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sexta-feira, 30 de julho de 2010

3 - NO MUNDO DOS SONHOS DIMENSIONADOS: O APARTAMENTO-COBERTURA E O HOMEM-ÁGUIA

3 - NO MUNDO DOS SONHOS DIMENSIONADOS: O APARTAMENTO-COBERTURA E O HOMEM-ÁGUIA

NEUZA MACHADO

Nessa época, eu estava recém-separada, depois de um casamento de vinte e cinco anos e três filhos adultos. Para sustentar-me, e para não necessitar de ajuda financeira por parte do ex-marido, trabalhava como professora universitária (trabalho ainda). Depois da separação, aluguei um apartamento em um prédio da Rua Benjamim Constant, no Bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Enquanto aquilo, eu procurava adaptar-me à minha nova realidade existencial. Por vários motivos, naquela época (e por pouco tempo), as minhas noites de sono não eram muito tranquilas, estranhos sonhos e pesadelos povoavam minha mente.

Em uma daquelas noites, vivenciando um sonho por demais nítido, vi-me residindo em uma ampla cobertura, no alto de um prédio de 21 andares. Lembro-me dos andares, pois vi este número, quando saí do elevador para entrar no apartamento. Caminhei por um amplo salão, com poucos móveis, pois o que se destacava era o assoalho castanho-brilhante e as amplas janelas do grande salão.

De repente, olhei para trás e não vi mais a porta de entrada/saída. Estava presa naquele luxuoso ambiente. Mas, as janelas estavam abertas, o dia estava claro em demasia, e existia uma porta que dava para um terraço imaginário (eu não via o terraço, mas tinha consciência de que ele estava ali). Sentia-me angustiada naquele expectante ambiente.

Logo depois, uma águia imensa, preta, com olhos penetrantes, e com o bico assustador, começou a voar em volta das janelas panorâmicas, abertas, do apartamento-cobertura. Voava e me olhava. Dava voltas, voando em círculos diante das inúmeras e largas janelas, e me olhava fixamente. O seu tamanho era assustador. Às vezes, a imensa ave planava, com as asas abertas, imóvel no ar, em minha direção e em sentido frontal, olhando-me sempre. Em contrapartida, eu também a olhava admirada e com preocupação. Eu sabia que ela estava ali por minha causa. Encolhi-me em um canto do salão, esperando que ela entrasse por uma das amplas janelas ou pela porta do terraço, para agredir-me ou coisa pior.

Ainda acuada, em um cantinho do salão, vi a grande águia entrando pela porta do terraço. O chão, brilhante, encerado, metálico, refletia a estranha criatura.

Era uma ave alta e magra, com aspecto de homem e cabeça de águia. Lembrava uma figura medieval, com a cabeça coberta, como se fosse um capelinho preto confundindo-se com a cabeça de ave, e a longa túnica preta confundindo-se com as penas pretas. Usava coturnos medievais, pretos, que se confundiam com os pés próprios de uma ave. As asas negras, caídas ao longo do corpo, como se fossem braços, se ajustavam a uma espécie de forma masculina. O homem-águia veio se aproximando de mim, lentamente. O medo que eu sentia desapareceu, como que por encanto. O grande homem-águia abriu as asas para abraçar-me. Senti-me leve e protegida, aninhada em seus braços. Não sei dizer se, no final, eram asas ou braços. Mas, a face era de águia, com bico, olhos, e tudo o que representa essa imensa ave.

Depois do sonho: Não me lembro de ter saído daquele reconfortante abraço. Não me lembro de ter saído daquele grande salão.

Ainda hoje, sinto-me protegida ao me recordar daquele intrigante abraço. Imagino que o meu Anjo da Guarda possua a forma de um Homem-Águia (e não acredito que seja um Anjo maléfico).

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