1 - MÁRIO DE ANDRADE: UM VISIONÁRIO?
NEUZA MACHADO
Vamos conhecer o Brasil dos anos iniciais do século XX lendo trechos dos textos literários de Mário de Andrade, “Lira Paulistana”, “Café - Concepção Melodramática (Em Três Atos)”, “Café - Tragédia Secular - O Poema” e, por último, a “Primeira Versão Pra Ser Musicada”, inseridos no livro Poesias Completas, 5. ed., Belo Horizonte: Itatiaia, 1980: 281- 375.
O livro Lira Paulistana (escrito entre o período de 30 de novembro de 1944 a 12 de fevereiro de 1945, segundo a anotação da edição de 1980, na página 314) foi publicado em 1945 e o texto “Café - Concepção Melodramática (Em Três Atos)” traz a data de 15 de dezembro de 1942. Os outros dois textos não têm datas assinaladas na edição de 1980, mas são intrínsecos ao primeiro de 1942.
Pelo meu ponto de vista, penso que é de vital importância que os brasileiros mais jovens tomem ciência de que o Brasil mudou muito (e para melhor!) nesses últimos oito anos de Governo Lula. Alguns dos muitos históricos problemas existenciais de nosso passado, assinalados por Mário de Andrade em sua obra literária de altíssimo nível, por ora ainda persistem, mas assino este meu texto com a clara certeza de que o Povo Brasileiro vai continuar em sua luta por um Brasil melhor.
Assim pensando, convido os meus leitores-internautas — os que apreciam as infalíveis “verdades” da literatura — para uma reflexão sobre o assunto lendo a Obra Completa de Mário de Andrade, pois, para muito além das Verdades Jornalísticas e/ou Históricas, a Literatura Atemporal (Literatura-Arte) continua e continuará sempre a desmascarar as hipocrisias político-sociais de todos os tempos.
No correr das leituras, peço aos seguidores deste meu Blog que reflitam e repensem os trechos da obra de Mário de Andrade aqui assinalados e, ao final, quem sabe?, os meus Leitores poderão assentir ao meu questionamento: Mário de Andrade, um Visionário?
Agora, os trechos mais importantes para as reflexões pertinentes:
Trechos retirados do livro Lira Paulistana:
“Minha viola quebrada, / Raiva, anseios, lutas, vida, / Miséria, tudo passou-se / Em São Paulo”, p. 282 (São Paulo: palco da vida do poeta)
“A forma do futuro / Define as alvoradas”, p. 282 (São Paulo: estampa do Futuro)
“Garoa do meu São Paulo, / — timbre triste de martírios — / Um negro vem vindo, é branco! / só bem perto fica negro, / Passa e torna a ficar branco”, p. 282 (São Paulo: preconceito racial ativado; jogo de sombras e as máscaras faciais encobertas pela garoa; garoa como símbolo fortíssimo para refletir a realidade da cidade)
“Meu São Paulo da garoa, / — Londres das neblinas finas ― / um pobre vem vindo, é rico! / Só bem perto fica pobre, / Passa e torna a ficar rico”, p. 182 (São Paulo/Londres - cidades semelhantes: apesar dos preconceitos sociais, existe neblina nas duas cidades; a neblina da garoa iguala as pessoas; pobres e ricos são iguais sob a garoa de São Paulo e sob a garoa de Londres)
“Garoa de meu São Paulo, / ― Costureira de malditos ― / Vem um rico, vem um branco, / São sempre brancos e ricos...”, p. 132 (São Paulo: cidade só de brancos e ricos)
“Garoa sai de meus olhos” - verso solto, p. 132 (com esta frase solta, o poeta se propõe a chamar a atenção do leitor; ele não deseja ser hipócrita, não deseja fechar os olhos diante das injustiças sociais, quer criticar poeticamente a cidade)
“Vaga um céu indeciso entre nuvens cansadas, / Onde está o insofrido?”, p. 283 (INSOFRIDO = uma pessoa pouco paciente no sofrimento, inquieta, indomável)
“Toda forma de ação se esvai numa atonia, / Há desamparo e aceitação do desamparo”, p. 283 (naquele momento, o povo paulista/brasileiro estava desamparado e fraco, aceitando a triste realidade).
ONDE ESTAVA O “INSOFRIDO”, O INDOMÁVEL?
(Aguardem novas leituras! Enquanto preparo as outras postagens, peço-lhes que leiam a Obra Completa de Mário de Andrade. Vocês poderão comprar os livros de Mário de Andrade nos Sebos-Livrarias/Livros usados. São baratinhos! Os bons livros não são valorizados pela Indústria Cultural do Brasil!)
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