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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

ODISSÉIA MARIA SEM SOLDO MENSAL NO FINAL DO SÉCULO XX ANORMAL - 1998 / 1999

ODISSÉIA MARIA SEM SOLDO MENSAL NO FINAL DO SÉCULO XX ANORMAL - 1998 / 1999

NEUZA MACHADO

QUARTO CANTO - 5


... mas, como ia contando,
já estamos parados há uns 179 minutos;
este dia de Dezembro de 1998 ficará eternamente marcado em minha memória sem-fim,
este dia ficará marcado para sempre no espaço intermediário de meu Calendário Astrológico da Duração Perpétua,
suspenso no tempo do pensamento individual,
suspenso entre o antes e o depois,
o passado e o futuro,
quomodo um dia me disse o meu inesquecível filosófico amor Bachelard,
momento inesquecível este de 1998,
quomodo ensinou-me o inesquecível francês-camponês,
naquelas tardes excitantes do início dos anos 90,
enquanto eu escrevia uma excitante e ambiciosa tese de doutorado;
neste momento praláde tumultuado!
saí do patamar da Glória Intelectual Sem-Igual,
o meu Título Suado de Doctora Suada não vale muito no Brasil
neste Final de Segundo Milênio Malfadado,
não significa nada no Brasil Varonil,
só os Homens-doutores não Doutores ganham muito muito muito dinheiro em minha Terra Explorada
neste Final de Segundo Milênio Anormal,
defender Tese é em verdade ilusão na Terra do Ão;
no entanto, mesmo assim, defendi a minha vontade inabalável,
a vontade de me tornar uma veirota doutora sem eira nem beira,
a lutar contra o Patriarcal Preconceito que inutiliza a Mulher Brasileira no Brasil Altaneiro;
mas, quomodo ia dizendo,
o meu título de doutora não significa muito por acá,
neste Final de Anno de 1998, no Brasil, quero dizer!,
viajo de ônibus para trabalhar, trabalhar, trabalhar;
no meu caso, significa ganhar o pão,
receber um minguado salário para pagar as contas,
as inúmeras contas e os impostos Impostos altíssimos;
não há jeito de driblar o Imposto de Renda neste 1998,
o Terribilíssimo Felino Voraz;
não há jeito de diminuir o Imposto Predial e Territorial Urbano,
o famigerado IPTU do Brasil Varonil
neste Anno mui louco de 1998;
os inúmeros impostos Impostos me deixam mui louca,
os impostos Impostos para solucionarem os problemas do País Varonil,
e quem paga sempre é o pobre assalariado, existe também o aposentado vagabundo,
ele não tem nem mesmo o sal do salário para temperar a sopa de domingo, coitado!;
se hoje não tem, amanhã deusdará,
amanhã Deus me dará o emprego com ânsia almejada,
almejo trabalhar pertinho de casa,
para não enfrentar esses ônibus lotados e as longas distâncias,
afinal a PVC está em meus calos,
e os velhos aposentados vagabundos morrem nas filas do INSS;
se os velhos não trabalham, são vagamundos
no Mundo Rotundo
e no Brasil Varonil com seus cem vezes seiscentos desempregados mil,
neste Anno Insano de 1998;
assim pensa a brasileira minoria doutora pra lá de privilegiada, endinheirada e cheirosa...

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