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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

8 - SOBRE O PAULISTANO RIO TIETÊ DE MÁRIO DE ANDRADE - 5

8 - SOBRE O PAULISTANO RIO TIETÊ DE MÁRIO DE ANDRADE - 5

NEUZA MACHADO

Hoje, vamos a ler o último trecho deste longo poema que nos foi legado por Mário de Andrade, quando nos anos quarenta (lembrem-se sempre das datas: anos de 1940) meditou sobre o triste “curso das águas” do Rio Tietê:


A MEDITAÇÃO SOBRE O TIETÊ

Mário de Andrade


São formas... Formas que fogem, formas
Indivisas, se atropelando, um tilintar de formas fugidias
Que mal se abrem, flor, se fecham, flor, flor, informes, inacessíveis,
Na noite. e tudo é noite. Rio, o que eu posso fazer!...
Rio, meu rio... mas porém há-de haver com certeza
Outra vida melhor do outro lado de lá
Da serra! E hei-de guardar silêncio!
O que eu posso fazer!... hei-de guardar silêncio
Deste amor mais perfeito do que os homens?...
Estou pequeno, inútil, bicho da terra, derrotado.
No entanto eu sou maior... Eu sinto uma grandeza infatigável!
Eu sou maior que os vermes e todos os animais.
E todos os vegetais. E os vulcões vivos e os oceanos,
Maior... Maior que a multidão do rio acorrentado,
Maior que a estrela, maior que os adjetivos,
Sou homem! vencedor das mortes, bem-nascido além dos dias,
Transfigurado além das profecias!
Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança,
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
Que sobe e se espraia, levando as auroras represadas
Para o peito dos sofrimentos dos homens.
... e tudo é noite. Sob o arco admirável
Da Ponte das Bandeiras, morta, dissoluta, fraca,
Uma lágrima apenas, uma lágrima,
Eu sigo alga escusa nas águas do meu Tietê.

(30-XI-44 a 12-II-45)

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