09 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 12
NEUZA MACHADO
(Charge do Bessinha - 2011)
(Daqui, deste meu Passado de 2001, vejo a Charge do Bessinha, anunciando muita fartura para o Natal de 2011.)
(Neste meu Anno de 2001, aqui no Brasil, está muito difícil festejar o Natal condignamente. Mas, o Natal de Vocês, do Anno de 2011, será de muita fartura. Confiram aí na Internet de Vocês, Internet do Futuro, para saber se a minha visão, aqui deste meu anno de 2001, corresponde à realidade do Anno de 2011, por favor! E não dêem atenção às previsões negativas do PIG de Vocês! O Brasil do Futuro, a partir do Anno de 2003, passará a ser grandioso (lembrem-se, estou a escrever para Vocês no Mês de Dezembro do Anno de 2001). No Futuro do Brasil, não existirão mais milhões e milhões e milhões de esfomeados! Neste meu Anno de 2001 são milhões e milhões e milhões que passam fome e frio e poucos têm telefone celular e Computador e Internet. Confiram aí no Maravilhoso Futuro de Vocês. A Internet foi criada para isso, para mostrar os malefícios de certas propagandas televisivas contra o Governo de Vocês. Cuidado também com os Programas Infantis de alguns Canais de Televisão. Vejo, daqui de meu Passado Histórico, que há persuasivas mensagens sublineares, mensagens estas criadas especialmente para fazer a cabeça das crianças e dos jovens pais das crianças. Cuidado com tais mensagens! Não se deixem enganar!)
09 DE DEZEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO
Neuza Machado
(Para o Brasileiro do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)
Hoje, dia 09 de Dezembro do Anno de 2001 (não s’esqueçam nunca da data desta minha cartinha, por favor!), o tema de meu missivo, Meus Amigos e Amigas do Brasilês Futuro Sem-Muro!, é a Vida. Gostaria de lhes revelar esta minha grande paixão pela Vida. Se os meus Contemporâneos Mais Abonados deste anno de 2001 soubessem (aqueles que estão com saúde, dinheiro no Banco e nos bolsos, os filhos em bons Colégios, muito alimento estocado em suas despensas, et cœtera) quomodo é sensacional estar vivendo e tivessem consciência do quanto foram agraciados pela Sorte Benfazeja, esta nossa realidade existencial seria algo fora do comum. Se essa consciência (ela está pendurada em uma Ilha distante e inatingível, conhecida apenas pelo escritor Mário de Andrade) fizesse parte dos nossos sentimentos existenciais, saberíamos dividir o pão e o vinho conforme o Filho de Deus nos ensinou no início da Era Cristã. Atualmente, neste Final de Anno de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor), aqui no Brasil Ainda Varonil, não dividimos nada com nossos semelhantes menos afortunados. De vez em quando fazemos uma caridadezinha, principalmente, por ocasião do Natal, e, com isto, aplacamos a tal culpa (sentimento possivelmente moderno, ou seja, da Era Moderna) que, não sabemos o motivo, instala-se em nossos corações.
Meus Amigos e Amigas (do Maravilhoso Futuro Sem-Muro Brasileiro, naturalmente), viver, para a maior parte da humanidade, aqui, em meu tempo histórico (Final de Anno de 2001, não s’esqueçam da data!), é um pesadelo digno de ser formalizado em extensas páginas épicas ou ficcionais. Por exemplo: viajar de Metrô, no Rio de Janeiro, a mais Bella Megalópole do Mundo Rotundo, às dezoito horas, voltando do trabalho diário, é uma façanha existencial para nenhum Homem do Brasilês Futuro Sem-Muro botar defeito (Meninos! Eu sei!; Meninos! Eu vi!).
[Não sei se, no Brasilês Futuro Sem-Muro, esta expressão botar defeito será usada, por isto, estou a enviar-lhes também os outros significados atuais (deste Final de Anno de 2001, não s’esqueçam da data!) do verbo transitivo direto botar. De acordo com a etimologia, o verbo botar significava, em um passado remoto, lançar fora. Tornou-se um verbo tão popular (já sofreu degeneração semântica no já passado Século XX) que, aqui em meu Brasil Varonil deste Anno de 2001 (não s’esqueçam da data!), só os sobviventes (ou subviventes, se Vocês assim decidirem!), os falantes da Classe C (confiram, por favor, a cartinha que lhes enviei no dia 18 de novembro de 2001) atrevem-se a mencioná-lo. Por exemplo, o bebedor de aguardente (bebida de alto teor alcoólico) dirá: Ó meu (meu amigo, meu camarada, et cœtera), bota uma daquelas que matou o guarda aqui no meu copo. Hoje (os brasileses são chics, os da Famosa Elite Brasileira, naturalmente), há outros significados, mais eruditos!, que substituem o verbo botar. Anotem: pôr, colocar, guardar, depositar, incutir, IMPUTAR, infundir, et cœtera. Desculpem-me os meus inúmeros enclaves discursivos, mas preocupo-me sempre com a evolução das palavras, com as expressões populares e a arte do bem-falar. Não quero que imputem-me um mal-discorrer.]
