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domingo, 23 de janeiro de 2011

3 - MÁRIO DE ANDRADE: UM VISIONÁRIO?

3 - MÁRIO DE ANDRADE: UM VISIONÁRIO?

NEUZA MACHADO

Ainda pedindo aos meus leitores que reflitam e repensem os trechos e os poemas da obra de Mário de Andrade aqui assinalados, e acreditando que, ao final, quem sabe? (os que me honrarem com suas leituras), poderão assentir ao meu questionamento: Mário de Andrade, um Visionário?

E eis Mário de Andrade, naqueles anos de 1940, singularmente e sob a proteção da poesia, desmitificando a sua grande cidade de São Paulo. Então, pergunto aos leitores reflexivos: O que ficou? O que mudou nesses anos todos em relação ao que Mário escreveu sobre aquela grande cidade ou mesmo em relação ao Brasil? Pensem e repensem: Os versos seguintes (não se esqueçam!) foram escritos em meados dos anos de 1940 (Op. cit.: 286).


“Eu nem sei se vale a pena
Cantar São Paulo na lida,
Só gente muito iludida
Limpa o gosto e assopra a avena,
Esta angústia não serena,
Muita fome pouco pão,
Eu só vejo na função
Miséria, dolo, ferida,
Isso é vida?

São glórias desta cidade
Ver a arte contando história,
A religião sem memória
De quem foi Cristo em verdade,
Os chefes nossa amizade,
Os estudantes sem textos,
Jornalismo no cabresto,
Tolos cantando vitória,
Isso é glória?

Divórcio pra todo lado,
As guampas fazem furor,
Grã-finos do despudor,
No gasogênio empestado,
Das moças do operariado
São os gozosos mistérios,
Isso de ter filho, néris,
E se ama seja o que for,
Isso é amor?

Mas o pior desta nação
É ter fábrica de gás
Que donos-da-vida faz
Ianques e ingleses de ação,
Tudo vem de convulsão
Enquanto se insulta o Eixo,
Lights, Tramas, Corporation,
E a gente de trás pra trás,
Isso é paz?

Pois nada vale a verdade,
Ela mesma está vendida,
A honra é uma suicida,
Nuvem a felicidade,
E entre rosas a cidade,
Muito concha e relambória,
Sem paz, sem amor, sem glória,
Se diz terra progredida,
Eu pergunto:
Isso é vida?"

(Mário de Andrade)

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