V – QUE APRESENTA O ANSEIO DA FIDALGA DIANNA DE MANDAR TUDO PRAS CUCUIAS
NEUZA MACHADO
De verdade, no Passado Ajuizado,
até que ela viajava com a Família.
O Marido Querido, acredite!,
apesar do pouco dinheiro mensal,
gostava de acampar acampar acampar,
e,
nos finais de semana e feriados,
ela, o Querido e os filhos arrumavam a Casa-Portátil,
com toda traquitana necessária,
atrelavam-na no Velho Automóvel
(a traquitana necessária, bem entendido!)
e disparavam
a direção aos Superlotados
Campings Sites do Brasil Varonil.
Mas, não era esse tipo de viagem
que a Fidalga Quixotinna desejava.
Ela queria Viagens de Sonhos,
sem ter de cuidar dos afazeres domésticos,
porque, nas tais viagens com a Família,
ela continuava uma Doméstica do Lar,
Não Era Fidalga Pomposa Coisa Nenhuma.
Enquanto o marido Querido e os filhos iam se divertir,
a pobre ia cuidar da Muito Velhusca Casa-Barraca-Móvel
― cozinhar, lavar roupas,
limpar a mobília flutuante, et cœtera ―;
é bem verdade que a Família se dividia
na hora de lavar a louça na bateria de tanques,
própria para atender quantas famílias ali se encontrassem
(às vezes, ocorriam filas quilométricas,
cada um com seus baldes de louças,
esperando que os da dianteira desocupassem os tanques),
mas, lavar louça,
no entender de todos os Maridos Queridos dos Campings,
era a parte mais divertida dos pesados trabalhos domésticos,
naquelas viagens de necessário entretenimento,
porque todos os Maridos Queridos dos Campings,
lavando os pratos e panelas e talheres,
se distraiam, contando casos
e piadas, uns com os outros.
Mas, lá pelas tantas,
a louça suja sobrava para as Esposas Queridas também.
Entretanto, apesar do curto dinheiro
nos bolsos do casaco surrado
do Marido Querido
(a sobra do ordenado mensal
era sempre para o entretenimento semanal),
depois de muitos Acampamentos,
Pelos Muitos Campings do Brasil Varonil,
no Correr do Tempo,
Houve Aquele Dia em que ela disse:
“Basta! Vou Sair Por Aí
Voando Voando Voando
pelo Brasil Cor de Anil
e pelo Mundo Rotundo também
a Viajar Viajar Viajar!”
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