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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

AS MENINAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES - ESTRUTURA FICCIONAL INOVADORA - 15

AS MENINAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES - ESTRUTURA FICCIONAL INOVADORA - 15

NEUZA MACHADO

Em narrativas de constituição alógica, não há como distinguir a estrutura linear que caracterizou as narrativas exemplares das comunidades fechadas do passado (ainda reportando-me a Walter Benjamim), observa-se mais a fragmentação textual – na qual inexiste a coerência temporal de uma narrativa com princípio, meio e fim – em que a totalidade narrativa fica restrita à compreensão do leitor. As imagens do texto – menores ou maiores – são, na verdade, o elo desta fragmentação discursiva que tão bem representa este século de desordenadas atitudes existenciais. Assim, as palavras revelam mais do que o texto, mesmo obscuras e aparentemente ininteligíveis, mesmo aparentemente enigmáticas, impulsionando o leitor a um questionamento exaustivo, desde o princípio de sua leitura. Se observo tais textos pela ótica cientificista, percebo que nessas narrativas não há espaço para a mímesis enquanto recriação da realidade. Cada escritor se posiciona inversamente, porque a realidade social que deseja apreender já é, por si mesma, absurda e insólita.

Em relação ao texto ficcional de Lygia Fagundes Telles (As Meninas), além do problema político brasileiro que a circundava (enquanto escritora-ficcionista), problema esse inserido nas linhas e entrelinhas de sua narrativa, a realidade do Mundo, em seus aspectos gerais, já se revelava absurdamente incompreensível, se penso no veloz progresso tecnológico do século XX e nas viagens interplanetárias que mudaram a face do Universo. Apesar da rápida transformação do Mundo, apesar do grito de emancipação da mulher nos países mais avançados, as mulheres brasileiras, nesse período de tristes lembranças (anos de 1960), não tinham voz, os jovens não tinham voz, o povo brasileiro não tinha voz, já que a voz que atuava era a do poder arbitrário, concentrada num grupo armado, com poderes de vida e de morte. Lygia dá o poder de voz às suas meninas, retirando criativamente (através de narrativa ficcional) o poder substancial de seu narrador em terceira pessoa. Evidentemente, não se detectam fatos históricos ao longo da narrativa. Estes são visualizados e interpretados extratexto, por intermédio das frases codificadas, reavaliadas fora do texto, por um analista-intérprete que possua, pelo menos, um pouco de conhecimento histórico dos desarranjos políticos da época.

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