4 - NO MUNDO DOS SONHOS DIMENSIONADOS: A VIAGEM
NEUZA MACHADO
Nessa época, eu já estava morando na Rua Garibaldi, na Tijuca. Ali, muitos sonhos interessantes povoaram as minhas noites, pois o prédio onde se localizava o meu apartamento era muito silencioso. Aos poucos, pretendo relatá-los.
Em um deles (um sonho inesquecível!), eu estava a sair de casa na parte da manhã. Ia ministrar duas provas na Universidade em que eu trabalhava. No sonho, eu me vi saindo pelo portão de entrada/saída do referido prédio, na Tijuca (estava a morar ali há pouco tempo).
Então!!! Há poucos meses, moradora da Tijuca.
Estava indo para o trabalho (no sonho, naturalmente!), para ministrar as ditas provas.
Em um segundo movimento do sonho, no intervalo de uma prova para a outra (lembro-me perfeitamente da movimentação em sala de aula, com os alunos compenetrados a fazer a prova, etc.), por algum motivo inexplicável, saí rapidamente, pretendendo voltar logo a seguir.
Em um terceiro impulso agitado do sonho, já na rua, comecei a caminhar a passos rápidos. Como estava com muita pressa, um jovem motorista, desconhecido, que passava por ali em seu automóvel, diminuiu a velocidade do veículo e se aproximou de mim, oferecendo-me um grande embrulho. Quando abri o embrulho, vi que eram passagens de metrô, acomodadas em tiras compridas, subdivididas, para serem destacadas, ou seja, tiras de passagens semelhantes a invólucros de band-aid. Logo a seguir, deu-me carona até ao Viaduto que fica antes da Praça Onze (o famigerado Viaduto Paulo de Frontim). O carro esporte vermelho chamava a atenção dos passantes. Em um determinado momento, saí do carro vermelho, agradecendo a carona.
Em mais uma deslocação sonambúlica, já ia atravessar a rua movimentada quando, na terceira passada, um grande carro bateu violentamente em mim. Como não sofri nada, atravessei a rua e continuei, tranquilamente, o meu caminho, a direção do ponto de ônibus.
Nova e diferente agitação ao longo do sonho: De repente, ao invés de estar no ponto de ônibus, vi-me em um quartinho apertado e estranho, onde algumas pessoas, em fila indiana, esperavam para comprar a passagem. Fiquei na fila unicamente para não perder a minha vez de entrar naquele lugar desconhecido, pois já possuía a passagem.
Uma senhora negra, usando um esvoaçante vestido colorido, era a primeira da fila, e se encontrava rente a uma porta metálica. Eu era a sexta. Em um abrir e piscar de olhos, quando olhei à minha volta, o quartinho estava cheio de pessoas que esperavam o metrô.
Meio acuada, naquele apertado compartimento, olhei para cima, obliquamente, e, no teto do quartinho, vi uma pequena janela, na qual uma mulher observava-me fixamente. Ao ser surpreendida por mim, fechou a abertura.
Nisto, ouvi o barulho de uma locomotiva e, imediatamente, a senhora preta do vestido esvoaçante tentou abrir a porta. Conseguiu abri-la e quase foi lançada em direção ao nada. Isto, porque o quartinho já estava a se movimentar. Não me lembro dos detalhes, mas, milagrosamente, a dita senhora continuou dentro do quartinho. Logo a seguir, o quartinho apertado se transformou em um vagão de trem. Entretanto, não havia plataforma, não havia trilhos, não havia estação. A senhora preta do vestido colorido esvoaçante afastou-se um pouco e a porta fechou-se como se fosse encantada.
O quartinho-vagão corria velozmente, em aclive, sempre em aclive, sobre trilhos imaginários. Visualizei cenários incríveis (janelinhas panorâmicas apareceram, durante a viagem), parecidos com as terras de faroeste americano. A terra era vermelha e poeirenta, e o quartinho-vagão corria velozmente, sempre em aclive.
Olhei novamente os passageiros e dei de cara com o rapaz loiro, belíssimo, aquele que me havia dado o embrulho com os bilhetes e me oferecido carona em seu automóvel vermelho brilhante. Não sei como, ele também estava no quarto em movimento, e o carro vermelho também.
Gritei para ele (o barulho do trem era insuportável) que eu não iria conseguir voltar em tempo hábil para ministrar a segunda prova. Ele, aos gritos, respondeu-me que não me preocupasse, pois haveria tempo sobrando, que aproveitasse o máximo do passeio, pois era relaxante, e eu estava precisando de um longo período de repouso.
Não saí do quarto-vagão. Acordei repentinamente!
Agora, a relembrar-me do sonho, penso que, até hoje, a minha vida sempre correu velozmente sobre trilhos imaginários, em meio a infindáveis promessas de felicidade. De vez em quando, em períodos cíclicos, nos anos posteriores ao acontecimento, reflexivamente e racionalmente, detive-me (detenho-me ainda) para consertar alguns trilhos descarrilados.
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