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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ODISSÉIA MARIA DE MEADOS ENCANTADOS DO SÉCULO XX FINADO DO BRASIL PENDURADO - 1998 / 1999

ODISSÉIA MARIA DE MEADOS ENCANTADOS DO SÉCULO XX FINADO DO BRASIL PENDURADO - 1998 / 1999

NEUZA MACHADO

OITAVO CANTO - 3

... mas, quomodo eu ia contando,
retomando o fio de Ariadne Amorosa Tecelã,
fui mesmo a Paris?,
Odisséia das Serras de Plantação de Café de Minas Gerais, Carangola,
nascida em um Mês de Novembro de Meados do Século XX, quase clareando o dia,
numa casa mui velha do Bairro de Santa Maria,
pertinho do Velho Pontilhão da Linha Férrea do Trem do Sertão,
Aquele Imponente Pontilhão de Ferro importado da Bélgica no Início do Século XX em questão;
por isto as Grandes Pontes do Destino me atraem e me fazem sonhar;
e fui enrolada numa cobertazinha fuleira de deserdados mineiros altaneiros com sobrenomes pomposos;
e os Astros Fabulosos do Mineiro Patriarcado Passado Fabuloso diziam para eu não comprar promessas políticas, jamais!,
eles diziam que eram falsas promessas, quero dizer,
entretanto, fui acreditando em todas as Promessas Felizes para o Futuro Sem-Muro do Destino Brasileiro do Terceiro Milênio Vindouro,
sabendo que a minha correta evolução e intuição para um Futuro Brasileiro Feliz estava bem diante do meu nariz,
no dia em que os deuses do Sétimo Rei Hammurabi, chefiados por Marduc, o principal da Babilônia, situada na região sumero-acadiana, pronunciaram meu nome,
afirmando-me qu’eu teria um Brilhante Chevrolet Ultra-Pós-Moderno no Futuro das Estradas Bem Pavimentadas Largas e Gloriosas do Futuro Brasil Varonil;
nunca tive chevrolet,
nunca dirigi carro,
mas pretendo aprender a dirigir antes de passar para o patamar de cima,
suspensa entre o antes e o depois daquela Futura Dialética Duração promovida pelo Gaston;
as Parcas Boazinhas de Minas Gerais,
três protectoras-amigas queridas,
confabularam e organizaram minha vida pra lá de desordenada,
minhas três tias queridas e amadas;
caipira da roça e cidadã do Mundo Rotundo-Profundo,
sofrendo Alergia Fatal por este Final de Segundo Milênio Nasal,
atravessando a Ponte Rio-Niterói das Brilhantes Visões,
vendo o Ashley ancorado no Cais;
o meu Imaginário Avião Supersônico voando sobre a Baía de Guanabara-Brasil,
lá longe a Ilha Fiscal dos Bailes Modernos,
onde Grandes Bailes Cheirosos de Ricos Cheirosos foram realizados nas décadas de 40/50,
ouvindo o som irritante da sirene do carro de polícia ultrapassando os carros passantes na Ponte Longitudinal Sem-Igual,
tendo ao fundo a beleza da paisagem,
os pássaros marinhos voando voando voando no infinito bonito interdito,
quero dizer, voando voando voando ao infinito proibido interdito da Fase Final do Século XX Sem Pão e Sem Sal,
buscando o infinito sem fim dos meus sonhos epo-lírico-dramáticos-ficcionais;
hoje, o dia está ensolarado,
por ora e agora, o dia está ensolarado;
o Sol Hiperjônio dos gregos antigos se elevou nos vastos céus do Brasil Varonil
iluminando os eternos deuses de Niterói do Torrão Cor de Anil e os homens mortais;
agora, sem desgraças e palavrões, sim Senhor!,
graças ao meu Deus adorado dos Hebreus e Cristãos!, poderei ver o Almirante Guillén das Histórias Marítimas,
