1 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - RIO DE JANEIRO, 23 DE SETEMBRO DE 2001
NEUZA MACHADO
(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)
São 18 horas e trinta minutos de um Domingo Iluminado pelo Sol Hipercariocjônio no Brasil Varonil, em um 23 de setembro de 2001, apesar da ameaça de Guerra Mundial que paira no ar. Não sei se haverá a Terceira Guerra Mundial, só vocês saberão, quando esta cartinha aí chegar, no Futuro. Não obstante o Grande Sol que nos ilumina todos os dias, estamos com os nossos corações repletos de nuvens sombrias. O Mundo sofreu o seu pior abalo desde a Guerra do Peloponeso (431 a.C.). Os americanos foram agredidos pelos terroristas invisíveis no último dia 11 de setembro, e prometem agora uma revanche sem igual. As guerras da Antiguidade ― cantadas em famosos versos épicos ― passarão a ser insignificantes diante da hecatombe que se avizinha. Hecatombe, na Antiguidade, era uma palavra que significava “matança de cem bois”. Ainda não conheço uma palavra melhor para significar as carnificinas diárias que ocorrem no Planeta. Já não são cem bois sacrificados em louvor de um determinado deus dos antigos pagãos. Agora, são milhares e milhares de vidas humanas, um sem número de inocentes que pagam pelas brigas, políticas ou religiosas, dos dirigentes do mundo. Mas, a despeito das ameaçadoras nuvens escuras, hoje o Carro de Apolo brilhou na Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro.
O Domingo iluminou-se, porque tive o privilégio de apreciar uma das mais belas Exposições da Arte do Século XX. Neste mês de Setembro, o Rio de Janeiro encarregou-se de hospedar uma boa parte das obras de grandes pintores e escultores do Surrealismo.
Retorno da visita com a inquebrantável certeza de que os ideais dos surrealistas de 1924 deveriam ser reativados. Abalados pela Primeira Guerra Mundial, pregavam a explosão do Continente interior, rejeitando os valores de uma civilização progressista e industrial. A Arte como instrumento de conhecimento de planos não-substanciais da realidade. A apreensão do insólito que se entremeia entre as camadas conceituais do pensamento formal. A invenção de uma escrita nova ― juízos novos, como diria Gaston Bachelard ― com o objetivo de rejeitar a grande prostituta, a razão. Os surrealistas, desconcertados, buscavam no interior das imagens desencontradas, díspares, o fio condutor que proporcionaria ao mundo uma nova ordem. Infelizmente, a desordem, provocada por ideologias desencontradas, continuou imperando no Planeta ao longo do século XX, e, neste início do Terceiro Milênio, ameaça continuar com seus desmandos. As imagens insólitas, que deveriam ficar apenas no plano da arte, tornaram-se reais. Não há mais como separar realidade e imaginação.
Nesta constante necessidade – dos Intelectuais – de nomear novas estéticas, pergunto-lhes, Homens do Futuro: qual será o nome que vocês darão à sensibilidade artística de sua época vindoura? Nesta fase desconcertada de minha tumultuada realidade, os diversos segmentos da Arte, do meu Brasil Varonil e do Mundo Global, se rotulam PÓS-MODERNISTAS.
Enfim, são estas as notícias de hoje. Domingo que vem, enviar-lhes-ei outra Carta. Aguardem-me! Enquanto isto, o Mundo continua a girar em torno do Sol Apolíneo.
Por ora, sem mais o que relatar, envio-lhes o meu cordial abraço.
ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseida, descendentes de Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.
P. S.: Meus Caros Amigos, espero que, no Futuro, estejam lendo e apreciando a minha narrativa ODISSÉIA MARIA. Infelizmente, neste ano de 2001, ainda, não consegui publicá-la. Saibam que, neste meu momento histórico, não é nada fácil publicar livros!
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