17 DE DEZEMBRO DE 1961 - DATA DO INCÊNDIO NO GRAN CIRCUS AMERICANO EM NITERÓI
NEUZA MACHADO
Nas idas e vindas de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, naquele domingo fatídico do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em 17 de novembro do ano de 1961, meu irmão José (dez anos mais velho) levou-me para passear em Niterói. Eu estava saindo da infância para a adolescência e, ainda como criança mineira deslumbrada, as paisagens do Rio de Janeiro me encantavam. Então, atravessar a Baía de Guanabara de barca, em uma manhã ensolarada, foi uma aventura inesquecível.
Meu irmão tinha uma namorada em Niterói e, assim, rumamos para a residência dos pais da jovem. Não me lembro de todos os detalhes do passeio, apenas recordo-me de que a família da moça morava em um apartamento no centro da cidade de Niterói. Ali, a dona da casa nos ofereceu um delicioso almoço de domingo. Depois do almoço, planejamos o divertimento da tarde, em outras palavras, a idéia era irmos ao Circo, na matinê da 14 horas (se não me engano).
Entretanto, o meu Anjo da Guarda, certamente já prevendo a catástrofe, interferiu nos planos de divertimento, e o destino cristão levou-me para um outro lado.
O caso foi que depois do almoço fui conversar com as outras meninas, moradoras do edifício, assessorada evidentemente pelas irmãs menores da referida namorada de meu irmão José. E conversinha vai, conversinha vem, decidimos sair pelas ruas de Niterói, em pleno deserto domingo (naquele tempo, a Cidade de Niterói era muito calma aos domingos), em algazarra juvenil, apenas para apreciarmos os enfeites natalinos, distribuídos ao longo da Avenida principal. A Cidade de Niterói, desde o início de novembro daquele ano fatídico, estava toda enfeitada para o Natal. Enquanto passeávamos pelas ruas de Niterói, perdemos o horário da matinê do Circo. As meninas haviam prometido às mães que voltaríamos em tempo para aprontarmos todas para o espetáculo circense. Distraídas com o passeio e a algazarra, não retornamos no horário prometido, ao contrário, já era o final da tarde quando chegamos ao edifício. Algumas meninas estavam preocupadas, receosas das reprimendas maternas (Se bem me lembro, éramos mais ou menos cinco meninas, soltas e felizes, a passear pelas ruas de Niterói).
Logo que chegamos ao hall do edifício, uma das mães veio me abraçar, chorando, agradecendo-me por ter interferido (inocentemente) nas pretensões dela de ida ao Circo. Segundo esta mãe, ela já estava brava com a demora da filha, pretendendo castigá-la por não ter cumprido o prometido de voltar em tempo para o divertimento, combinado anteriormente. Contou-me que levou um susto daqueles quando ouviu pelo rádio a notícia do incêndio. E agradeceu a Deus a minha inocente interferência.
Foi naquele momento que soubemos da tragédia. Meu irmão estava angustiado, porque o plano dele era irmos ao Circo na parte da tarde (foi Deus que nos protegeu!). Estava angustiado também porque nossa mãe não sabia que o destino de nosso passeio era Niterói. Meu irmão era assim, inventava passeios sem destino previsto. Programava a ida a algum lugar e ia para outro.
Dali, fomos todos ver o cenário da tragédia. Mas o que vi, não quero contar...
De qualquer maneira, por algum motivo fora de minha percepção, eu e meu irmão fomos passear em Niterói no dia do incêndio do Circo.
INCÊNDIO DO CIRCO EM NITERÓI (1961)
Escrito por Blog de Niterói
(http://niteroi.dreanhosters.com/incendio-circo)
“O incêndio do Gran Circus Norte-Americano, uma semana antes do Natal de 1961, deixou cerca de 500 mortos e 120 mutilados. Foi a maior tragédia que Niterói já viveu e causou comoção no mundo inteiro, com votos de pesar inclusive do Papa João XXIII. A cidade ficou traumatizada e só voltou a ver um circo 14 anos depois.
Morreram 372 pessoas na hora e pelo menos 200 feridos foram hospitalizados, a maior parte em estado grave. Muitos destes não sobreviveram. Como não havia espaço no IML de Niterói, vários corpos estavam sendo recolhidos às câmaras de estocagem de carne bovina da Indústrias Frigoríficas Maveroy.” (Texto retirado do Blog de Niterói)
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