o Itapeba Um e o Segundo também,
bonitos, garbosos;
mas, como eu ia dizendo,
o dia está ensolarado,
atravesso a Ponte Rio-Niterói das Bruscas e Inesperadas Freadas Políticas,
viajando calmamente de Ônibus Brasileiro Por Enquanto Velhíssimo,
neste 08 de Janeiro de 1999;
nunca s’esqueça das Datas do Mundo Profundo, Raimundo!
óh Brasileiro Leitor do Terceiro Milênio Brasileiro Com Fundo,
quero dizer, com dinheiro real em Banco Real;
vejo os navios parados na Baía,
o Pão de Açúcar Brasileiro enriquecendo a paisagem,
o Cristo Redentor abençoando os Cariocas,
abençoando os Fluminenses também;
lá vou eu, Circe Calíope Odisséia Maria das Terras Encantadas de Minas Gerais,
nascida na Zona Guerreira da Mata Mineira;
descendente dos Audazes e Heróicos Caçadores de Onças Pintadas de Amarelo e Preto,
Caçadores de Jaguatiricas Noturnas também;
meu Avô Materno tão terno!,
o Rico e Intrépido Emiliano de Brises Martins Sant’Anna Valente do Clã Valeroso dos Valerosos Romanos Valentes Carangolenses
(naquela época, um rico mineiro de sobrenomes ilustres),
marido de Doña Justiniaña de Ogiges Maria D’Amorim da Grandiosa Dinastia dos Damásios e Amorins Intrépidos da Serra dos Carolas Religiosos de Carangola Frajola,
um Local Sem-Igual, muito amado!,
que faz divisa com São Manuel do Boi Afogado;
Emiliano Romano foi um grande caçador de tatus e capivaras e pacas e jaguatiricas noturnas e onças pintadas de preto e amarelo dourado e et cœtera e tal;
agora, lá vou eu, a famigerada Calíope Deolinda Sant’Anna Grieco Romana Portuguesa Brasilana Carangolana e Mui Divinana,
parenta longínqua da Grã Ilustre Velha Romana,
a matriarca poderosa dos Romanos de Carangola do Passado Ilustrado,
talvez parenta longínqua dos Romanos de Juiz de Fora;
antigamente existiu uma Rua dos Romanos em minha Cidade Natal,
hoje a rua se chama Santos Dummont,
em homenagem a um brasileiro-francês sem-igual,
em homenagem ao nosso famoso brasileiro mineiro inventor do avião;
Graças A Esta Necessária Descendência Tão Ilustre,
lá vou eu viajando no Mundo Rotundo e Profundo também,
Odisséia Maria Cabocla Brasileira Mineira Grega Romana Portuguesa
Africana Divinana e Carangolana das Incontáveis Amoráveis Saudáveis Misturas Genéticas Desejáveis;
os Memoráveis Ilustres Famigerados Famosos e Notáveis Sobrenomes de Família,
no Brasil Varonil Cor de Anil,
são uma questão de identidade nacional universal preconceitual;
nascida na Zona da Mata Mineira Belicosa e Guerreira;
cidadã do Rio Maravilhoso e do Mundo Rotundo também;
lá vou eu, olhando encantada a Cidade de Niterói,
a Niterói dos hiperniteroijônios,
aquela foi berço de um índio famoso, Araribóia, amigo dos airosos franceses;
por isto, a Cidade de Niterói se parece com a França,
por isto, existiu aqui, no passado, uma Loja Samaritana Francesa,
imitação tupiniquim da Samaritain de Paris com certeza;
lá vou eu no Ônibus RJ 117 129, da linha Vila Isabel-São Gonçalo,
apreciando de longe a imponência da Bella Catraia Maria Itajubá ao lado do Almirante Guillén de Acá, meu Amor!;
o Ônibus parou no ponto em frente ao Mercado Sendas de Niterói;
há muitas sendas brilhantes e curvas empoeiradas nos outeiros-olimpos de Niterói;
