Meninas de Lygia são, na verdade, as várias faces ficcionais da mulher brasileira dos anos 60/70, aquela que participou socialmente de um período conturbado da segunda metade do Século XX, em um país historicamente desajustado desde os seus primórdios. Reconheço que não se pode separar as três personagens e a autora (integrante dessa mesma realidade), porque cada uma completa a outra e vice-versa, assim como todas as personagens secundárias da narrativa que expressam, sem dúvida, a multiplicidade de faces de um mesmo espelho (um tema presente na literatura pós-moderna). Lygia Fagundes Telles, enquanto ser social, participante de uma determinada fase da História do Brasil, consciente das questões sociais de seu momento, e de acordo com a sua natureza feminina, mimetiza uma realidade fragmentada por intermédio do entrelaçamento dos pontos de vista diferentes de suas narradoras. Suas personagens femininas representam a dilaceração da mulher brasileira da segunda metade do Século XX, submetida às mudanças sócio-político-familiares ocorridas no mundo, e em um período de transição sem alicerces para o futuro.
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