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sábado, 22 de janeiro de 2011

2 - MÁRIO DE ANDRADE: UM VISIONÁRIO?

2 - MÁRIO DE ANDRADE: UM VISIONÁRIO?

NEUZA MACHADO

Nesta segunda parte de minha argumentação ― sobre uma provável capacidade poética de Mário de Andrade de pré-anunciar o futuro ―, continuarei a destacar alguns trechos importantes do livro Lira Paulistana, fazendo ao lado de cada trecho distinguido alguns comentários reflexivos.

Vale lembrar-lhes que estou a trabalhar gradativamente. Muitas outras indagações e surpresas serão postadas paulatinamente nas futuras publicações (nítidas impressões de que Mário de Andrade, por meio de sua ímpar poesia, previu alguns acontecimentos de nossa atual realidade brasileira, nestes anos iniciais do Terceiro Milênio).



Por enquanto, repenso estes versos de Mário de Andrade escritos em momento de especialíssima inspiração poética:

Vaga um céu indeciso entre nuvens cansadas, / Onde está o insofrido?”, p. 283 (como já assinalei na postagem passada, a palavra INSOFRIDO neste verso representa uma pessoa pouco paciente no sofrimento, uma pessoa inquieta e indomável)

E a busca ao INSOFRIDO CONTINUA:

Ruas do meu São Paulo, / Onde está o amor vivo, / Onde está?”, p. 283 (por meio de versos à moda de medievais cantigas paralelísticas, o Poeta indaga: Onde está o INSOFRIDO com seu AMOR VIVO repleto de VITALIDADE, ENERGIA, VIGOR. Onde está?)

Caminhos da cidade, / Corro em busca do amigo, / Onde está?”, p. 283 (Em meio à “fugacidade da vida”, o Poeta pergunta onde está o INSOFRIDO AMIGO com sua ENERGIA e VIGOR?)

Ruas do meu São Paulo, / Amor maior que o cibo, / Onde está?”, p. 283 (Procurando nas ruas de São Paulo, o Poeta pergunta: Onde está o INSOFRIDO COM SEU AMOR MAIOR QUE O CIBÓRIO, o imensurável recipiente onde se guardam as hóstias consagradas? Onde está?)

Caminhos da cidade, / Resposta ao meu pedido, / Onde está?” p. 283 (Os caminhos da própria cidade terão de dar a resposta à indagação do Poeta: Onde está o INSOFRIDO?)

Ruas do meu São Paulo, / A culpa do insofrido, / Onde está?”, p. 283 (Segundo o Poeta, as próprias ruas de São Paulo terão de explicar o porquê de o INSOFRIDO ― aquele que se rebela e que não aceita tanto sofrimento e pobreza e, por tal razão, é punido pela rica sociedade ― ser tachado de culpado. Onde está a resposta ao pedido do Poeta? Onde está o "estigma" que o torna desmerecido? Está nas ruas de São Paulo? Está no passado de São Paulo? Está no passado do Brasil?)

Há de estar no passado, / Nos séculos malditos, / Aí está”, p. 283 (Para o Poeta, o INSOFRIDO é aquele que está repleto de AMOR VIVO, pleno de INSUBMISSÃO e ENERGIA, é aquele que ele procura nas ruas de São Paulo ― em meio ao marasmo dos pobres que “aceitam o desamparo” ―, o INSOFRIDO é aquele que tem consciência de que se há um presente repreensível é por culpa de um passado de desmandos. O passado disseminado reflete o sofrimento presente do Povo subjugado)

Abre-te boca e proclama / Em plena praça da Sé, / O horror que o Nazismo infame / É”, p. 284 (Aqui, o Poeta conclama o INSOFRIDO oprimido para uma tomada de posição: “Abra-TE boca” contra a Guerra, contra os que se supõem Grandes e Abastados, contra os que impõem inúmeros sofrimentos aos menos favorecidos. Abra a TUA boca, óh! INSOFRIDO!)

Abra-te boca certeira, / Sem piedade por ninguém, / Contra os crimes que o estrangeiro / Tem”, p. 284 (Aqui, o imperativo na segunda pessoa verbal; o “tu” é o Outro, o INSOFRIDO procurado pelo Poeta; aquele que com sua BOCA CERTEIRA irá resolver os futuros problemas dos oprimidos: “Abra tua boca certeira e conte os crimes que o estrangeiro tem” ― qualquer semelhança com o que está acontecendo agora em nível mundial, é mera coincidência!)

Mas exalta as nossas rosas, / Esta primavera louca, / Os tico-ticos mimosos, / Cala-te boca”, p. 284 (E eis o pedido final ao INSOFRIDO: Que ele abra a boca contra as injustiças e os desmandos, mas sem esquecer de valorizar o seu chão, as belezas que existem ao seu redor, SEM ESQUECER DE AMAR A SUA CIDADE, O SEU ESTADO, O SEU PAÍS).

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