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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

AS MENINAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES - ANA CLARA/ANA TURVA: UMA NÓDOA SOCIAL NO BRASIL DOS ANOS DE 1960 - 7

AS MENINAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES - ANA CLARA/ANA TURVA: UMA NÓDOA SOCIAL NO BRASIL DOS ANOS DE 1960 - 7

NEUZA MACHADO

Em relação à narrativa ficcional As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, cabe lembrar a atuação de Lorena, personagem sonhadora e frágil, quase criança desprotegida, e que, em face da morte, transformou-se numa mulher repleta de iniciativas e soluções. Mas, foi em Ana Clara (personagem nitidamente ficcional, de puríssima arte literária), como já foi dito, que a autora concentrou toda a sua força criativa. Por meio da personagem, e dentro de uma perspectiva totalmente paradigmática, apontou uma nódoa social de terríveis consequências para o Brasil dos anos de 1960 em diante: a miséria transformando jovens indefesas em prostitutas e toxicômanas. Ana Clara/Ana Turva simboliza a inocência juvenil sendo maculada por uma realidade deprimente. A denúncia desta realidade adquiriu vigor e ultrapassou as barreiras da linearidade, porque foi formalizada textualmente sob a proteção do discurso criativo, foi recriada pelo imaginário-em-aberto de quem a idealizou, apesar de ser uma questão dolorosamente real.

Não será demais lembrar que os escritores da época estavam todos sob suspeita. A ditadura militar não perdoava aos infratores das normas preestabelecidas em seus desumanos estatutos. Mas, paradoxalmente, a narrativa de Lygia conseguiu se livrar da censura rigorosíssima dos anos de 1970, recebendo, inclusive, os aplausos dos críticos conscientes e um honroso prêmio literário. Os censores do Regime Militar, felizmente, não possuíam conhecimentos teórico-críticos suficientes para entenderem as linhas e entrelinhas do texto ficcional de Lygia. Isto, porque a escritora, criativamente, desenvolveu um discurso enigmático, diferente, centrado na intertextualidade, marca das narrativas que predominaram na época da Ditadura Militar.

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