alguns passageiros desceram e sumiram na poeira dourada luminosa do Sol Hiperniteroijônio da Tarde Esplendorosa,
eles não foram escolhidos por Hammurabi para esta Viagem Brasileira Por Enquanto Sem-Rumo,
não farão parte desta viagem interinfinita interstícia,
os deuses de Hammurabi Babilônico não pronunciaram seus nomes diante do Portal da Maravilhosa Vida Terrestre;
entrementes, neste raríssimo intervalo de tempo,
sur ces entre-faits,
exatamente neste momento,
o Ônibus viaja para o infinito bendito,
rom, rom, rom, room, rom, room, rooom, rooom, quase parando,
devagarquaseparando,
é um Ônibus Brasileiro Por Enquanto Velhinho,
neste Início de Anno de 1999, coitado!,
o Motorista Velhinho só voa de verdade na Cidade do Rio Encantado,
em São Gonçalo, ele vai devagar,
se ele correr, São Gonçalo o castigará com certeza;
agora, atenção!, todos parados no Grande Cruzamento Perigoso do Pensamento Individual e Interdito,
bem no meio do Bairro de Neves Eternas e Crateras Gigantes,
lá vamos nóóós!,
e a minha Alergia do Momento me atacando de novo,
por causa do perfume de político baratinho impregnando o ar,
o perfume barato do político passageiro da frente que fala sem parar em nome da situação do momento angustiante de 1999 replecta de azar,
ou do lado, não sei bem;
eu sou uma doutora sem eira, nem beira,
viajo de Ônibus para ganhar meu sustento,
mas sou descendente de mineiros notáveis sem dinheiro no bolso,
entretanto, mesmo com pouco dinheiro suado,
só uso o caríssimo parfum francês AnaïsAnaïs da Cacharel,
um eau de toilette francês fabricado em New York nos Estados Unidos da América do Norte;
os outros não-doutores do Rio ganham muito dinheiro em 1999;
mesmo assim, sou muito sortuda!,
nasci em Sagitário Flecheiro, o signo da sorte;
tenho a sorte de me sentir muito feliz em meu mundo profundo,
mas, sem deixar de olhar a pobreza geral que me olha de longe, fatal;
entretanto, com todos os problemas de meu Brasil Sem-Igual,
neste Anno Insano de 1999,
só olho verticalmente as estrelas infinitas que estão guardadas no Terceiro Milênio Legal;
não olho nunca para o chão, não senhor!,
não quero ver os cocôs de cachorro espalhados nas calçadas de minha Maravilhosa Cidade,
neste Anno Insano de 1999,
os cocôs de cachorro dos grandes não-doutores cheirosos e de suas finíssimas cônjuges cheirosas;
tenho horror a cocô de cachorro espalhado nas calçadas do Rio,
neste início de 1999, preste atenção!,
não sei quomo esses donos de cachorro não têm vergonha na cara,
deixar cocô de cachorro nas calçadas do Rio;
os hiper-cariocas d’ágora sujam sem piedade as ruas do Rio,
são incapazes de jogar o lixo maldito nas lixeiras públicas,
preferem jogar os copos descartáveis e latas de refrigerantes e sobras de sanduíche no chão da Cidade Maravilhosa;
pobre Cidade!, tãomalamada!;
perdoe-me, Amorzinho do Brasileiro Futuro Sem-Muro!, por tantos entretantos e tantos,
somos seres robotizados neste Final do Segundo Milênio Atrasado,
repetimos e repetimos, quomodo máquinas modernas há muito enguiçadas;
mas, se Você estiver cansado de me seguir,
nesta Viagem sem pontos, parágrafos e paradas de Ônibus,
faça Você mesmo a pontuação!, Meu Irmão!;
Você, óh! Leitor do Terceiro Milênio Cristão!...

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