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sábado, 15 de janeiro de 2011

AS MENINAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES - UMA REALIDADE ABSURDA COMO BASE DE ÍMPAR FICÇÃO - 16

AS MENINAS DE LYGIA FAGUNDES TELLES - UMA REALIDADE ABSURDA COMO BASE DE ÍMPAR FICÇÃO - 16

NEUZA MACHADO

A narrativa ficcional de Lygia Fagundes Telles (As Meninas) é ambígua, estranha, entrelaçada, de pouca compreensão, se a comparo com a História Oficial dos anos de 1960/70, porque a realidade daquele momento era também obscura e de difícil percepção em relação aos tristes acontecimentos que ocorriam nos porões da Ditadura. Cada pessoa possuía a própria verdade e, ao mesmo tempo, a verdade não pertencia a ninguém. Por estas razões, no texto ficcional de Lygia, a verdade é uma prerrogativa de cada personagem-narradora, uma vez que o narrador oficial está limitado pelos acontecimentos da época, ainda não solucionados historicamente. O narrador oficial, aquele que aparece, às vezes, em terceira pessoa, era onisciente, conhecia intimamente a realidade que o cercava, mas, preso às severas exigências políticas, não pode dar um parecer verossímil sobre o que ainda estava acontecendo. O período de ditadura militar, iniciado em 1964, só foi concluído historicamente em 1984. Assim, envolvidas por uma realidade absurda, as meninas da narrativa viviam também uma vida estranha, pois estavam confinadas no Pensionato de religiosas católicas sem perspectivas de vida saudável no centro da sociedade brasileira, naquela época repleta de imposições bélicas.

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