Mas, retomando o teor de meu missivo, neste Final de Anno de 2001 (peço-lhes que não s’esqueçam da data, por favor!), neste meu Tempo Histórico de calamidades sem-fim, andar de Metrô (um veloz veículo, um trem subterrâneo) é uma façanha existencial prá ninguém botar defeito. Quando os brasileses cariocjônios voltam do trabalho diário (neste Final de Anno de 2001, não s’esqueçam da data, por favor!), enfrentam uma série de problemas. É uma batalha terrível, horrível, temível, incrível!, pior do que a batalha entre Gregos e Troianos mencionada por Homero (conf.: ILÍADA) em seus famosos versos hexâmetros. Eu, meus Amigos do Maravilhoso Futuro Brasilês, ando de ônibus ou de Metrô, para chegar ao (ou voltar do) trabalho diário. Por esta razão, permito-me escrever-lhes sobre um assunto tão problemático. Infelizmente, para resolver esta questão, neste Final de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor!), não possuo a solucionática (só para lembrar-me do grande e deiforme Jogador de Futebol Brasilês Dadá Maravilha – pesquisem aí no Futuro, na Internet Maravilhosa de Vocês, quem foi o Dadá Maravilha –, criador da palavra solucionática e herói de minha mocidade).
Há duas semanas (lá para o Final do já passado Novembro de 2001; não s’esqueçam da data, por favor!), mais ou menos, por volta das dezoito horas, assisti a uma briga violentíssima, na Estação Estácio - linha dois: Estácio/Pavuna -, entre dois homens que voltavam do trabalho estafante. Os dois homens estavam brigando, simplesmente!, por um assento (uma cadeira vaga). Estapeavam-se violentamente, brutalmente, porque queriam viajar sentados e, no empurra-empurra - uma quantidade incrível de pessoas viajando em um minúsculo vagão -, um se antecipou ao pretenso dono do assento e, quomodo isto por acá, no Brasil Varonil deste Anno de 2001, é normalíssimo, a confusão teve início, necessitando de intervenção de Guardas Truculentos, todos treinados para tal empresa, para acalmar os ânimos.
A vida, meus Amigos, é uma dádiva preciosa. A morte é uma certeza. Mas, deixando de lado esta certeza, deveríamos aproveitar nossa estadia aqui na Terra de Deus, transformando esta dádiva em algo prazeroso. Infelizmente, o meu Mundo atual (do Final do Anno de 2001; não s’esqueçam!) é um lugar de incríveis conflitos. O progresso desenfreado e a luta diária pela sobrevivência (os sobreviventes - a famosa classe B - são oriundos da antiga Classe Média do Brasil Varonil) transformaram a nossa realidade em algo pior do que o Inferno de Dante Alighieri.
Enfim, meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro!, são estas as notícias de hoje (dia 09 de Dezembro de 2001, para Vocês nunca s’esquecerem da data!). Por ora, não lhes falarei da Guerra, porque o mês de Dezembro é um mês de muuuuuuita Alegria! Vamos queimar milhões de cartuchos de fogos-de-artifício na passagem do Anno de 2001 para o Anno de 2002 (no momento, estamos necessitados de muita alegria, mesmo que seja passageira). Não deixarei de relatar-lhes o Grande Acontecimento Vindouro.
Finalizando o meu missivo: Em relação aos muuuuuuito pobres do Mundo Rotundo, neste Início do Terceiro Milênio (Primeiro Anno do Século XXI, não s’esqueçam deste Anno de 2001), peço-lhes que não se preocupem com eles ― Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro! ―, não se preocupem com os milhõõõõõõõões de Brasileses Sem Tecto que passam fome Neste Meu Tempo de Inúmeras Calamidades Por Enquanto Sem-Fim. Pelo menos, neste Momento Festivo Mês deste Dezembro de 2001 (não s’esqueçam da data, por favor!), os pouquinhos muuuuuuuuito ricos olharão por eles (somente neste Mês do Natal do Anno de 2001, para aplacarem suas consciências). Depois... Depois, será o que Deus quiser!... Mas, a Invisível Guerra Cotidiana continua neste Mês de Dezembro de 2001...
Para Vocês, Meus Queridos Amores do Futuro Brasilês Sem-Muro!, envio, daqui deste Anno de 2001, um Mui Exaltado Abraço Transtemporal e o desejo sincero de que, nos Próximos Annos do Maravilhoso Futuro Brasileiro, todos vivenciem Maravilhosas e Verdadeiras Festas de Natal e Anno Novo.
ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu Musicista, o Pelida, e de Jane Briseides dos Campos de Plantação de Café de Minas Gerais, Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário