ODISSÉIA MARIA INTELECTUAL SERTANEJA DO FINAL DO SÉCULO XX – 1998 / 1999
NEUZA MACHADO
... hoje, 12 de dezembro de 1998,
véspera do dia de Santa Luzia,
minha padroeira,
a padroeira de minha cidade natal
perdida nos confins da Zona da Mata de Minas Gerais,
enfim, repito,
hoje, não quero falar de coisas tristes,
neste Final de Século e de Milênio,
só as alegrias valem lembranças;
por isto, recordar Paris será glorioso,
principalmente o Hôtel Gerson, 14, rue de la Sorbonne,
um Hotel de Professores e Estudantes Desabonados em Paris,
onde vivi os momentos mais importantes de minha vida terrena,
ouvindo os suspiros de amor dos amantes parisienses;
eles, os parisienses, não têm vergonha de demonstrar em alto som seus momentos de incríveis paixões;
Paris, de madrugada,
eu, ali em Paris,
professora sofressora do Brasil Varonil dos Annos Noventa,
ouvindo os gemidos de amor de um casal qualquer no quarto vizinho,
a amante parisiense exaltada gritou de prazer duas horas seguidas,
seu furor uterino espalhado sonoramente na madrugada de Paris,
o amante parisiense amoroso retribuiu com barulhentos beijos estalados;
e também as brigas sexuais dos gatos parisienses nos parisienses telhados;
enfim, solitariamente em Paris,
ouvindo infeliz os amantes felizes;
mas o que é isto?!,
sou tremendamente feliz!,
por que abominei o casal francês desconhecido?!,
sou uma mulher livre e viajo e canto na hora que bem desejo,
sou uma egocêntrica descendente de Bravas Caçadoras de Onços Pintados, Jaguatiricos Noturnos e Gattos do Mato de Minas Gerais,
heroína brasileira fragmentada de um mundo brasileiro fragmentado
no final do Século XX,
uma Mulher-Somatório de todas as Mulheres-Heroínas do Brasil Varonil do Malsinado Século XX...
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